sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Oposição rompe o diálogo ?

                              

         A paciência, talvez excessiva, da Mesa de Unidade Democrática chega ao fim. A negociação, mediada pelo Vaticano, era conduzida pelos ex-dirigentes Luis Rodriguez Zapatero (Espanha), Martin Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana).
         Em nota, a coalizão opositora MUD disse que a tentativa de diálogo "é um capítulo encerrado que não voltará a se abrir". Outrossim, chamou seus seguidores a reforçarem os protestos contra Nicolás Maduro. Aduziu o comunicado que "o descumprimento dos acordos e, sobretudo, a resposta grosseira e soberba do regime às demandas do Vaticano revelaram o que o Povo venezuelano já sabe por demais: que esse regime não tem palavra".

       Em sua carta, o Secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, pedira ao chavismo que acelerasse a liberação dos opositores presos, a entrada de ajuda humanitária e o fim da declaração de desacato da Assembléia, em que a oposição goza de ampla maioria.
       Tais condições, colocadas a 1º de dezembro de 2016, irritaram Nicolás Maduro, que chamou o Vaticano de "sabotador" e "cúmplice na tentativa de implodir o diálogo". A esse respeito, Brasil, Argentina e Colômbia apoiaram a posição de Parolin.

        Com a virtual ruptura no diálogo, cresceu a convicção para a oposição  que somente através  da mobilização popular é que será possível levar Maduro a convocar eleições que abreviem o seu mandato, cujo encerramento formal está previsto para 2019.
         Diante da manifesta má-fé do regime - Maduro se serve do diálogo para protelar a crise no país  até a próxima eleição - a ruptura entre Governo chavista e a MUD se agrava cada vez mais.

         Estão presentes todos os elementos que mostram ser a situação irreversível em termos sócio-políticos. Espanta mais não o agravamento da crise, mas a persistência do chavismo em aferrar-se a slogans, como se fora possível sustentar tal estado de coisas até 2019: desabastecimento de remédios e alimentos,  hiper-inflação (500% em 2016), e a patente incapacidade  do chavismo de reverter a crise e encaminhá-la para solução, tudo isso dá um sentido dramático às demandas da Oposição, enquanto persiste e se agrava a profunda insatisfação popular, como dado permanente.

             O estado de coisas na Venezuela lembra uma barreira com muitas fissuras, que à luz do bom senso e da capacidade física de resistência a tais situações,  vai romper-se apesar das declarações do Governo, de sua fuga da realidade, sem embargo das hesitações da Oposição.
            Esta última, em meio à revolta do Povo e a incrível arrogância do chavismo, sabe que o regime tem o seu tempo já marcado. O trágico da situação está na circunstância de que a Oposição não parece ter líderes até agora, pelo menos os que crescem diante do desafio colocado pela crise..

            O problema em tais situações é que acaba por surgir, em meio à massa popular, alguém que reflita a exasperação crescente diante da má-fé e estúpida arrogância do chavismo.
            É uma situação física. A barragem do governo Maduro não mais existe, embora o chavismo aja com a insolência de quem se crê protegido por massa de concreto. Se e quando descobrir que não mais é assim, para muitos será tarde demais.




( Fonte: Folha de S. Paulo

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