segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

E o Congresso Republicano?

                              

        Superficialmente, o domínio do GOP sobre os poderes executivo, legislativo e judiciário semelha indiscutível. A Suprema Corte continua com um membro a menos, por causa da recusa do GOP - e especificamente de Mitch McConnell, o líder da maioria republicana no Senado - de sequer conceder ao Juiz Merrick  B. Garland (a proposta de Obama para preencher a vaga no Supremo) o benefício de ter a chance de contar com a própria candidatura examinada pelo plenário.

          É a chamada tática republicana, que escarnece das idéias, e prefere apelar para a negação nua e crua, do que correr qualquer risco, muito menos elevar a qualidade de um Supremo envelhecido e com grande necessidade de renovação.

           Em consequência da quebra da regra do fair-play  pelas hostes do implacável mas não excessivamente brilhante Mitch McConnell (aquele que prometera fazer de Obama presidente de um só mandato...), os republicanos tem pela frente o exame diligente, por vezes sardônico, outras no limite da hostilidade pela bancada minoritária democrata, e sempre não-apressado das indicações de Donald Trump para o gabinete. Depois de muitas aprontarem, os coleguinhas republicanos terão de aguentar poucas e boas, no exame pelos senadores democratas de um ministério que concorre pra valer para ser um dos mais fracos da República estadunidense...

            Os republicanos já salivam a oportunidade de tentar destruir o legado de Barack Obama.  O ataque inicial se voltará contra  a maior conquista democrata - a lei do tratamento médico custeável -, a que o GOP sempre chamou de Obamacare, tentando menosprezar uma grande conquista democrata, que barateou a assistência médica para o povo americano em geral e a tornou igualmente acessível às classes mais pobres em particular.

              A Câmara de Representantes  - apesar do nome, a representatividade deixa muito a desejar, por ser o resultado do gerrymander, isto é a manipulação dos distritos eleitorais - feita quando da derrota do shellacking (tunda), causada pelo inepto primeiro biênio ( em termos de política menor) de Barack Obama.

                A embaraçosa circunstância de que essa Câmara esteja sob domínio republicano (nos seis anos dos oito que completará em breve o 45º presidente americano), o que além de privar a política estadunidense de uma real disputa entre a direita (republicanos) e a esquerda (democratas), constituíu barreira intransponível para a aprovação de legislação mais aberta e progressista. Tais são alguns dos efeitos da fraude que a Câmara representa: isso não está decerto no que se desejara fosse o seu papel dentro do jogo político americano. Transformou-se em mais do que um feudo do Partido Republicano, mas também em um atoleiro para qualquer legislação progressista. Morreram ali uma política racial mais equânime e justa, a par de uma política migratória mais aberta e democrática.  É um lugar sem brilho, a par de clamar  contra a Constituição, sendo uma chaga aberta no que tange à democracia e às votações não-falseadas.  Por quanto tempo isso há de perdurar vai depender do próximo censo e das maiorias nas assembléias estaduais que foram objeto do gerrymander . O que é  mais do que lamentável é o seu congelamento como fruto de uma enorme fraude, cuja continuidade é de certa forma coonestada pela grande imprensa - que não menciona o que está por trás do domínio do GOP nesta Câmara.  Somente em revistas como The New York Review este desvio e esta fraude são discutidas sem rebuços.   

                   Infelizmente, por outro lado, o impensável - como o chamara Michael Tomasky - ocorreu e o fraquíssimo Donald Trump, sabe-se lá como (as recontagens em Michigan, Pennsylvania e Wisconsin não contaram com apoio pró-ativo do Partido Democrata), logrou o impossível, i.e., arrebatar a presidência. Como esse blog já o comentou, não foi sem um empurrão do diretor do F.B.I. James Comey (que tradução de artigo publicado neste blog o revelou de forma indubitável). O mais penoso nisso tudo é a circunstância de que foi Obama quem nomeou este senhor republicano para tal lugar-chave.

                    Não se carece ser dotado de qualidades de Nostradamus para prever que o quadriênio de Trump - imaginá-lo reeleito será talvez quase impossível...- há de contribuir de forma bastante eficaz para o tão apregoado declínio de Tio Sam, a ver-se tanto pela qualidade de seu gabinete, quanto pela militante filosofia desse milionário do Grand Old Party...

                      Sem embargo, até mesmo o mal pode trazer o bem e, por conseguinte, boas consequências para os Estados Unidos. Se Donald Trump não desmentir o passado retrospecto, é de prever-se  que, já nas eleições intermediárias de 2018, o Congresso pode balançar, e se Trump meter os pés pelas mãos, como é seu hábito, não se pode excluir que o Senado volte ao regaço democrata, e no biênio seguinte se opere o milagre na Câmara baixa, afinal levando de volta à presidência, como Madam Speaker a Nancy Pelosi, a corajosa e hábil representante democrata. E se tal acontecer, terá o burrinho democrata sobejos motivos para agradecer a ajuda recebida do 46º presidente...



( Fontes: Michael Tomasky, Elizabeth Drew, e outros articulistas  em The New York Review; e  The New York Times )

Nenhum comentário: