sábado, 21 de janeiro de 2017

Reações contra Trump

                                  
        A direita populista está no poder. Por quanto tempo nele ficará, só Deus sabe. A reação contra as ideias e as proposições de Donald John Trump, ainda que diminuídas de início pelo imenso espaço que confronta o Capitólio em Washington,  teve a repercussão como que reduzida também pelas características da cobertura oficial do evento. 
        Até o momento não se fez qualquer referência à presença da candidata supostamente derrotada nas eleições de terça-feira, oito de novembro de 2016, dentre os assistentes nos assentos reservados do Capitólio da cerimônia oficial da posse.
         Na verdade, Hillary acompanhou o próprio marido Bill Clinton, um dos presidentes mais populares dos Estados Unidos, mas tal não faz desconhecer-lhe o real significado da aceitação pela candidata democrata das regras do jogo, por mais trucadas que elas tenham sido, como marca a inusitada intervenção do Diretor do F.B.I. James Brien Comey, no andamento dos comícios, notadamente durante a votação antecipada que muitos eleitores americanos costumam utilizar.
           Mas as clamorosas injustiças não sóem guardar silêncio por muito tempo. Muitos choques com a polícia ocorreram ontem, no imenso mall que circunda o Capitólio. Houve violência nos confrontos, e mais de duzentas prisões foram feitas pela polícia. No corrente sábado, a principal marcha de protesto deve realizar-se nesse espaço nacional acima referido.
           Todavia, não se iludam, pois cresce a indignação das mulheres, não só pelas idéias misóginas do novo Presidente - como as sinalizou durante a campanha presidencial, com observações sobre Megyn Kelly, Carly Fiorina (efêmera candidata à nominação no GOP) e a própria Hillary Clinton. Esta última sempre foi detestada e perseguida pelo estamento republicano, como o sinalizam, às mancheias, as dezenas de sessões que a Câmara de Representantes, hoje e ontem com a firme maioria do gerrymander, convocara no seu esforço de atrapalhar, atenazar e abafar a candidatura democrata de Hillary, que já se prefigurava no horizonte pós-Obama. Tais republicanos ganhariam dádiva inesperada, com que singular e tristemente contribuíu, durante a eleição (em especial, a antecipada) o já amplamente referido diretor do FBI, máxime para os peculiares anais da história, do vale-tudo e do preconceito.
           Tudo indica que o inverno em Washington terá versão amena neste sábado. Como o sinaliza o New York Times as conquistas a serem defendidas incluem liga abrangente e extensa, em que se contemplam as reprodutivas, do meio-ambiente, da equidade nos salários,da justiça racial, as das comunidades L.G.B.T.[1], , e os direitos dos imigrantes, estes mais ameaçados do que nunca.
           Preocupam deveras o estamento liberal as idéias retrógradas do novel presidente quanto à liberdade sexual e, em especial, contra a sentença Roe v. Wade, que é vista pelas mulheres como expressivo marco do direito de aborto. Há fundados temores que a idade de dois membros do Supremo com mais de 75 anos (a aposentadoria nos EUA para tais juízes depende exclusivamente da vontade dos próprios) já sinalize eventual brecha para a futura ação de Trump. Por outro lado, o Senado, com maioria do GOP sequer animou-se a considerar a ótima indicação de Obama do juiz Merrick Garland para preencher a vaga aberta pela morte de Antonin Scalia em fevereiro de 2016 no Supremo. Tal inusitada decisão, adotada pelo líder republicano Mitch McConnel, mostra a suposta primazia no interesse do GOP de manter a maioria na Corte Suprema, através da jogada de deixar a questão para o próximo governo. A sorte - ou seja lá o que for - os favoreceu, deixando, no entanto, o pouco honroso rastro de privilegiar o  partido, mesmo sobre o interesse da Justiça.  

( Fonte:  The New York Times )



[1] lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

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