sábado, 14 de janeiro de 2017

O Dossier contra Donald Trump

                 

       Agita atualmente os Estados Unidos, nesses dias que precedem a inauguração da nova Administração, a ser presidida por Donald Trump, a divulgação de misterioso dossier sobre os laços do presidente-eleito com a Rússia.

       Conhece-se o responsável pelo resumo de tais atividades, que é experiente espião britânico. Com efeito, Christopher Steele, assaz respeitado nos círculos da discreta e, para muitos, perigosa atividade, foi engajado para coletar dados negativos de Trump, como festinhas com prostitutas, negócios de suborno com propriedades imobiliárias, assim como a coordenação com os serviços de inteligência russos acerca do hacking dos comitês do Partido Democrata.

        Que os leitores me perdoem, mas falar de dossier para mim é um tanto relembrar a grande novela de Dias Gomes,  Roque Santeiro,  interpretada por Lima Duarte, o Sinhozinho Malta a girar nervoso as suas inúmeras pulseiras, sempre pensando no misterioso dozier que os seus inimigos urdiam contra ele, sem falar de possíveis suspicácias sobre a fidelidade da Viúva Porcina, Regina Duarte.
        A esse propósito, a Censura, se ainda existisse, decerto proibiria com o próprio carrancudo semblante qualquer reedição das grandes novelas da Globo no passado, por não aguentarem o cotejo com as atuais, excetuadas talvez as sob a magistral direção de Luiz Fernando Carvalho, como Meu Pedacinho de Chão e Velho Chico, tão tragicamente entrecortado. E não é de esquecer a clássica de Benedito Ruy Barbosa, Pantanal, a novela imortal da Tevê Manchete, que com o seu fulgor de cometa infelizmente desapareceu. 

         Mas voltemos a este novel dossier, com os sólitos lúridos detalhes desse tipo de documento, que tantaliza a muitos com menções salazes  de sexo, suborno e outras palavras menos publicáveis.
          Por respeitável que seja na sua profissão, não era de esperar que chovessem encômios para Chrs. Steele.  Para o objeto, Mr Donald Trump, as alegações não passariam de fabricações de estilo nazista, e urdidas por gente malsã. Não obstante, esta coleção minou a relação da nova Administração com as agências de inteligência. Terá igualmente lançado, na opinião do New York Times, uma sombra sobre o novo governo.

             Para James Clapper Jr., diretor da inteligência nacional, além de deplorar-lhe  os vazamentos, acrescentou que as agências de inteligência "não fizeram nenhum juízo quanto à confiabilidade do documento."

              Não diferindo de exemplos anteriores, os detalhes mais importantes - como o que é verdade - são por um tempo retirados de circulação. Assim, ficam na sombra os laços da equipe Trump com a Federação Russa e  Putin, em particular.
               Esse dossier sobre Trump semelha ser documento feito por muitas mãos. Nesse contexto,  Fusion GPS, dirigido por Glenn Simpson, antigo jornalista especializado em Wall Street, juntou material relativo a negócios e entretenimento.

               Quando Trump tornou-se o favorito para a nomination, desapareceu o interesse do GOP em financiar qualquer esforço desestabilizante do candidato, mas essa turma foi substituída pelos partidários de Hillary Clinton.

                Agora que a candidatura democrata de Hillary virou nota bibliográfica, embora corram ainda pesadas dúvidas sobre como acabará o post-mortem dessa estranhíssima derrota, mais uma vez abatida sobre quem tem mais votos no pleito, como também foi o caso de Albert Gore. Não será acaso tempo de acabar com essas velharias do século XVIII, e ao invés de caprichos geográficos, deixar que a voz majoritária da gente americana seja ouvida claro e bom som sem mais intermediários do que o computo dos votos indiretos que tantos absurdos podem engendrar, como v.g. os governos de George W. Bush (que abriu as portas para o decline) e agora, para Donald Trump, cujas qualidades bem cedo pesarão sobre o povo americano?



( Fonte: The New York Times )

Nenhum comentário: