domingo, 22 de janeiro de 2017

Theresa May: 'Brexit' é p'ra valer

                   
       Apesar das frágeis bases do chamado 'brexit', - o referendo malconcebido pelo então primeiro ministro David Cameron -que em janeiro de 2013, pensando inserir tal proposta - que não estava em seus planos - como parte de esquema de governo, acabou sendo por ela arrastado, forçado que foi a pedir demissão. A incompetência e a irresponsabilidade de misturar questões vitais para o Reino Unido com jogadas políticas só poderia dar no que deu.
        Pois David Cameron não acreditou na probabilidade de que a mudança viesse a ser aceita. Por isso, e de forma pouco responsável, pensou utilizá-la em jogada menor de política interna. Como em tantas coisas na história, por mais incrível que pareça, há que computar a falta de seriedade  nas causas de grandes reviravoltas.
         Se Cameron tivesse ainda que uma parcela da séria motivação que levara os dirigentes ingleses do passado a lutar e, enfim, lograr a entrada na União Européia, que de resto só se tornara possível com a saída de cena do general de Gaulle, o divórcio com a U.E. não seria o prato que aguçou a cobiça dos  demagogos  da vez. Na verdade, a questão já fora submetida a referendo , quando  Tony Blair, então Primeiro Ministro, lograra superá-lo,  que, em sendo favorável ao governo, então confirmou  a permanência do Reino Unido na União Européia.
          O assassínio da jovem deputada inglesa Jo Cox por  energúmeno, pelo fato de que apoiava a permanência  de Londres na organização de Bruxelas, já deveria ter sinalizado que tal questão não estava sendo examinada com a frieza e o apego à razão que ela exige.
          Oportunistas e demagogos pensavam basear as próprias motivações mais consultando os próprios interesses imediatistas, do que a proceder  exame sério da questão que tanto consumira de esforço dos políticos do século XX.       
           Mais tarde se determinaria que um dos proponentes do Brexit, o conservador Boris Johnson,  evidenciara a própria incerteza - ou certa leviandade - ao ponto de redigir dois documentos: um a favor e o outro contra o Brexit. Sendo de alguém de realce no campo favorável à separação, coloca-se a pergunta se questão desta relevância  poderia ser tratada de forma tão brejeira. Seria acaso irrelevante para a velha Albion que tal problema fosse resolvido de uma ou de outra maneira?
            Associar-se ao brexit, como o fez o líder da extrema direita Nigel Farage (Ukip- partido da independência do Reino Unido) não tem aproveitado em demasia ao próprio partido.
             Depois que alta Corte do Reino Unido se manifestara favorável a que a Justiça determinasse da validade ou não do brexit, as dúvidas aumentaram.  
             Agora, em seu discurso, a que foi conferida a pompa e circunstância  que Theresa May julga ser do caso, a Primeira Ministra afirmou que "o Reino Unido está saindo da União Européia e minha missão é obter o ajuste correto  para o nosso país."
              Se confirmado o projeto,  dá-se início a processo que põe fim a quatro décadas de firme integração, e que definirá as próprias futuras relações com os vizinhos.
              Londres deseja recuperar o controle da migração da União Europeia, e rejeita a supremacia da Corte Europeia de Justiça.  Tais reivindicações - cujo descumprimento é anátema para Bruxelas - já anunciam, se confirmadas, a irreversibilidade da saída do Reino Unido.
              A Senhora May, em seu discurso, pode presumir que as tratativas correrão rápidas e favoráveis, mas isso não é a opinião dos analistas do mercado.  Nesse sentido, Mark Boleat, o presidente da City of London Corporation encareceu à Senhora Primeira Ministra que garanta  um ajuste de transição que ensejaria a segurança que o comércio (britânico) deseja.
               Nesse tipo de negociação, já se falou muito de escolher cerejas (cherry picking). Esse tipo de processo, que privilegia o melhor, tende a irritar o antigo parceiro, e a dificultar a negociação. É o mesmo que dizer em português: sair-se sempre com o melhor e esquecer o resto. Não é a melhor maneira de construir  nova relação.
                Não são poucos os problemas desta Inglaterra que decide sair um tanto abruptamente da U.E.  May apela para os antigos membros da Grã-Bretanha, a quem pede compreensão.  A longa supremacia sobre os povos da Escócia, Gales e Irlanda do Norte resistirá à separação?  Ou julgará preferível a associação com Bruxelas, mantida a mesma relação de hoje?
                 Não há aparentemente uma reação comum desses países, embora a Irlanda do Norte, pelo que depende de Londres, dificilmente abandonará o barco. Quanto aos outros dois, sobretudo a Escócia,  os prognósticos não semelham tão favoráveis assim.
                  Tampouco será fácil a relação dos Tories com os Trabalhistas e os Liberais-Democratas.  Assim, Tim Farron, o líder dos liberais-democratas, afirmou: "Ela (a May) alegou  que o povo votou para abandonar o mercado único. Não é verdade. Ela fez a escolha de causar muito prejuízo à economia britânica." Tampouco o líder trabalhista, Jeremy Corbyn apoiou as táticas dos conservadores na questão.


( Fonte:  The New York Times )  

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