segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Explosão de barbárie?

                   

       A revista VEJA desta semana  na sua reportagem de capa se refere à Explosão da Barbárie nas prisões brasileiras.
       Parece-me importante que publicação com o alcance do semanário VEJA se ocupe do tema, que tem levado muita insegurança a brasileiros, sobretudo aqueles que vivem em bairros ditos populares.
       Sabe-se que o transporte público se vem tornando refém do crime organizado, e para tanto, não são necessárias muitas citações. Basta falar em Florianópolis, para que se faça idéia da capacidade da mala vita em tornar a condução pública virtual refém das diretivas e represálias de criminosos.

       Os presídios brasileiros foram abandonados por muito tempo, sendo até a sua administração terceirizada, como em Manaus, com as consequências que podem ser vistas nas cruéis e mesmo bárbaras condições impostas pela revolta naquela prisão.
       A barbárie a que alude VEJA já está presente - e como! - na revolta dos presos de Manaus.
    
     Por muito tempo, os governos federais e estaduais terão  considerado possível e até mesmo viável que se pudesse coexistir com tal situação. Dessa dúbia atitude - que relembra o Antigo Regime em que os cárceres pré-revolucionários eram uma espécie de Inferno de Dante, com a distinção, porém, de que Virgílio e o seu grande discípulo lá não apareciam -  o chamado Presídio de Porto Alegre é  triste espécime dessas características que levaram à confissão do Ministro José Eduardo Cardozo, logo ele Ministro da Justiça de Dilma Rousseff, a afirmar que preferia morrer a ficar por longos anos preso em tais prisões. 

         O leitor poderá julgar quiçá que repito demasiado a assertiva de Cardozo, que teria pelo menos a condição atenuante da sinceridade no próprio desabafo. Tenho referido,outrossim, o famoso Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria (1738-1794), que foi o grande vulto no iluminismo penal com o seu livro célebre " Dos delitos e das penas ", em que  combatia a selvageria legal e as penalidades cruéis e muita vez desproporcionais aos  respectivos crimes.
            O nobre Beccaria enfrentou dificuldades e os percalços do exílio pela sua coragem na publicação de obras dentro do espírito do Iluminismo do século XVIII. Contribuíu, assim, para tentar corrigir as condições prevalentes,  tentativa empreendida longe das proteções do poder.

             A disparidade e o contraste me parecem suficientes para deplorar a expressão do Ministro José Eduardo Cardozo, que, ao invés de falar sobre as incríveis condições das prisões no Brasil, não poderia acaso contribuir com medidas que combatessem o barbarismo ambiente?

             A situação das cadeias no Brasil só poderá ser aquilatada - com vistas a ulterior melhoria - se aqueles cenários de barbárie que vem sendo referidos em reportagens da tevê e nas revistas e jornais fossem objeto de projeto nacional em que as prisões seriam classificadas em  série de programas, nos quais, com fundos  orçamentários e sem a chaga da terceirização, se passaria à completa reestruturação do serviço carcerário em terras brasileiras. Afastada a corrupção - o que causaria a demolição de estabelecimentos que hoje são dessacrantes da condição humana - se procederia, com verbas do Estado, e sob supervisão que evitasse a repetição da corrupção com outras vestimentas, a uma reestruturação completa das prisões no Brasil.  

             Urge retirar os presídios do Brasil dos calabouços e das enxovias do século XVIII, e após a respectiva demolição - que abrange não só a crueza presente, mas também a hipocrisia de tantos governantes - que se implemente programa sério, voltado para a recuperação, e não para o aprofundamento do banditismo, em que reparar a presente condição dos presídios se torne uma das prioridades nacionais.

              Para um Povo  que construíu Brasília, será decerto possível levantar cadeias em que prevaleçam condições de humana dignidade e não  o que ora se vê.  Não é caso decerto de envolver o Exército Nacional em tais tarefas. Vamos construir estabelecimentos penais que mostrem ao mundo, que o Brasil além de criar Brasília, pode criar situações em que o homem volte a ser valorizado, ao invés de serem transformados em escolas do crime, e tudo isso nos livraria da corrupção que hoje se alastra tanto fora, quanto dentro das cadeias.



(Fontes: Dante Alighieri, Marquês de Beccaria, José Eduardo Cardozo e o presidente Juscelino Kubitschek) 

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