segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Fábula escolar

                                                

      Menina-e-moça ela tinha entrado no colégio.  Vestia roupas surradas, calçava sapatos cambaios, e sendo encabulada, não mostrava o rosto, que trazia quase sempre inclinado.
      Fazia assim o jeito do eu-sozinha. As outras garotas a evitavam, porque sequer se interessara em aproximar-se delas no recreio.
      Como a carimbaram de esquisita, riam dela pelas costas, e a deixavam de lado. Já os meninos, ao ver-lhe a aparência e o jeitão, tampouco mostravam interesse em sequer trocar palavra ou até um alô com a guria.
     Pois assim a chamavam, como é hábito no Sul.
     Tão reservada era, que os dois grupos passaram a ignorá-la, como se  não fosse da turma.
      Havia, no entanto, um garoto que, por algum motivo, a achou interessante. Embora fosse diferente dela, tanto nas próprias roupas, quanto na naturalidade com que se relacionava com todos, ele não tardou em manter com ela boas relações.
      Os demais, que a olhavam de viés, trocando em voz baixa as próprias impressões - em que concentravam o menosprezo do grupo por aquela estranha esquisitona - logo notaram que João a tratava com o mesmo jeitão aberto que a todos dispensava.
     Como João fosse robusto e afirmado, meninas e meninos do grupo se calavam sobre as vezes em que o encontravam conversando com a estranha.  Assim a chamavam, quando em grupo, e não lhes fazia mossa que ela ouvisse.
      Já chegavam ao final da primeira semana em que ela frequentava a escola, quando um incidente aconteceu.
   
         Em todo grupo, há sempre alguém mais espevitado e mesmo abusado. Estava Maria perdida em pensamentos no recreio,  quando dela se aproximou outro rapaz, com largas passadas.  Como ela sequer se desse conta, ele acercou-se mais e, de raspão, aplicou-lhe ombrada que quase a faz perder o equilíbrio.      
        
            "Desculpe", disse, rindo, o valentão.
             João estava por perto.
             "Maria, você está bem?"
             "Não foi nada, João."
             "Como não foi nada? Vou dar uma lição nesse sujeito."
           
              Então, por primeira vez, Maria mostrou o rosto. Sorria.
              "Não caia nessa, João. Ele não merece a tua atenção."
               Em verdade, ele mal lhe ouviu as palavras.
               Com efeito, a sua atenção voara para vistas mais prazenteiras.
         
             No sorriso, Maria desvela a plácida beleza que até então teimara em ocultar.
       
             E João viu como podem ser enganosas as primeiras impressões.  

                                                 

                                         *              *               * 

A confusão do Oscar

                              

       A encenação é anual. A sala cheia de soirée do Oscar, a festa grande do cinema americano.  Homens de smoking, mulheres em vestidos de gala.
       Para muitos, é a glória. Ou o nicho para instante de brilho na mídia.
       É a festa do Oscar.  Em que os apresentadores mudam, mas o cenário, não.
       Ou pelo menos até ontem.
       Porque se há suspense nessa cerimônia da realeza virtual em Hollywood, a abertura do envelope tudo resolve. Ou era assim até ontem.
       Quando a confusão se instala, na hora da concessão do prêmio ao melhor filme.  E o Oscar vai para ... hesitação do mestre de cerimônias, que é Warren Beatty!
       No final, o momento-chave  é desmoralizado pelo anúncio errado. Não é La La Land, como se antecipara o ano todo, mas sim Moonlight !  
       Eis que a dúvida se instala. O anúncio, que partira como um raio, fulminando ambições e confirmando esperanças, agora é posto em dúvida  por uma senhora confusão que joga a dúvida em anúncios futuros...


( Fonte:  The New York Times )

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Quadros do Carnaval

                              

         De uns anos para cá,  minha visão do carnaval mudou. Na verdade, passam  os anos e  teu quadro tem que modificar-se.
         É difícil lembrar do meu primeiro carnaval. Foi,talvez, no Rio Grande. Carnaval de cidade pequena.  Muita gente na rua. Os carros passavam no corso, muitos foliões nos estribos - naquele tempo os automóveis tinham estribos, até largos, de onde moças e moços jogavam confete e serpentina.
          Mais tarde, estou em Porto Alegre. Fomos para onde? Talvez a Rua da Praia. Os cordões passavam e os blocos também.
          Cuidado, meu filho, com o lança-perfume. Tem gente ruim que mira nos olhos.
           Depois, a primeira festinha. Puseram-te uma fantasia: tirolês?
           Então,vem um ano em que vejo de longe o carnaval. Minha mãe está de luto; meu pai partiu.
            Nos anos seguintes, no Rio Grande, as brincadeiras voltam. Serpentina, confete lança-perfume.  Na cidade pequena, passam os corsos,  jogam confete  e tens de escapar do lança-perfume.
            Depois da viagem ao Rio, as férias - e o carnaval - são para mim na Paulicéia. O tio-padrinho te leva à avenida Paulista, mas gostas mais das festinhas dos clubes. Correria nos cordões, confetes, a brincadeira do lança-perfume.
             No ano seguinte, no aperto das mesinhas, e a corrida nos cordões, revês a namoradinha do ano passado, o prefeito, os óculos de aros pretos, sentado na mesinha, mas não vejo a filha. Alguém lhe chega mais perto, cochicha algo ao ouvido, e ele responde com o sorriso cansado do político.
              Os anos vão passando. Me lembro da chegada no Rio, ali na rua do Passeio, gente bastante mas sem atropelo. Ouço Chiquita bacana lá da Martinica, se veste com casca de banana nanica... Começavam os tempos em que a marchinha do ano estourava novinha...
             Os blocos passam. Criança ainda, vejo os outros se divertirem.
              É muito raro que me fantasiem.  Embora quisesse, não peço, porque sinto minha mãe com pouco dinheiro.
              Mais adiante, seja em São Paulo, seja no Rio, participo nos clubes nas festinhas da tarde. Às vezes, uma que outra namoradinha, que passa fugaz, na animação dos blocos e dos cordões.
              Vêm então os bailes da juventude, sempre no Rio. O transporte é o bonde. A máscara e o confete substituem a fantasia, que é inatingível.
               Os carnavais passam, uma que outra conquista. Vamos ao hotel Central (hoje sepultado debaixo de edifício-monstro que ocupa um quarteirão).  Me lembro de assistir, do terraço do hotel, as escolas passarem  na avenida Rio Branco.  Ali, reluzentes, as moças e as baianas  quase ao alcance da tua mão...
                Naquele tempo também havia o desfile dos carros alegóricos - Fenianos, Tenentes do Diabo...  O espetáculo não tinha a riqueza de hoje,  mas estava mais à mão...
                 Como os rios e as ruas em que passavam, as escolas de samba foram mudando.
                  O meu próximo encontro com o Carnaval foi numa rua de Paris.  Quem estava comigo me disse - Imagina, Mauro, o carnaval está fervendo, e nós aqui...
                   Olhei pra ela e ri.  Achei graça porque era verdade. Em Lutécia, vida normal, azáfama diária... Ao invés, no Rio, aquele fuzuê. Aí, eu que não era muito carnavalesco, senti saudade.
                    Me lembro de um estágio no Brasil - diplomata, falava como os meus companheiros. Então o desfile passara para a Presidente Vargas. Estávamos em Petrópolis e descemos para o Rio, pra ver de uma sala de escritório na Presidente Vargas o espetáculo.
                     Não gostamos do que vimos. Houve confusão com a assistência que ficava no nível da rua. Tempos cinzentos, os meganhas distribuíam cacetadas a rodo. A festa fica diferente depois da violência.
                     Não tardou muito, voltamos no mesmo fusquinha para Petrópolis.  Carnaval não combina com porrada.
                     O diplomata pode ser um viajante no tempo. De Paris fomos para Quito.  Da Cidade Luz para a luz das estrelas.
                     São Francisco de Quito era ainda mais bucólica naquele tempo. Estávamos na Seis de Diciembre,  logradouro importante da cidade colonial, e vaquinhas pastavam a erva dos campos diante do muro de nossa casa.
                      Lá, tínhamos um pastor alemão puríssimo, que latia forte se protegido pelas grades, mas que me aprontava senhores vexames com a sua covardia diante de atrevidos totós...
                       Em Quito, a permanência foi curta, mas deu para atravessar outro carnaval, que era uma espécie de entrudo adaptado. Feito na base das bexigas d'água, nos desaconselhavam rodar pela cidade. Nada a ver com as ruas de paralelepípedo, mas tudo a ver com as bexigas e os baldes d'água que deixam encharcados o público e até mesmo os motoristas.
                       Ao ver aquilo, pensava nas brincadeiras do entrudo colonial. Em Quito, não adiantava refugiar-te no carro, para escapar  desses banhos involuntários.  Brincalhões, paravam o carro, e punham jornais molhados nas vidraças do veículo.  Como não se vê nada,  quem dirige tem que sair, para descolar o papel e, assim, tomar seu banho d'água fria, por vez mal-cheirosa... 
                         Mas a ciranda do tempo não pára. Para mim, longe do tríduo momesco carioca,  se encontram espécimes estranhos que a gente do lugar  pode até chamar de carnaval...
                          Dizem, por exemplo, que o carnaval nasceu em Veneza. Mas nada a ver com a nossa festança. Nas ruelas daquela cidade, estivemos por acaso durante um carnevale.  Lá, o que faz o carnaval é o folião solitário, vestido às vezes de pierrô,  que passeia sozinho, o rosto coberto de pó d'arroz, a postura triste nos olhos maquiados de negro.
                           Como uma sombra ele passa por ti, não diz palavra, e a mim parecia a ambulante tristeza dos olhos, jamais se detendo, como alguém que tem algo a dizer-te, mas já o esqueceu faz muito.
                           Outra particularidade do carnaval - que se vê na Itália, mas também em outros cantos da Europa - é a dos adultos que vestem as crianças  com trajes de festa, rodados, e saem com elas pela mão, a pateticamente passearem pelas ruelas e becos das vetustas aldeias.
                            Às vezes eles andam assim, como se fossem para uma festa a rigor de que esqueceram o endereço.  É  um  hábito sobretudo da gente do povo.  Vedi i nostri bambini como sono carini...
                             É desfile que para nós pode parecer um tanto patético,  mas é decerto resto antigo de costume entranhado, em que as mães se empenham em bem vestir para uma imaginária festa os seus risonhos e rechonchudos rebentos.    
                             Sempre que ouço dizer que o carnaval é festa pagã - e há gente, coitada, que pensa assim - eu penso que as pessoas ouviram mal,  e o repete pior ainda.
                             Para o tempo da quaresma - seja ela real ou metafísica -careces de muitas razões de alegria para atravessar um tempo de tristeza.  Em toda cultura há o yin e o yang, o avanço e o recuo, e tudo isso é vida. O carnaval - mesmo visto da minha longínqua janela da senectude - é a alegria, o excesso, o ímpeto e tudo o mais que com vida e eros tem a ver. Não estranhes, portanto, que a violência e o grito nele estejam presentes, se bem que, por vezes, disfarçados na dança, no canto e em outras demonstrações humanas de afeto.
                              Aqui, bem do alto, a visão mais se parece com a de um helicóptero, passando rápida, perdida na pressa a conexão com a cálida realidade do humano contato, e tudo se vê de passagem, em caótica mistura de muito grito e pouco sentido, pois tudo se vê à distância, até que te afastes, o sinuoso silêncio se vá insinuando, e as imagens e as cores vivas mal se distingam, enquanto a noite vai caindo sédula, súbita e serpejante. De longe, os rostos desaparecem, enquanto a noite se despenca com as suas promessas.  E até a maldita quarta-feira,  o carnaval se reinventa, tantos nos lúridos encontros, quanto nas descobertas das ilusões renovadas, que ali estão na esquina da vida, à disposição dos belos tipos faceiros e das moçoilas que luzem na formosura dos sorrisos que desvanecem tanto nas imaginárias promessas, quanto nas súbitas decepções nascidas das sombras.

                             Bom carnaval a todos!    



( Fontes: A.Toynbee,  Montaigne ) 

Há dois anos morria Boris Nemtsov

                            

             Decerto, uma das atividades mais arriscadas na Rússia é a oposição ao Presidente Vladimir Putin.
             Se alguém for cético a respeito, basta ler apanhado dos infelizes que foram abatidos sem outra razão aparente.
             Boris Nemtsov caminhava no centro de Moscou, acompanhado pela namorada ucraniana.  Conversavam sobre o comício marcado para dois dias depois, em que Nemtsov iria ocupar-se, de modo crítico, do problema ucraniano.
             Dentre os opositores de Putin, Nemtsov surgia como o mais categorizado. Havia sido vice-Primeiro Ministro no tempo de Boris Ieltsin.
             Tinha, portanto, estatura política, era  respeitado dentre os círculos opositores a gospodin Putin, e se contava entre os críticos do Presidente. Não é pequeno o número de adversários do atual todo-poderoso Vladimir V. Putin que, por motivos nunca bem esclarecidos, acabam mortos.  Foi o que aconteceu à tardinha, nas vizinhanças do Kremlin , a Boris Nemtsov, então acompanhado pela namorada ucraniana (que nada sofreu). As circunstâncias da ocorrência motivaram suspicácias  quanto à eventual autoria. Tratou-se de o que os moscovitas chamam de "contract killing", i.e.,  um bandido não-identificado atira pelas costas da vítima, e some em seguida, num carro roubado.
                 À lista de vítimas abatidas sem que se logre determinar a autoria, não faltam exemplos:  a jornalista Anna Politovskaya, em 2006, no saguão do modesto edifício em que residia, assim como,  o espião Alexandre Litvinenko, envenado por polônio, em Londres, também em 2006.

                 Putin, segundo afirmou,  lamentara deveras o ocorrido. Nesse sentido, o Presidente  telefonara para a família Nemtsov,  com os rituais votos de pêsames.

                   No que tange a Litvinenko,  este antes de morrer, agonizando no hospital londrino, culpou a Vladimir Putin como mandante do assassínio. Anos mais tarde, ao completar-se o processo que correu contra o Presidente russo, no foro inglês, foi efetivamente confirmada pela Justiça de Sua Majestade Britânica - na sua qualidade de mandante -  a autoria de Vladimir V. Putin, no que tange ao óbito por envenenamento radio-ativo (polônio) do espião (e desafeto do Presidente) Alexandre Litvinenko. 



( Fonte: CNN )

Por que deflorestar a Amazônia ?

                                

      A notícia, que uma vez mais reponta, vem do estrangeiro. Enquanto no Brasil pútrido silêncio pesa sobre a industrial deflorestação da Amazônia, cai sobre o leitor a notícia triste que nos prepara para o futuro a coalizão da ganância industrial e da mesquinha visão do rápido lucro ganho à custa do desmatamento.
      Desmatar a grande floresta é preparar a própria miséria, com a vantagem suplementar de acelerar o aquecimento global, abrindo-se aos mares as comportas com a pesada chave de estúpida cobiça, azeitada pela lúrida perspectiva de menos água doce, e a rala savanização de inférteis areais.

     São criminosas as queimadas na Amazônia, e como nos relata a imprensa estrangeira, elas crescem empurradas pelas ofertas da multinacional Cargill, que tem fome de soja.
      O governo do Brasil e notadamente a coalizão do agro-negócio com os pequenos e médios proprietários julgam oportuno que as ralas fileiras dos ambientalistas durmam.

      Não é de hoje que os códigos ambientais descem às câmaras onde são preparados para satisfazer a fome e a sede da união dos grandes e pequenos - mas todos unidos na voracidade que as antigas e sábias disposições dos códigos ambientais tinham afastado.Agora, a pressa ignara só pensa no imediatismo do lucro, mesmo que havido com a secura dos mananciais, o corte da floresta virgem e a álacre criação de amplas pradarias. Novas Malaias pretende a sua estulta ganância por aqui criar.
      Surge a união dos madeireiros e dos pecuaristas, que só pensam naquilo, que para eles são os trinta dinheiros das disposições ambientais violentadas.

      Vamos fazer como Santa Catarina, que acabou com as matas ciliares, e achou por bem diminuir ainda mais a reserva florestal nas margens dos rios? Pois esses senhores só pensam no ouro que lhes prometem os mercadores do desmatamento (ainda que nos seus cartões de lobistas costumem matizar os próprios escopos).
          Agora, nos chega do estrangeiro - aonde residem decerto muitas daquelas sereias  que só pensam em apropriar-se da terra ou do produto da terra, e para tanto jamais hesitarão em abrir na velha Hiléa amazônica as enormes e hediondas cicatrizes do desmatamento, que é a desfiguração que precede novas Malaias, novos Sahéis,  postos, vejam só, nas fuças da antiga Amazônia.

           Entrementes, o governo Michel Temer dorme. A Lava-Jato decerto os preocupa, mas que estranha prostração é esta, que permite esse desmatamento sem lei?  O Ministro do Meio Ambiente é o deputado José Sarney Filho,  do P.V.  Dorme acaso também o Ministro que desde muito volteja em torno do Meio Ambiente ?
           Procuro, mas não vejo, algum alerta, algum plano de operação em prol do verde, e da preservação desta hiléia que aí está, não como resquício de um tempo em que o desmatamento apenas lhe mordiscava as margens, enquanto vivíamos, muitos sem o saber, sob as benesses da floresta virgem e o consequente equilíbrio do meio-ambiente.

           Hoje, o grande capital parece ter pressa. Para que, não sei.
          Esse governo que aí está, e só parece pensar em manter-se ao largo da Lava Jato, e dos temidos estragos que a Operação lhe dá a impressão de prometer, podia lançar os olhos para o grande Norte. Não vamos malbaratar o que os nossos antepassados portugueses nos legaram, tanto na defesa da mata virgem, quanto na salvaguarda da Amazônia, apesar de que pequenos fossem.
             Souberam, a seu tempo, defender a Amazônia das grandes potências da época. E o fizeram com indústria e engenho.
              Agora, é também o momento de defender esse grande espaço, que também é da Humanidade, e não fazer de conta de que de nada sabe, enquanto o grande capital cuida de malbaratar o que não é seu.


( Fonte: The New York Times ) 

O Rio da Maldade

                              

        Em outros tempos, quando  série de calamidades - ou até mesmo uma, mas grande - caísse sobre um povo, não estranharia que jeremiadas se ouvissem, como se se questionasse a divindade se tanto mal seria merecido.
        O súbito, inesperado advento de Mr Donald Trump há, decerto, de provocar tal desconforto, que vem aliado à difusa sensação de um mal a parecer tão imerecido quanto gratuito.
         Quando os números sobem aos milhões - e são tais levas de infelizes trabalhadores que o novo Presidente americano deseja castigar, despejando no vizinho México - esse mal, que a nada de útil serve, decerto aumenta a raiva desta gente, que como indocumentada mais servia por suados dólares a hipocrisia da classe dominante.
           Por que é a pergunta,  se eles trabalham duro e satisfazem a necessidade de uma burguesia, que lhes paga, não por caridade, mas pela pesada faina  do cotidiano ?
          E mais encontre fraqueza, mais ele se lança, nessa soez campanha, em que as vítimas tremem e os algozes estalam as línguas, como os cães de guarda a refocilar-se
na areia grossa do chão em que pensam lançar tantos infelizes.
           Que não se engane o tirano de turno, porque a amargura, mesmo secular, se estirada e atravessada, pode transformar esquecidas, quase apagadas cicatrizes, em novas, incômodas feridas, que lembram o tripúdio das injustiças antigas, violentas, escancaradas mesmo, que o passado condicionou a sofrer no silêncio dos fracos.
           Um trabalhador, mesmo refugiado na volúvel sombra da clandestinidade, há de compreender o desconforto do patrão, que lhe paga com a dura moeda dos salários do medo. Mas como poderá entender a gratuita maldade do demagogo, que toca a sua lira, enquanto põe fogo a relações de trabalho duramente forjadas por mútuas necessidades?

        São estranhas figuras, que, em geral, aparecem nas vascas da decadência, a anunciarem males ainda mais graves do que aqueles por tais governantes perpetrados.  


(  Fontes: The New York Times,  O Globo, Folha de S. Paulo, J.-P. Sartre )

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Colcha de Retalhos E 6

                                     
Democratas elegem novo chefe              

               O ex-Secretário do Trabalho, Thomas E. Perez foi eleito Chefe do Partido. A inesperada derrota de Hillary Clinton deixara atordoado o Partido Democrata.
           Na primeira votação, Perez teve um voto a menos do total necessário para ser eleito.  A facção mais a esquerda, que favorece o Senador Bernie Sanders, exigiu que se realizasse um segundo turno, o que mostra um ressurgimento, depois do inesperado tropeço de Hillary, da antiga oposição entre apoiadores de Sanders e os da candidata presidencial.
           Já no segundo turno, o candidato de Hillary Clinton ganhou com 235 sufrágios, vencendo o desafiante Keith Ellison  (de Minnesota). Houve muitos protestos na assembléia, mas Perez contornou a situação declarando que Ellison seria o seu vice-chefe.   


A Casa Branca barra órgãos de imprensa


             Para uma reunião de briefing de órgãos de imprensa, foram barrados pelo secretário de imprensa diversos jornais e órgãos de comunicação.
             A decisão, tomada pelo Secretário de Imprensa, Sean Spicer, surpreendeu, por ser totalmente inusitado que se exclua órgãos da imprensa de tais reuniões na Casa Branca.

             Pela sua visão crítica da Presidência  Trump, foram excluídos da reunião a CNN, The Los Angeles Times, The New York Times, BuzzFeed News e Politico.

              Participaram da reunião Breitbart News, the One America News Network, e The Washington Times. Também estiveram na reunião representantes da ABC, CBS, The Wall Street Journal, Bloomberg e Fox News.
             Assinale-se que repórteres de Time Magazine  e a Associated Press também foram convidados, mas preferiram não participar como protesto contra a atitude da Casa Branca.
                Pela inusitada barração de órgãos da imprensa e da tevê, a reunião de Spicer virou um clube do Bolinha de órgãos conservadores.


Crivella esnoba o desfile no Sambódromo  


              Marcelo Crivella já não participara da cerimônia tradicional da chave na abertura do Carnaval. Tampouco irá para a Sapucaí acompanhar o desfile das escolas de samba, como é igualmente de praxe.
               Apesar de todo o sigilo que cercou a operação, a quebra de protocolo chocou a muitos. Sendo o Carnaval a grande festa popular no Rio, e dado o considerável número de convidados que comparece, provoca espécie a maneira com que o Prefeito esnoba a festa, que está no calendário oficial e que é o principal certame do Município (sem falar no número de turistas que para cá vem, atraídos pelo Carnaval carioca).
                Como o Prefeito Crivella é a principal autoridade no município, desperta estranheza que ele  não compareça  à maior festa popular do Rio de Janeiro.

               O Carnaval carioca não é um evento que seja suscetível de ser tratado como festinha de somenos importância. O Carnaval carioca movimenta multidões - além dos próprios partícipes - e por isso não se perde no calendário.
              Por isso, o Prefeito não pode se dar ao luxo de ignorar a maior festa de seu município. Não deve agir como se fosse ocasião que ele possa, de um modo nada amável, solenemente ignorar.
                 



( Fontes:  The New York Times,  O  Globo )




O país do Carnaval

                              

         O que é o carnaval hoje no Brasil?  Para quem assiste da janela, a festa mudou muito.
          Isto é coisa séria, e mais do que parece. O que são, na verdade, as festas populares? Ora, pode parecer superficial ou fora da realidade, mas o carnaval será sempre  a festa do Povo.
          Hoje em dia, o Carnaval continua o mesmo, embora mude sempre. Será sempre o espelho do momento em que se vive. Nos anos da Cidade Maravilhosa, aquele hino romântico de André Filho, que é conservado na internet, como se ainda os anos trinta do século passado fossem a norma e o cenário desta cidade, ele refletia o temperamento, a visão e os costumes dos foliões daquele tempo, que hoje, ou viraram, ou estão virando o pó que o vento leva, como no livro de Margaret Mitchell (1936).  O romance imortalizou Scarlett O'Hara (Vivian Leigh) e Rhett Butler (Clark Gable)  para mais de uma geração, no filmão dirigido por Victor Fleming.
           Assim, tudo continua igual ao que diz a canção. Só que os ingênuos versos de André Filho, falam e enaltecem cenário e mundo que já se foi, e há muito, para o beleléu.
           Cada época tem a sua cartilha e o seu catecismo. Vista à distância - melhor até se escutarmos o hino através de uma vitrola - temos a impressão de havermos mergulhado no inatingível passado, e por  instantes, dispomos do privilégio de viajar na máquina do tempo.
           É um sonho recorrente esse de passear no passado. Parece aliteração e o é, na verdade.  Porque entramos nos domínios proibidos de nossos antepassados, a que visitamos como crianças, pé ante pé, na suposição de fazermos um mergulho no tempo, que, como todo o mergulho, tem de ser rápido e com a respiração presa.
           Senão, nos acontece como com o mergulhador de Paestum - que os meus leitores já conhecem -  eis que a sua prometida viagem pode ser mais completa do que ele pensa.
           O meu conselho - de quem nas rugas leva a marca de muitos carnavais - é de não esquecer que esta festa, como todas elas, passa depressa, não convive bem com quem pensa vir de outras galáxias - como o atual Prefeito do Rio, cuja postura de menosprezar o Carnaval bem mostra o quanto ele precisa aprender para entender a cidade que se diz Mara-vilhosa - e é, por conseguinte, a desatinada festança da mocidade, justamente daquela que costuma passar como a brisa, e partir sem deixar bilhete ou confetes de outros carnavais.
          Como dizem os antigos: curte o momento, enquanto ele signifique algo.
          Quando vira velharia que requer remexer em retalhos, recortes e restos mil, será melhor voltar correndo para o Brasil ... da quarta-feira.
          Este existirá sempre, pelo menos para aqueles que sobreviverem a mais este  Tríduo Momesco, com o seu velho enredo de cantorias, cantadas, e encantos mil. 
          Até a próxima, minha estranha conhecida, se vivos estivermos nessa Cidade Maravilhosa, de surpresas mil.


( Fonte: internet )

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Papa Francisco

                                                   
       O Santo Padre tem o hábito de falar de improviso em muitas ocasiões.
       Agora, trazido pelas agências de notícia, temos mais um punhado de declarações pontifícias, que se acham dentre aquelas frases no sermão de ofícios religiosos por ele proferidas.
      Nesse sentido, Sua Santidade sugere que é melhor ser ateu do que um dos "muitos" católicos, que levam o que  Papa Francisco define como vida dupla e hipócrita.

      Desde sua eleição em 2013, ele tem dito amiúde a católicos, seja bispos, padres,  membros não ordenados, e leigos, para praticarem o que a religião prega.
        A mensagem de Papa Francisco mereceria visão conceitual mais ampla, dentro da própria linha de boa vontade e abertura para inúmeros campos até hoje não aprofundados e estudados, de acordo com a respectiva visão cristã, tão coerente e progressista.

         A ampla comunidade católica carece de tal visão, articulada com a generosa boa-vontade que assinala o pensamento de Francisco, consoante articulado em inúmeras sedes.

          Francisco crescerá ainda mais através de sua mensagem profundamente cristã, articulada na coerência de Sumo Pontífice que veste seus gestos e atitudes com os panos humildes da fraternidade e da bondade,  mas também com a franqueza dos antigos profetas, e que segue o caminho de seus antecessores, em que a pompa e a circunstância cede ledamente o próprio lugar à simplicidade do Santo Papa Giovanni e de tantos outros, como João Paulo I, o Papa do Sorriso.

Uma crise artificial ?

                                            

         O artificialismo da crise EUA-México poderia rotular os seus meses iniciais, mas não creio que se possa denominá-la dessa forma, sob o eco das declarações de Donald Trump - que a criou do nada - nas presentes circunstâncias.
          Não se deve esquecer que o primeiro grito do então quase desconhecido Trump se reporta à necessidade dita imperiosa de construir um muro entre os dois países, para 'proteger' a comunidade americana dos insidiosos ataques dos estupradores mexicanos.
          Como o leitor do blog há de verificar nunca uma mentira rasgou com tal força os anteriores panos cinzas que encobriam um candidato virtualmente desconhecido. Projetou-o na mídia, a princípio com o acento do deboche, mas em seguida o coloca em um lugar diverso dos demais ignotos que com ele batalhavam pela ribalta da fama.
          Muito depressa desaparecia o dito candidato do verão, e surgia o bicho-papão, criado pela mídia americana, com toda a tonitruância e arrogância que pautaria as suas representações posteriores.
          Pois não se deve esquecer que, enquanto os demais candidatos formavam um todo amorfo no grupo republicano, repontava como virtual vencedor - muito antes dos selos da convenção - Mr Trump vinha com o seu corpanzil de empáfia, arrogância  extrema, e direcionada vontade. 
           No México, teria ainda a fortuna de encontrar um Presidente inseguro e sem a necessária coragem e determinação para rasgar-lhe a postura arrogante que o mexicano, por tantas vezes, deparou no vizinho americano. Enrique Peña Nieto não o enfrentou como devera.
            É uma crise artificial esta que pulou, pelos pés de Mr Trump, no território mexicano. De repente, temos um turbilhão de crises artificialmente criadas, pela mão pesada e untuosa de Mr Trump.      
            Depois de pintar o diabo, Trump continua falando grosso: "Temos que ser tratados de forma justa. Com o México, teremos uma boa relação... ou se não, não."
                 À distância, o Secretário de Estado, Rex Tillerson, e o de Segurança Interna John Kelly, foram recebidos em clima glacial por seus homólogos mexicanos.
                 Mesmo nos hirtos personagens das fotografias, o mal-estar é visível. De longe, Trump cuidou de dar declarações não de paz, mas da não tão velada ameaça, que ele pespega em tudo - ou quase tudo - que ao México se refira.
                  Para um país que tanto sofreu com os desmandos e as invasões da Superpotência ao norte, o tratamento dispensado por Mr Trump se aproxima da provocação, eis que vai além de o que os seus ministros agitam em declarações de composição.



( Fonte: O Globo )

A Recessão terminou...

                              

         A declaração formal do Ministro Henrique Meirelles de que a recessão terminara, diante dos dados da economia, que lhe anunciam a volta do crescimento, que sentido terá para a multidão de desempregados  (2,3 milhões, há pelo menos dois anos).
           Por outro lado, o número incha ainda mais com os desempregados por um ano (4,4 milhões procuram emprego há mais de ano).
            O  número de desempregados é muito grande (há 11,8 milhões de desempregados !).  

          O grupo dos que procuram emprego há dois anos cresceu muito: em relação a 2014, esse grupo literalmente explodiu, ao crescer 90%. Dessarte, passou de 1,2 milhão de pessoas para 2,3 milhões  em 2016.
            Dentro da cruel lógica do desemprego, "quanto mais se demora para conseguir um emprego, mais aumentam as dificuldades de contratação, pois esses trabalhadores perdem seu capital humano específico e conhecimentos práticos. Ficam enferrujados (sic). E quem está empregado passa a agir como se estivesse sem emprego, freando o consumo, com medo de ser demitido e demorar muito para  se reinserir no mercado".

           Por outro lado, o levantamento mostra que ainda em 2016, a falta de trabalho atingiu um contingente bem maior. Assim, além dos 11,8 milhões de desempregados, há outros  que estavam disponíveis para trabalhar, mas ainda não tinham procurado vaga; e aqueles que queriam trabalhar mais, pois se encontravam subocupados em empregos que consumiam  menos de quarenta horas por semana. Este grupo cresceu 46%  entre 2014 e 2016.



( Fonte:  O Globo )

A piada como arma política

                                

          Há um braço auxiliar para a mentira como arma política.  Emily Nussbaum consagra no New Yorker de 23 de janeiro um artigo que tentarei sumarizar abaixo sobre como atua a piada, posta a serviço da visão política fascistóide de Donald Trump.               
            Nesse sentido, muito se escreveu acerca do crescimento no espaço cibernético de notícias falsas (invenções que deslocam os fatos). Assim, através da net  passar-se como notícia que Hillary teria instalado uma rede para a venda de droga disfarçada em cadeia comercial.
           Por outro lado, muita análise de Trump como estrela da realidade (i.e., um falso autêntico).

          Segundo Nussbaum, no passado a comédia poderia ser ou cruel, ou estúpida, mas tomaria sempre a posição do rebelde. Os nazistas eram despojados de qualquer humor. Assim, a piada seria  um modo superior de relatar a verdade.
             Mas em 2016 as coisas haviam mudado.  A roda girava noutro sentido. Agora, quem segura o microfone é o latagão neofascista, que dispõe de um exército de criadores de piadas-sujas que o ajudam no caminho do poder.

              O emprego do humor com Trump muda na campanha de 2016. Ele passa a ser o cômico do insulto, a quem preocupam os percentuais de apoio, e que consegue calar no grito os que tencionam bagunçar a sua apresentação.
                Como todo cômico de estádio esportivo, a marca distintiva de Trump foi o controle.  Ele parecia meio solto à primeira vista, o louco que pode dizer não importa o quê, mas os seus monólogos improvisados estavam sempre sendo mexidos, enquanto ele testava frases de impacto: prendam ela! (quer dizer Hillary), levantem uma parede!
                  O seu escopo era mexer. arrancar  reações da multidão. As suas piadas são instrumentalizadas tanto no tuíter, quanto na tevê para expressar o indizível, sem que nada lhe aconteça.

                    Segundo Nussbaum, numa piada de campanha, Trump mistura dois fatos, ambos potencialmente nocivos para a adversária democrata: "Eu espero que você Rússia possa encontrar os trinta mil e-mails que estão faltando".  Circulava já o rumor de que os hackers russos tinham invadido o arquivo digital do Diretório do Partido Democrata. Por outro lado, Hillary era objeto de interminável busca nos e-mails que ela arquivara no seu servidor particular do computador,  quando chefiara o Departamento  de Estado.
                     O amálgama desses dois fatos produzia uma mentira, que parecia engraçada -  e que prejudicava a rival Hillary.

                    No entanto, uma vez ganha a eleição, as prioridades mudam para Trump.  Nas conferências de imprensa, não há mais lugar para piadas. Assim, quando Jim Acosta, da CNN, tentou inserir  pergunta sobre a Rússia, Trump,  num repente zangado, grita de volta "Notícias falsas!" - e o novel Secretário de Imprensa, Sean Spicer, diz para Acosta que se ele fizer algo parecido no futuro, será posto para fora da sala.
                       Agora os interesses mudaram, e não há mais tempo para piadas.



( Fonte:  The New Yorker, Como as piadas venceram a eleição,  23 de janeiro de 2017 )

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A Mentira como Arma Política

                               
         Leitor, o título do blog não esta aí por acaso. Na verdade, como a mídia aprendeu às suas próprias custas, a mentira, a falsidade consciente virou a arma política da Administração Trump.
         O 45º presidente não mente por acaso. Ele utiliza a inverdade como a sua arma predileta. Pelo que demonstra, é mais um chefe de estado para quem os fins justificam os meios.
         Há dois artigos muito interessantes em dois números da revista New Yorker. Reporto-me aos datados de 23 de janeiro e 6 de fevereiro de 2017.
         O anterior, de Emily Nussbaum, desenvolve a tese como "as piadas venceram a eleição", e o posterior é a propósito da visão da Administração Trump acerca das "guerras de informação".
         Em outras palavras, o presidente Donald Trump funciona como porta-voz - partindo do púlpito que Theodore Roosevelt - um longínquo predecessor deste presidente - tanto peso atribuíu pelo simples fato de transmitir a Verdade segundo a Casa Branca.
        Fundado nesse crédito que o público atribui à sede do Poder presidencial, o objeto desta nova Administração é de aproveitar o Zeitgeist (o espírito do tempo), e conforme o suposto respeito que é devido à palavra do Chefe da Nação, o escopo é o seguinte: como se fora uma conta da veracidade irrefutável, a Administração Trump, a exemplo de um correntista enlouquecido, decide retirar até o último crédito com aparência de verdade quanto aos procedimentos da Presidência. Fundado na crença popular de que o Chefe da Nação é depositário não só da verdade, mas também da confiança que lhe é outorgada pelo Povo, e sem qualquer escrúpulo ele parte para instrumentalizá-la da maneira mais cínica e cara de pau que imaginar-se possa.
          Estamos, como para alguém dotado de um mínimo de bom senso, de procedimento como se fora mercadoria com prazo de vencimento extremamente curto, eis que não é crível que o Presidente vire  simulacro do cavaleiro da mentira no folclore alemão, o Barão de Münchhausen, e que tudo fique por isso mesmo.
              Nesse contexto, o caráter mitômano do novo presidente fica ilustrado, conforme notícia do Times: em reunião com líderes do Congresso, Trump contou estória acerca da fraude na votação, que ele supostamente ouvira  de Bernhard Langer, o golfista alemão.  Langer não tardou em circular declaração em que repudia a estória de Trump.  
               Durante a semana, o Presidente repetiu a calúnia de que perdera no voto popular somente porque milhões de "ilegais" haviam votado por Hillary Clinton. Isso partirá da postura patológica de quem não possa admitir qualquer derrota, mas também serve aos esforços republicanos de criar dificuldades para os votos de 'latinos' e afro-americanos, através dos truques do GOP de exigir identidade com foto e outras leis estaduais voltadas para obstruir o sufrágio das minorias, que em geral - e por razões conhecidas - sói ser favorável a candidatos democratas.
                     Como a mitomania virou característica desse presidente, a mídia estuda como lidar com tal falsidade.  Muitos jornais e redes de notícia não trepidam em desmascarar as asserções inverídicas, que partem tanto do Chefão, o Presidente, quanto de seu pessoal.
                  Sem falar no desrespeito ao público, tampouco se pode deixar de mencionar a influência do nazi-fascismo cuja obviedade se nos mostra como no riso boçal de um desdentado. Se a postura de Mr Trump já tinha algo de mussolineano, com a sua empáfia profissional e os uniformes - que, por enquanto, Mr Trump se abstém de vestir - não se pode tampouco esquecer o dictum do Ministro da Propaganda do Reich, que a mentira mil vezes repetida ganha foros de verdade.
                     Também conforme ao quadro, como assinala o artigo do New Yorker, estão os agressivos ataques de Trump contra a mídia e a imprensa.  É sempre a característica desse tipo de regime da direita (e mesmo da esquerda, como se observou no Brasil nas diatribes do lulismo contra as "mentiras" e distorções da imprensa) a tentativa de pôr os órgãos de informação como se fossem um instrumento desestabilizador do programa e da visão do governo.
                       Nesse contexto,  o próprio Trump prevê esse embate como fenômeno permanente, a que a Administração procuraria energizar  através de encontros televisivos e até de tweets diários. O escopo seria transformá-lo numa espécie de Mussolini-light.
                           Tal embate tem de ser entendido à luz de ciclópica luta entre o campeão do Povo - no caso, o herói Trump - e a turba da oposição e da mentira, que carece de ser combatida por todos os meios.
                           Dada a aparente ignorância de Mr Donald Trump quanto ao fim desta estória, seria interessante que os seus gurus como Stephen Bannon informem Sua Excelência sobre os azares potenciais desta estratégia.


( Fontes: The New Yorker, 6 de fevereiro de 2017, The New York Times)

Notícias para Boi não dormir

                             
*       Segundo a Folha, Alexandre de Moraes divide opiniões entre seus interlocutores. Uns o consideram como arrogante e outros, como bom arguidor.
         A Folha indica que um de seus personagens favoritos, é Alexandre, o Grande, a quem o jornal identifica como rei da Macedônia.
         Nesse particular, o jornal dá uma de rilhar os dentes, pois classificá-lo como soberano da pequena Macedônia, para quem derrubou o Império Persa, é o mesmo que chamar Napoleão de rei de Elba.

*         Outra notícia da Folha, mas daquelas que fazem pensar e muito:
            " Líder de ação que matou Jean Charles vai ser a 1ª Chefe da Scotland Yard".
             Não se esqueçam que Trump também tem muitos seguidores. Tampouco olvidem que o chefe do FBI lhe deu senhora mãozinha ao contribuir para espalhar notícias que, depois, seriam verificadas inverídicas. Pena é que, divulgadas  na hora certa para os interesses do candidato Trump, arrebentaram com a votação da candidata Hillary Clinton, como ela própria assinalaria.


( Fonte: Folha de S. Paulo )