sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A piada como arma política

                                

          Há um braço auxiliar para a mentira como arma política.  Emily Nussbaum consagra no New Yorker de 23 de janeiro um artigo que tentarei sumarizar abaixo sobre como atua a piada, posta a serviço da visão política fascistóide de Donald Trump.               
            Nesse sentido, muito se escreveu acerca do crescimento no espaço cibernético de notícias falsas (invenções que deslocam os fatos). Assim, através da net  passar-se como notícia que Hillary teria instalado uma rede para a venda de droga disfarçada em cadeia comercial.
           Por outro lado, muita análise de Trump como estrela da realidade (i.e., um falso autêntico).

          Segundo Nussbaum, no passado a comédia poderia ser ou cruel, ou estúpida, mas tomaria sempre a posição do rebelde. Os nazistas eram despojados de qualquer humor. Assim, a piada seria  um modo superior de relatar a verdade.
             Mas em 2016 as coisas haviam mudado.  A roda girava noutro sentido. Agora, quem segura o microfone é o latagão neofascista, que dispõe de um exército de criadores de piadas-sujas que o ajudam no caminho do poder.

              O emprego do humor com Trump muda na campanha de 2016. Ele passa a ser o cômico do insulto, a quem preocupam os percentuais de apoio, e que consegue calar no grito os que tencionam bagunçar a sua apresentação.
                Como todo cômico de estádio esportivo, a marca distintiva de Trump foi o controle.  Ele parecia meio solto à primeira vista, o louco que pode dizer não importa o quê, mas os seus monólogos improvisados estavam sempre sendo mexidos, enquanto ele testava frases de impacto: prendam ela! (quer dizer Hillary), levantem uma parede!
                  O seu escopo era mexer. arrancar  reações da multidão. As suas piadas são instrumentalizadas tanto no tuíter, quanto na tevê para expressar o indizível, sem que nada lhe aconteça.

                    Segundo Nussbaum, numa piada de campanha, Trump mistura dois fatos, ambos potencialmente nocivos para a adversária democrata: "Eu espero que você Rússia possa encontrar os trinta mil e-mails que estão faltando".  Circulava já o rumor de que os hackers russos tinham invadido o arquivo digital do Diretório do Partido Democrata. Por outro lado, Hillary era objeto de interminável busca nos e-mails que ela arquivara no seu servidor particular do computador,  quando chefiara o Departamento  de Estado.
                     O amálgama desses dois fatos produzia uma mentira, que parecia engraçada -  e que prejudicava a rival Hillary.

                    No entanto, uma vez ganha a eleição, as prioridades mudam para Trump.  Nas conferências de imprensa, não há mais lugar para piadas. Assim, quando Jim Acosta, da CNN, tentou inserir  pergunta sobre a Rússia, Trump,  num repente zangado, grita de volta "Notícias falsas!" - e o novel Secretário de Imprensa, Sean Spicer, diz para Acosta que se ele fizer algo parecido no futuro, será posto para fora da sala.
                       Agora os interesses mudaram, e não há mais tempo para piadas.



( Fonte:  The New Yorker, Como as piadas venceram a eleição,  23 de janeiro de 2017 )

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