domingo, 8 de janeiro de 2017

O interesse de Cármen Lúcia

                    

        Nesse aparente deserto de idéias da Administração Temer, são de assinalar-se as indicações pouco alentadoras dadas pela justa demissão de seu Secretário da Juventude, assim como o comportamento do atual Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes (PSDB).
        Foi, portanto, com agrado que me inteirei da reunião de três horas, ocorrida por iniciativa da Ministra Cármen Lúcia, Presidente do Supremo Tribunal Federal, para debater com o Presidente Temer a crise penitenciária após as chacinas.

        Preocupada com o agravamento da situação nas prisões depois dos massacres nos presídios de Manaus e Roraima (com 93 presos mortos ao todo), a Ministra Cármen telefonou  para o presidente  na última sexta, para solicitar encontro no domingo. Havendo Temer pedido se antecipasse a reunião para o sábado, a conversa se realizou ontem, dia sete, e durou aproximadamente três horas.
           Nada transpirou acerca da conversação.  No entanto, a presidente Cármen Lúcia, na semana passada, depois da morte dos 56 presos em Manaus,  reunira-se com integrantes do Conselho Nacional de Justiça, e, em consequência, foi criada Comissão para monitorar a situação nos presídios.

           Na semana passada, o presidente anunciara medidas emergenciais para tentar amenizar a crise. Por sua vez. a Ministra Cármen Lúcia esteve em Manaus na 5ª feira, conversando então com autoridades locais sobre a situação carcerária.  Nos bastidores, Cármen Lúcia questiona dados apresentados até agora e sugeriu que o IBGE elabore um novo censo  sobre o sistema penitenciário.
            Desde que tomou posse como presidente do STF e do CNJ, em setembro de 2016, Cármen Lúcia tem dito que quer priorizar os presídios e está preocupada, em especial, com as condições dadas às detentas grávidas. Nesse sentido, ela tem visitado a várias unidades prisionais desde que está na presidência, mas por enquanto não tomou ainda nenhuma medida nesse setor.

              Discreta, ela não fez nenhuma declaração sobre os dois motins de 2017, que foram o segundo e o terceiro maiores massacres na história do Brasil, inferiores apenas ao massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992, quando 111 presos foram chacinados.

              Da mesma maneira que a ministra, também o presidente Michel Temer demonstrou  preocupação com a situação carcerária. Nesse sentido, e para debater a crise da segurança pública no país, houve reunião dele com os chefes dos poderes: Cármen Lúcia, Renan Calheiros (Senado), e Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

                Assinale-se que essa iniciativa também partiu da Ministra Cármen Lúcia. Ela ficou muito impressionada com a condição de presídios  que visitara recentemente.
                 Note-se que não é de hoje que a Ministra acompanha a situação dos presídios.  Ela já integrou a Pastoral Carcerária, da Igreja Católica, e antes de ser Ministra, tinha o hábito de realizar anonimamente trabalhos voluntários em presídios.

                 Enquanto for presidente do Conselho Nacional de Justiça (e do Supremo Tribunal Federal) nos próximos dois anos ela pretende visitar presídios em todas as unidades da Federação.
                Nesse sentido, a Ministra tem a intenção  de aumentar a eficácia  do monitoramento dos presos, além de melhorar o acompanhamento do cumprimento das penas.

               Na crise presente do sistema carcerário, é de toda oportunidade que a decenal (senão secular) displicência reservada ao arquipélago de prisões do Brasil - e caberia aqui referência ao grande escritor russo Alexandre Soljenitzin, que escreveu e sofreu no arquipélago dos gulags da então União Soviética - merece toda nossa atenção, respeito e apoio o meritório e enfático interesse ora evidenciado pela Presidente do Supremo Tribunal Federal, a Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha.


( Fontes:  O  Globo,  obra de Alexandre Soljennitzin: Arquipélago Gulag )

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