terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O Culpado é...Ferrabrás!

                 
         Nunca um governo mostrou tanto a própria incapacidade na sua primeira semana quanto o de Donald John Trump.
          A coisa chegou a tal ponto que a demissão da attorney-general interina do Departamento da Justiça, Sally Q. Yates - que nomeada por Barack Obama exercia interinamente o cargo - sublinhou uma inconveniente verdade: a exonerada Sally - que quisera evitar a desmoralização dos advogados da Justiça a tentarem defender o indefensável, do único modo que julgou possível: abster-se  de dar qualquer fundamentação jurídica aos atos do Presidente.

          A falta de bom senso, por mais comezinho que seja, está em toda parte. Por onde se procure, a começar pelo próprio Trump se verá mediocridade (como em Frank Perry, Secretário de Energia).
          Talvez no futuro, o sistema de comando na Casa Branca seja apontado como o exemplo marcante da desorganização extrema. Na verdade, não há sistema propriamente dito.Temos personalidades que se superpõem, e nenhuma aparece mais, pelo visto, num esquema de desorganização criativa do  que Stephen Bannon (guardem esse nome!)

           Como a análise feita pela junta editorial do New York Times evidencia, esse processo - que é o velho esquema do favoritismo real se colocando na sede do poder da superpotência - leva o über-favorito até ao Conselho de Segurança Nacional, antes reservado apenas aos Secretários de Estado e da Defesa, e mais algumas (poucas) altas autoridades.    
            E, como se tal não bastasse, Trump também nomeou Bannon para o "comitê dos principais", do C.S.N.,que inclui as mesmas altas autoridades citadas acima, mas se reúne com muito maior frequência.

            Por outro lado, pensando dar maior eficácia à reestruturação personalista, a ordem executiva de Trump diz que o presidente da Junta de Chefes militares e o Diretor da Inteligência (Espionagem) participarão das reuniões do  comitê dos principais "quando questões que digam respeito a suas responsabilidades e conhecimento técnico (expertise) devam ser discutidas".  Existem por acaso discussões sobre segurança nacional em que elementos das agências de inteligência e do estamento militar não sejam necessários?
                 Esse sistema de favoritismo oriental não tem condições de funcionar em país como os Estados Unidos. Como a primeira (desastrosa) semana o demonstra amplamente, Mr Trump não tem base sólida para chegar a decisões sobre segurança nacional, nenhuma sofisticação na governança  e reduzida compreensão aparente de o que é necessário para liderar uma nação tão grande e diversa.
                  Os primeiros dias da Presidência Trump mostraram o quão despreparado e pouco sensível às realidades externas aos Estados Unidos está o candidato eleito sem qualquer experiência de governo.  A maneira com que iniciou o seu mandato mostra que ele carece de assessores que possam pensar estrategicamente, e sopesar as eventuais consequências de segunda e terceira ordem , que vão além dos efeitos políticos imediatos no plano doméstico.

                      A falta de sutileza de Mr Trump pode ser um asset eleitoral, mas está longe de ser um guia seguro na floresta das relações externas da Superpotência.
                        Se Trump possui algum juízo na cachola, precisaria  conscientizar-se que o esquema do personagem-favorito pode lhe ter ajudado a vencer as eleições - ainda que os falsos avisos do diretor James Comey semelham ter tido muito maior efeito - mas não será esquema válido para atravessar incólume a floresta das relações políticas e econômicas da Superpotência. Melhor seria, portanto, ter junto de si não fabricantes de crises, nem aqueles que logram em minutos transformar um céu de brigadeiro em um oceano com vagas enraivecidas trazidas pelo favorito da vez.  Essa gente pode servir-lhe para ganhar eleições, mas para administrar um país semelha preferível chamar pessoas que entendam do riscado.
                          Já computou tudo o que perdeu com a desorganização, a falta de sentido político e a abundante ignorância dos primeiros ukases? Chame agora a gente do ramo, os políticos experientes, não aqueles que querem agradá-lo a todo vapor, ainda que seus métodos sejam desastrosos e redespertem forças que pareciam dormentes e que seria melhor que assim ficassem.  Governe, antes que seja tarde! É o único meio de evitar  o impeachment!


( Fonte:  The New York Times )

Jurídico ou Político ?

                                                           
                            
         No caso, os dois aspectos se entrelaçam, e será difícil determinar qual predomina. Se o momento tem fundas conotações jurídicas - e a atuação da Presidente Cármen Lúcia pode reforçar o apetite dos leguleios - quem ousaria determinar que este predomina sobre o político, que, em verdade, por ora, parece por ele condicionado ?
         Outro comentário da Folha, este de Bernardo Mello Franco, parece preferir uma solução bem ao gosto brasileiro. Com o suposto risco que corria o acordo da Odebrecht com o Ministério Público, a sua homologação pela Ministra Cármen Lúcia teria evitado o pior.
         Assim, na interpretação do jornalista, a presidente frustrou a operação-abafa, mas evitou contrariar mais interesses e manteve os papéis em sigilo.
         Mas não será acaso um segredo brasileiro, como transpira da própria nota da Folha?             Como se vê pela nota de Mello Franco, muito já deve haver transpirado, com a menção dos candidatos favoritos para vencer as eleições na Câmara e no Senado, com os nomes de "Botafogo" (Rodrigo Maia) e "Indio" (Eunício Oliveira)


  ( Fonte: Folha de S. Paulo )      

Cármen Lúcia prefere o sorteio ?

                              

          Prefiro interpretar a notícia da Folha de hoje, como uma suposição jornalística de alegado  procedimento da Presidente do Supremo Tribunal Federal no que tange a como atribuir a relatoria das investigações - antes sob a responsabilidade de Teori Zavascki  - a um dos membros da 2ª Turma da Corte.
           Como se sabe, a 2ª Turma é integrada por Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e o decano Celso de Mello. Também a comporia, segundo pensamento de Carmen Lúcia (sempre de acordo com a Folha) o Ministro Edson Fachin, dado o interesse mostrado pelo novel membro da Corte Suprema para integrar tal colegiado.
            O sorteio para qualquer lugar é sempre uma solução arriscada. Confiar na sorte - sobretudo em determinados casos quando haveria outras opções -  seria cousa de jogador... Não me parece, s.m.j. por conseguinte,  que a Presidente Carmen Lúcia vá enveredar por caminho que possa acabar mal. Lembrando-se, porém, de Magalhães Pinto e a sapiência mineira, não é má solução deixá-lo por conta de quem de direito...



( Fonte:  Folha de S. Paulo )

Temores do GOP sobre a Lei da Saúde

                          
          Longe do público, os congressistas republicanos se reuniram em Filadelfia para discutir sobre os planos de desmontar o Obamacare.
          Através de gravações que foram obtidas pelo New York Times, se vê que a atitude das bancadas de congressistas republicanos em privado é muito diversa de seus discursos públicos.
         Estes destilam ódio e menosprezo ao referido Obamacare - votado por Congresso de maioria democrata, sem colher um só voto do GOP - a que hoje a maioria republicana procura desfazer de toda maneira.
         No entanto, não fora a derrota inesperada de Hillary, e a maioria no Senado, este problema não existiria, eis que a Reforma da Saúde promulgada por Barack Obama como Lei do Tratamento Médico Sustentável vai muito bem, obrigado.
          Há mais de vinte milhões de americanos de baixa renda que dispõe do guarda-chuva da Assistência Médica dessa nova Lei.
           Movidos pelo ressentimento, os  republicanos, sem saber bem porquê, odeiam a Lei da Reforma Sanitária, talvez por ser de autoria democrata e implantada pelo Presidente Obama. Essa oposição é  postura quase animal, como se o bando político nos dias correntes deva rejeitar o que não for iniciativa dele.
           Por isso, não surpreende nem um pouco que, em particular, os representantes republicanos manifestem a própria inquietude e até mesmo medo, com a reação do Povo americano, ao ver-se despojado do popular ACA, e ter de voltar aos velhos tempos de pagar caro por qualquer tratamento mais sério de ordem clínica.

          A gravação da reunião de Filadelfia, obtida à sorrelfa, mostra a inquietude, sobretudo dos back-benchers (políticos de menor expressão), que se perguntam como vão poder explicar para o povão por que Trump veio tirar-lhes a cobertura médica barata, que é dada pelo dito Obamacare.
           Como as assertivas dos figurões do GOP de que tudo se resolverá, e que a nova maioria  logrará montar um substitutivo aceitável para a reforma médica de Obama, não podem convencer a raia miúda do Partido Republicano, eles temem ser atingidos politicamente pela previsível reação do povão, em outras palavras, perderem as cadeiras no Congresso pela irresponsabilidade de desmontar um esquema - que está funcionando - essencialmente por nada.


( Fonte:  The New York Times )

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Técnicos do Vasco (II)

                      

         Para um time, como o Clube de Regatas Vasco da Gama, que foi campeão invicto no certamen carioca do ano passado, diz muito a fraca atuação e a derrota acachapante por 3x0 diante do Fluminense F.C..
         Impossível qualquer semelhança do atual Vasco com a grande equipe  dos anos quarenta e cinquenta (base da seleção brasileira de cinquenta,  que dirigia Flávio Costa, também técnico do CRVG) . Infelizmente, essa equipe deixou escapar o título a 16 de julho de 1950, quando o goleiro Barbosa 'aceitou' chute não muito forte do ponta Ghiggia, do Uruguai, a pouco menos de oito minutos do apito final, diante de multidão de 220 mil pessoas, a maior lotação do Maracanã em todos os tempos.
           As vezes, aos trancos e barrancos, o Vasco foi grande equipe até princípios do século XXI - quando conquistou em São Januário o título brasileiro contra o São Caetano, a surpresa do ano. Perdeu, pouco depois, em Maracanã lotado, o título mundial para o Corinthians. Nesse caso, na decisão por pênalti, Edmundo tremeu diante de Dida e não converteu. Depois, inegável decadência - já sob a presidência de Eurico Miranda, que dera o citado último título brasileiro ao CRVG - interveio, com três quedas para a Segundona, todas elas com a duração de um ano. Na primeira delas, o Vascão foi campeão, título que decerto nenhum time tem muita alegria em exibir.
             Sucedeu a Eurico o antigo jogador Roberto Dinamite. O Vasco foi concorrente sério (contra o Corinthians) para o Campeonato Brasileiro, mas a fraqueza de seu comando (no que tange à direção da CBD), em especial do presidente Dinamite, acabou permitindo que o Corinthians fosse o campeão. Pensando impressionar, Roberto Dinamite organizou espécie de exposição em que reivindicava para o Vasco o campeonato "moral". Realmente, as "injustiças" foram muitas, ajudando pontualmente ao Corinthians para manter o Vasco uns pontinhos abaixo, e assim ganhar o clube paulista o campeonato brasileiro.  De que adiantou o Dinamite realizar exposição em que se proclamava Vasco, o campeão moral do Brasileirão?  Nada...

                Mas voltemos à decadência do CRVG... Depois de vice-campeão, mais uma vez tornaria à Segundona. Jorginho, se não conseguiu salvar o Vasco nesta oportunidade, continuou como técnico . Logrou a colocação necessária para mandar o time de volta à  1ª divisão a duras penas, e como prêmio Eurico lhe deu o bilhete azul. Jorginho é bom técnico, a ponto de, quando o Vasco estava em melhor fase,  mas na série B,   chegou até a acercar-se do record estabelecido pelo Expresso da Vitória em termos de série positiva, superando, creio eu,  vinte jogos sem derrota.
                   É difícil determinar por que razão  o presidente do Clube preferiu dispensar Jorginho, que, enquanto no Vasco, fora convidado para ser técnico de vários times da primeira divisão.  Motivava esse interesse de outros clubes a alta qualidade técnica do trabalho do antigo craque da seleção, Jorginho.
                    Como já indiquei, Eurico preferiu livrar-se de Jorginho e chamou para substituí-lo a Cristóvão Borges. Esse último já atuara nessa condição no Vasco, mas nada conseguira. Agora, o Vasco inicia o campeonato carioca - qualquer semelhança com os certamens do Rio de Janeiro  do passado será mera coincidência - descoordenado e sem grandes jogadores, como tem sido a tônica da equipe vascaína nas últimas décadas.
                      Infelizmente, não foi surpresa a péssima atuação do CRVG. E com plantel de jogadores veteranos, sem grandes craques (talvez com exceção do goleiro, que é reserva da seleção uruguaia), a perspectiva não é boa para o campeonato carioca.  Mais adiante, com tal plantel e técnico, as perspectivas serão ainda piores.  O CRVG continuará a ter passado de glórias, mas dele se afastará sempre mais... Problemas, portanto, na permanência  na Primeira Divisão, o que, para os torcedores é triste, sobretudo se se tiver presente que o presidente Eurico Miranda optou por livrar-se de Jorginho, que sempre, dentro das  possibilidades, e tendo presente a fraqueza do material humano à disposição, se caracterizara pela  qualidade no próprio trabalho. Dêem a Jorginho jogadores de melhor qualidade, e ele deles retirará um grau superior nas respectivas capacidades.  Agora, com Cristóvão Borges, que já passou pelo CRVG, tendo sido afastado por fraco desempenho, é difícil saber o que norteou a sua escolha por Eurico, a que se acresce  o bilhete azul ao competente Jorginho.  São calinadas que logo farão a torcida gritar pela volta do técnico anterior.  Mas com a qualidade do Jorginho, não será fácil encontrá-lo disponível.

                         Será que a ainda grande torcida vascaína não merece coisa melhor?

Trump encurralado?

                              

       O virtual banimento de muçulmanos dos Estados Unidos, segundo determinam os decretos da nova Administração  já mencionados  anteriormente, está provocando reação mundial bastante negativa para o governo Trump e, obviamente, para os Estados Unidos.
       Para quem pensava estar por cima da onda, com a sua série de investidas contra a Administração democrata anterior, o que está acontecendo é exatamente o contrário.
       Por um lado, a operação anti-Islã é um desastre americano em termos de relações públicas, pela maneira como é conduzida, pelas estranhas exceções que admite, e sobretudo pelo desrespeito de segmento significativo da população mundial, que é suspeita por princípio antes que se determine algo de concreto contra os diversos cidadãos cuja existência se vê de forma irresponsável submetida às provações mais cruéis, inesperadas, e intempestivas, como o decreto anti-Islã do Governo Trump o vem demonstrando à saciedade.
      Por outro, há grande reação na Europa ocidental - em que as respectivas populações tem segmentos relevantes de credo e origem islâmica.

      Há duas reações da população tanto americana, quanto europeia, que evidenciam a força desse repúdio ao caráter racista e/ou preconceitual de tais normativas. Assim, avoluma-se na Grã-Bretanha a votação negativa contra o Presidente Trump. Em consulta popular, se ele deve ser convidado a visita oficial ao Reino Unido, a população britânica, com mais de um milhão de votos negativos, veta o jantar oficial no Palácio Real, por constituir cerimônia que representaria um embaraço para Sua Majestade a Rainha Elizabeth.
        Por outro lado, o Senador Chuck Summer (Dem.-NY) chorou ao ser inteirado do sofrimento causado a  família e, em especial, a uma criança, por força das dificuldades a eles impostas pela Ordem Executiva baixada por Donald Trump.
       Ao ser informado da atitude do Senador democrata, a reação de Trump  foi declarar que as lágrimas de Chuck Summer eram falsas...
        Como a filmagem da ocorrência não deixa qualquer dúvida da emoção sentida pelo Senador Chuck Summer, e o seu rictus facial o exprime de maneira inegável, a negativa do Presidente o coloca em ainda pior situação, pela incapacidade de reconhecer o óbvio, a par de tentar desmerecer a reação humana do Senador Summer com insensibilidade  que se aproxima do grotesco.    


( Fonte:  CNN )

domingo, 29 de janeiro de 2017

Carta a Hillary

                                      
        Escrever sobre Hillary Clinton agora que a banda passou, o concurso terminou parece sempre mais difícil.
         Achei engraçado, estranho mesmo que  Donald Trump se tenha encasquetado que a vitória de Hillary na votação popular haja sido o fruto de... fraude eleitoral.
      Essa alegação parece patética demais para que se pense dar-lhe  uma resposta séria. Sem embargo, ela nos convence de outro fato, que também semelha inegável.
         
         Pois Donald Trump continua a ser o menino mimado que está destinado a herdar todo o poder do próprio pai... e quem sabe, muito mais.
          Que Donald John Trump não se contenta com pouco.  E é exatamente por isso que é difícil para ele conviver com o fato de que a hodierna Hillary,  a que a mídia cita sempre menos, e quando o faz, carrega no aspecto picaresco  (Hillary, a estóica) - além de achar bizarro que a sua obsessão em diminuir - ou melhor reverter - a vantagem obtida pela adversária em uma potoca da mídia, como se fossem votos de imigrantes ilegais...
            Não sei como Trump vai terminar - a mega-confusão aprontada  pela Ordem Executiva contra o Islam já mostra que a confusão e o caráter primário de sua suposta investida contra o terrorismo não poderia ter sido mais cheia de furos e de inépcias do que a sua campanha - que espalhou sofrimento  por tanta gente - de verdadeiro ferrabrás  obsessivo está demonstrando.
       
         Nada disso ocorre à toa.  Mr Trump desperdiça a boa vontade e o respeito devido ao presidente iniciante.  Se a sua incapacidade ou falta de visão vai sendo demonstrada sob os olhares nervosos de seus até aqui fiéis partidários, e se nesse exercício  o campeão da direita vai desperdiçando a sua mágica de invencibilidade, a aliança que o elegeu sente crescer-lhe o nervosismo que é filho da própria incapacidade.
       Entende-se que o discurso dos republicanos mude se é feito no segredo das câmaras - porque como se traduzirá o desastre anunciado com o Obamacare? É fácil destruir uma legislação que beneficia vinte milhões de eleitores?  Teoricamente, sim, porque o GOP dispõe da maioria nas duas casas - a primeira, a da Câmara de Representantes, com o gerrymander; a segunda, no Senado, a cada dois anos, em pleitos abertos e sem maracutaias. Trocando em miúdos, a primeira é uma rocha, mas sujeita a chuvas e trovoadas se os ventos mudarem, e a Justiça começar a determinar a refeitura dos distritos eleitorais, hoje em muitos estados desenhados na lógica bandida inventada por aquele governador do Massachusetts, no século dezenove.


                   Então, se o governo Trump gastar toda ou quase toda a sua popularidade em canoas furadas, as consequências não tardarão a sobrevir no Legislativo. Um presidente impopular não tem coat-tails - aquelas abas de casacão que ajudam os demais políticos do mesmo partido a se reelegerem.
                    Mas tudo isso não é pr'a já. É decerto um processo lento, mas nada como erros garrafais - a exemplo dessa campanha contra os muçulma-nos - para preparar e amaciar o terreno, e tornar o que parecia impossível, possível.

                    E é aí que Hillary Clinton deve entrar. Primeiro para desmentir a campanha de mentiras que foi feita contra ela. Segundo, manter vivo o esbulho do canal privado de seu computador.  Terceiro,  esquecer  James B. Comey, mas lembrar a ajuda pontual que deu ao adversário, e não por uma só vez, para duas e meia.

                 Será acaso necessário ficar longe de amigos como Barack Obama?  Não creio que seja o caso.  Talvez o maior erro dele tenha sido confirmar o republicano James Comey. O bipartidismo só existe se ambos estão dispostos a reanimá-lo. Não vejo no GOP esse ânimo... Mas não choremos sobre o leite derramado, as acusações  sobre a maneira sloppy de tratar as comunicações, e os dois patéticos chamados à atenção do Diretor Comey aos amigos do Congresso,  os dois contrários ao regulamento da Secretaria da Justiça, mas o último, convenhamos, foi uma tacada daquelas de nocautear a adversária...
              
                  Hillary, não esqueça os seus amigos. Começando pelos afro-americanos. Volte a frequentar as passeatas de mulheres. Por mais que a atitude de muitas seja de desconfiança, elas têm diante de si o que representa o erro de apoiar a quem não tem condições de chegar lá. 
                        Se não deve ter dúvida de que Donald J.Trump pelo seu primitivismo e pelo horror de sua política republicana será um de seus grandes eleitores,  não esqueça nunca os negros, os latinos e as  mulheres. Queiram ou não,  eles são a sua grande base.  Há muito ódio, muita inveja, muita mesquinharia ainda solta, não só contra os Clinton, mas também no Partido Democrata.
                        
                        E, sobretudo, não tenha vergonha de fazer política, de mostrar o quão melhor Você e os democratas têm condição de ser, nessa grande aliança das mulheres, dos negros, dos latinos e de toda a comunidade bem-pensante dos Estados Unidos.
                          Os espertos burros podem ganhar uma eleição - conquanto aí esteja a votação popular para mostrar quem realmente tem maioria nesse país.  Por isso, os democratas serão sempre temidos, porque eles não têm medo de eleição, desde que honestas e abertas a todos.  Não é sem razão que o Partido Republicano tem medo do voto e por isso tudo faz para desencorajar a aliança das minorias populares - que todas juntas, como eles bem o sabem - formam a grande e vitoriosa maioria.

                          
                          Confiança, portanto, Hillary, que a partida mal começa!

Justiça reage ao decreto de Trump

                      
       A juíza Ann M. Donnelly, da Corte Federal Distrital, de Brooklyn, nomeada pelo Presidente Barack H. Obama, veio em ajuda de dezenas de refugiados e outros estrangeiros que se acham detidos em aeroportos nos Estados Unidos, por força da Ordem Executiva do Presidente Donald Trump.
         A determinação judicial bloqueou em parte o decreto do Presidente Trump, ao suspender a ação governamental de deportação de estrangeiros recém-chegados, que haviam sido colhidos pela Ordem Executiva.
         No entanto, a juíza Donnelly optou por deixá-los, por assim dizer, no limbo, eis que os estrangeiros ficaram detidos nos compartimentos especiais do aeroporto, reservados àqueles que não tenham determinada a destinação final. Tampouco a juíza emitiu na sentença qualquer consideração sobre a constitucionalidade da ação presidencial.
         Sem embargo, uma multidão se aglomerou na cercania da Corte Distrital, gritando "Liberte-os". Apressou consideravelmente a emissão da  sentença judicial, quando os advogados da ACLU (União Americana em defesa das liberdades civis) testemunharam na Corte  que uma das pessoas detidas no aeroporto estava sendo colocada naquele momento em avião com destino à Síria para ser deportada.
         De acordo com a supra-referida Ordem presidencial, fica suspensa a entrada de todos os refugiados nos Estados Unidos - a partir da tarde de sexta, 27 de janeiro corrente - por cento e vinte dias. Para os refugiados da Síria, a ordem vale por tempo indefinido, assim como bloqueou o ingresso de passageiros muçulmanos  nos EUA a sete países  dentro de prazo de noventa dias  (Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iemen).

           O Departamento de Segurança Interna também barrou a reingresso de cidadãos desses países  que são portadores de cartas-verde (green-card)  de reentrarem nos Estados Unidos. De início, tais cidadãos que gozam de residência permanente em território americano teriam que decidir a obtenção do waiver (autorização especial) caso por caso.  Não obstante, segundo consta, esta determinação já foi rescindida, e os portadores de green-card podem regressar a qualquer tempo.
               A reação jurídica, defendendo os estrangeiros residentes nos Estados Unidos, subitamente atingidos pela inesperada ordem presidencial, a princípio incerta e hesitante, pelo próprio caráter caótico da determinação do Olimpo, não tardou muito em organizar-se para defender os estrangeiros do voluntarismo e da imprevisibilidade da Ordem Executiva do governo Trump.
                O empenho legal da ACLU começou com o caso de dois iraquianos detidos no Aeroporto Kennedy. Um deles viajava para reunir-se com sua mulher e filho no Texas. O outro trabalhara com o Exército americano durante uma década.
                Quando Hamid Khaled Darweesh, assistente-intérprete do Exército americano no Iraque, depois de dezenove horas de detenção, se viu afinal solto, pôs as mãos para trás, imitando o porte das algemas que até aquele momento lhe tinham sido impostas.
                A família Darweesh - viajara como imigrante especial, com mulher e três filhos - foi separada no aeroporto, com a sua detenção. Como um raio, a ordem de Trump o deixou atônito.  Como explicar tal reação americana depois de dez anos de serviço, trabalhando de intérprete, engenheiro  e encarregado contractual? Daí o pranto, antes de reunir-se com a família. A sua liberdade seria conseguida na base do habeas corpus.

                  Como se vê, a democracia americana muito depende do aporte de organismos civis de defesa dos cidadãos e não-cidadãos americanos.  A ação desses últimos está muito centrada na perpétua vigilância na implementação de tais fins, como no trabalho da União Americana em defesa das liberdades civis (ACLU), diante dos inúmeros casos criados pela irresponsável Ordem Executiva do Governo Trump.
                   Não sei se há fábula sobre algum soberano em que a maldade residia sobretudo na falta de lógica, e portanto na própria cruel imprevisibilidade. Se não existe, Donald J. Trump acabou de inventá-la.
                

( Fonte:  The New York Times )

Prudência - conselheira da Justiça

                        

       Ontem, escrevi sobre Orgulho e Preconceito, valendo-me do título do romance famoso de Jane Austen (Pride and Prejudice) como mote para aventurar-me a conselhos de prudência a Mr Trump. Antecipei-me, sem o saber, à verdadeira reedição estrangeira do Febeapá  (o Festival de Besteira que Assola(va) o nosso país), escrito em tempos da Redentora  por Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.
       Hoje, o editorial do New York Times classifica de Banimento aos Muçulmanos o decreto de  Donald Trump.  Esse editorial também o considera Covarde e Perigoso. Por quê? As respostas para os efeitos da imprudente e preconceituosa ordem presidencial já começam  a entrever-se  por seu título - que o editorial do New York Times chama de ridículo - a saber "Ordem Executiva Presidencial para proteger a Nação do ingresso nos Estados Unidos de Terroristas estrangeiros".
       Talvez a irresponsabilidade esteja na base da decisão presidencial, embora o ukase traga no seu bojo outras características que não costumam estar presentes em resoluções presidenciais que, por sua hierarquia, pressupõem mais cuidado, compreensão e cautela.
       

         Muitos dos refugiados foram colhidos pela cruel e caprichosa rede da ordem de Trump, em chegando aos EUA ao cabo de longo e rigoroso processo de exame, que dura mais de ano. Tal banimento pode desfazer as vidas de centenas de milhares de imigrantes, que acabavam de ver completados longos processos de exame, com plena aprovação para viver nos Estados Unidos, com os vistos ou as permissões de residência permanente.

           Diz muito, talvez demasiado, sobre justiça, falta de sensibilidade e  indiferença presidencial à História, que a Ordem Executiva tenha sido assinada no Dia da Memória do Holocausto.
          Mas não para aí a Ordem Executiva, segundo nos mostra o editoral do New York Times. Ela  carece de qualquer lógica. Invoca o ataque de onze de setembro como razão, ao mesmo tempo que isenta os países de origem de todos os sequestradores que levaram a cabo a conjura, e também, talvez não por coincidência, diversos países em que a Família Trump tenha negócios. Se o documento de forma explícita não menciona qualquer religião, ele segue norma gritantemente inconstitucional ao excluir Muçulmanos, enquanto concede a autoridades do Governo o poder discricionário de admitir gente de outras religiões.

             Como assinala o Editorial do Times, a linguagem da ordem presidencial torna evidente que a xenofobia e a islamofobia que permearam o discurso de campanha de Mr Trump permanecem para manchar de igual modo a sua presidência.
              Por mais contrários ao espírito americano, a linguagem da ordem de Trump deixa claro que por mais antiamericanos que sejam, eles agora fazem parte da política americana.  Ela chega a transmitir  a noção espúria de que todos os muçulmanos devem ser considerados uma ameaça.
             Segundo ainda o Editorial,  a injustiça desta nova política deve ser bastante para levar as Cortes judiciais, o Congresso e  membros responsáveis do gabinete Trump a derrubá-la sem tardança.

            O Editorial do Times também cobra dos Republicanos - que no Congresso não se manifestaram ou tacitamente apóiem a ordem de banimento - que deverão reconhecer que a História deles se lembrará como covardes.
             Diante da insensatez presidencial,  o editorial do NYTimes recorda, outrossim, a posição de vantagem externada pelo atual Secretário da Defesa, Jim Mattis. Ele manteve durante o processo eleitoral posição de sensatez, ao dizer que os aliados dos Americanos se perguntam " se nós perdemos a fé na Razão".  E acrescentou: "agora mesmo tal atitude nos está prejudicando muito, ao mandar ondas de choque através do sistema internacional".

             Por isso mesmo, para o Times, é alarmante o presente silêncio de Mr Mattis e de outras altas autoridades governamentais, cujo conhecimento e atitude não deveria levá-los a prestar seus nomes a tal travesti de justiça.


( Fonte: Editorial de "The New York Times" ) 

Notícias para Boi Dormir

                             

4% de nossas fronteiras são monitoradas


          O Globo deste Domingo noticia que apenas 4% de nossas fronteiras são monitoradas.  Mais adiante, o leitor saberá que não é bem assim. É pior,  eis que o Sisfron  (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), foi iniciado em 2012 e se limita a plano piloto em Mato Grosso do Sul, e com despesas decrescentes...



Venezuela deve US$ 6 bi ao Brasil

              Por sua vez,  o mesmo O Globo fala de calote na importação. Ora, a chamada crise venezuelana não se anunciou de repente. Quem vendeu na base da promessa, ou  estava com febre, bicho de pé ou acreditou no governo de Nicolás Maduro... (de O Globo de 29/01/17)




Sucessor de Renan ataca a Lava Jato


            Favorito para suceder a Renan Calheiros, Eunício Oliveira (PMDB-CE) diz que a Lava-Jato criou prerrogativa de culpa sobre políticos, antes que se prove o conteúdo das delações. Ele afirmou  que delatores "criam, inventam e mentem". A par disso, citado por ex-executivo da Odebrecht, que o acusa de ter recebido propina, nega: "Sei o que não fiz".  (da  Folha, de 28 de janeiro corrente).




( Fontes: Folha e O Globo )

sábado, 28 de janeiro de 2017

Orgulho e Preconceito

                               

        A obra prima de Jane Austen nos fala de outro gênero de orgulho e preconceito, mas já mostra o potencial dessas duas atitudes, fundadas na ignorância e na prepotência.
        O poder pode ser usado de diversas maneiras, como a história  mostra. O presidente Trump comprova, por seu comportamento e  atitudes que vem tomando, que (a) realmente ele não estava pronunciando ameaças vãs quando erigiu a violência como política e (b) ele está efetivamente convencido de que todas essas maldades podem amalgamar uma política a ser levada a sério.
        Se Donald Trump queria mostrar ao mundo o poder que detém um presidente americano, ele já o mostrou em termos de fazer o mal.
        Mas o mal não é a essência da política. Cego e incapaz de fazer qualquer distinção, o mal, pela sua ínsita injustiça, não pode ser usado como o faria um gorila em uma loja de louças. O objetivo de toda política digna desse nome é a construção de um arcabouço de medidas que proteja a pátria americana através de normas em que se distingue o bom do mau visitante, e para tanto, ao negar acesso a imigrantes que possam constituir ameaça à superpotência, o faz de modo racional, fundamentado e baseado na experiência passada.

          Tivemos na jornada dos imigrantes noticiada pela imprensa exatamente o contrário de o que deva ser feito. Não se pode, da noite para o dia, jogar ao chão toda a normativa e a experiência anterior, como se fosse algo de absurdo. Todo esse tipo de procedimento - brusco, sem base, cruel e violento, porque fundamentalmente injusto - não parece próprio de governante de país com o conhecimento, a experiência e a abrangência normativa dos Estados Unidos da América.
           Se um ditador do Terceiro Mundo quisesse imitá-lo - porque a sua conduta o aproxima dele pelo caráter de alguém desenraizado dos processos legais e das normas da Justiça, de que esquece a sacralidade do seu caráter duplo: proteger a América do Norte, mas respeitar os direitos de quem vem bater-lhe a porta - até seria fácil entender-lhe os desatinos.
              Mas entender não significa necessariamente perdoar. Entender, na verdade, é mostrar que o governante não age para um auditório de militantes do próprio partido, mas sim como se esteja agindo dentro de um espaço em que tanto a sua capacidade para fazer o bem, quanto os próprios atributos para a proteção da própria comunidade - e nesse contexto as defesas que deva assumir para assegurar que a porta de sua casa esteja protegida, e que por ela só ingressem pessoas que tenham condições de respeitar o agasalho e a hospitalidade da Pátria americana - sejam condizentes com a política anterior, com a acolhida que seus maiores deram aos imigrantes.
               É mais do que sabido que a capacidade dos Estados Unidos da América de receber o imigrante perseguido por causa da justiça, assim como aquele que apesar do respectivo saber e conduta sofre perseguição na sua própria casa, e por isso vem bater na aldrava dos portões da América, estejam eles nos portos do Leste ou do Oeste, tudo isso muito contribuíu para o crescimento estadunidense, assim como criou condições para que esse insumo humano frutificasse no solo americano.
                Não é atuando como um ferrabrás, escorraçando primeiro, para depois dar-se conta pela gritaria e pelos protestos de todos aqueles unidos pelo ideal da proteção ao próximo - próximo este que já chega aos Estados Unidos com a documentação e a fé da presença e do próprio sofrimento em terra estranha  - que se irá criar condições para a garantia das fronteiras americanas.  Não é transformando-se em arremedo de país sem cultura, e cujas determinações são tomadas sem qualquer base - a menos que negar o passado constitua um fundamento aceitável de conduta - que os Estados Unidos vai assegurar o controle de suas fronteiras e a proteção da própria cidadania.  Não é barrando a porta para os refugiados da Síria - tem eles culpa do ditador Bashar al-Assad? - nem negando farsescamente tudo que um iraquiano tenha feito em prol da potência americana (aqui me restrinjo a apenas dois exemplos, mas na verdade, eles abundam, fazendo mais mal à imagem do país do que todas as sandices do passado.)
                  Mr Donald J. Trump  - o senhor já mostrou o poder que tem. Será melhor, no entanto, que ouça a gente que entende do mister, para que renuncie a essa violência, que está envergonhando muita gente que não o merece, e sobretudo parece debochar da Justiça e da Equidade. Um país com a força dos Estados Unidos e a sua tradição na Cultura e no respeito ao Direito das Gentes não deve agir como se imitasse a Idi Amin.


( Fontes :  Jane Austen e The New York Times

Colcha de Retalhos E 3

                    

Trump: discriminação imigratória


       Dando seguimento à própria promessa na campanha, o Presidente Trump e o Departamento de Justiça suspendem a entrada de refugiados nos Estados Unidos por cento e vinte dias.
       No que concerne à Síria, os refugiados daquele país têm o ingresso nos Estados Unidos suspenso com prazo indefinido.
       As exceções admitidas pela nova Administração americana admitem a entrada nos EUA de imigrantes cristãos procedentes de países muçulmanos.
       No entanto, os interessados podem recorrer. Dessarte, muçulmanos podem recorrer porque, por lei do Congresso, é ilegal essa discriminação entre refugiados.


Mal-estar republicano


        Em público, o GOP está contra e não abre, a respeito da ab-rogação de o que chamam de Obamacare.
       No entanto, em privado, as reações dos parlamentares republicanos são bem diferentes.

      Os pesados cortes, estabelecidos por determinações legislativas, vão retirar a cobertura dada pelo ACA (lei do atendimento médico custeável), e os pacientes pobres e mesmo remediados ficarão a descoberto.  Essa inutilização de mecanismo da Lei introduzida pelo Governo Obama, e que goza de crescente popularidade, sobretudo junto às camadas de menor renda,  como  será mostrada  pelos parlamentares do GOP ao comum dos mortais?

        Daí o nervosismo em privado das bancadas do GOP, diante da péssima fama de estragarem e inutilizarem o chamado Obamacare,  lei que vem funcionando a inteiro contento e, em especial, das classes mais necessitadas.


Eike Baptista nos States


       Dois dias antes de ser posto na lista dos procurados da Polícia Federal, lá estava o empresário Eike Baptista, esperando a vez para entrar no avião que o levaria aos Estados Unidos...

       Agora, não tão de longe, será o caso de negociar os termos da respectiva detenção. Como de hábito, lá estará o japonês boa-praça para oportunamente acompanhá-lo ao xadrez...



 (Fontes:  O Globo, The New York Times )

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Oposição rompe o diálogo ?

                              

         A paciência, talvez excessiva, da Mesa de Unidade Democrática chega ao fim. A negociação, mediada pelo Vaticano, era conduzida pelos ex-dirigentes Luis Rodriguez Zapatero (Espanha), Martin Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana).
         Em nota, a coalizão opositora MUD disse que a tentativa de diálogo "é um capítulo encerrado que não voltará a se abrir". Outrossim, chamou seus seguidores a reforçarem os protestos contra Nicolás Maduro. Aduziu o comunicado que "o descumprimento dos acordos e, sobretudo, a resposta grosseira e soberba do regime às demandas do Vaticano revelaram o que o Povo venezuelano já sabe por demais: que esse regime não tem palavra".

       Em sua carta, o Secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, pedira ao chavismo que acelerasse a liberação dos opositores presos, a entrada de ajuda humanitária e o fim da declaração de desacato da Assembléia, em que a oposição goza de ampla maioria.
       Tais condições, colocadas a 1º de dezembro de 2016, irritaram Nicolás Maduro, que chamou o Vaticano de "sabotador" e "cúmplice na tentativa de implodir o diálogo". A esse respeito, Brasil, Argentina e Colômbia apoiaram a posição de Parolin.

        Com a virtual ruptura no diálogo, cresceu a convicção para a oposição  que somente através  da mobilização popular é que será possível levar Maduro a convocar eleições que abreviem o seu mandato, cujo encerramento formal está previsto para 2019.
         Diante da manifesta má-fé do regime - Maduro se serve do diálogo para protelar a crise no país  até a próxima eleição - a ruptura entre Governo chavista e a MUD se agrava cada vez mais.

         Estão presentes todos os elementos que mostram ser a situação irreversível em termos sócio-políticos. Espanta mais não o agravamento da crise, mas a persistência do chavismo em aferrar-se a slogans, como se fora possível sustentar tal estado de coisas até 2019: desabastecimento de remédios e alimentos,  hiper-inflação (500% em 2016), e a patente incapacidade  do chavismo de reverter a crise e encaminhá-la para solução, tudo isso dá um sentido dramático às demandas da Oposição, enquanto persiste e se agrava a profunda insatisfação popular, como dado permanente.

             O estado de coisas na Venezuela lembra uma barreira com muitas fissuras, que à luz do bom senso e da capacidade física de resistência a tais situações,  vai romper-se apesar das declarações do Governo, de sua fuga da realidade, sem embargo das hesitações da Oposição.
            Esta última, em meio à revolta do Povo e a incrível arrogância do chavismo, sabe que o regime tem o seu tempo já marcado. O trágico da situação está na circunstância de que a Oposição não parece ter líderes até agora, pelo menos os que crescem diante do desafio colocado pela crise..

            O problema em tais situações é que acaba por surgir, em meio à massa popular, alguém que reflita a exasperação crescente diante da má-fé e estúpida arrogância do chavismo.
            É uma situação física. A barragem do governo Maduro não mais existe, embora o chavismo aja com a insolência de quem se crê protegido por massa de concreto. Se e quando descobrir que não mais é assim, para muitos será tarde demais.




( Fonte: Folha de S. Paulo

Ferrabrás ataca o Livre-Comércio

                             

       Assim como alguém sai de estreito aposento com ar confinado, ansioso por respirar o oxigênio que demora nas altas montanhas, do mesmo modo reunirá mais condições de entender o que Trump prepara para aqueles infelizes que nele votaram, e dessarte com a bengala da alheia sapiência, vir a poder esperar como alguém que, ainda meio ofuscado pelo conhecimento amigo, possa ter fé e até mesmo acreditar, seja contra a louca, ignava esperança, seja até terçando armas em demenciais arremetidas contra os moínhos gigantes de vento.
        Nessa trilha arriscada, que bordeja abismos e promete o enlevo de ledas, refrigerantes paisagens, será oportuno guiar-se por quem o caminho já o conhece, dominando as suas falazes promessas, com o passo firme do saber apreendido, de suas vistas enganosas e da inexistência de atalhos salvadores, que ao conhecimento substituir-se possa.
         Seja nos cumes escorregadios, seja nas sinuosas veredas, só esse conhecimento pode garantir marcha decerto árdua e trabalhosa, mas ao cabo propiciar-nos o que as vistas de longe acenam, se o caminho for bem escolhido e confirmado com estudo e prudência.
         Em sua coluna hodierna, Paul Krugman nos diz que Mr Trump  parece estar realmente disposto a voltar atrás no engajamento de oitenta anos dos Estados Unidos em expandir o comércio exterior. Nesta quinta, a Casa Branca disse estar considerando uma tarifa de 20% em todas as importações provenientes do México. Fazer isso, significa retirar não só os EUA do Nafta (acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá), senão de todos os acordos de comércio assinados por Tio Sam.
          Trump, segundo explica Krugman, deseja implementar essas novas regras, porque ele vê o comércio internacional como uma luta pela dominação, em que alguém só pode ganhar à custa de outrem.
           Sem o saber, o novo Presidente tem uma visão mercantilista da economia, em que alguém só pode ganhar por conta da perda de outrem.
            De acordo com Krugman, isso é uma falácia. A alça tarifária pode lograr reversão parcial do longo declínio do emprego nas manufaturas, mas não haverá um ganho líquido, apenas reajuste nas colocações do emprego.
           E talvez, nem mesmo isso.  Krugman  mostra que os anos de Ronald Reagan dão ideia de o que vai realmente ocorrer. 
           No resumo do Nobel Krugman o que ocorreu nos anos Reagan foi o seguinte: com o incremento das despesas militares, Reagan aumentou o déficit orçamentário. Essa tendência agravou-se com os cortes nos impostos. Com o consequente incremento da procura por dólares, aumentaram os juros, a que se seguiu o ingresso maciço de capital estrangeiro. O US dólar tornou-se mais forte, e, em consequência da elevação dos preços das mercadorias industriais  a manufatura americana deixou de ser competitiva.  Daí, cresceu o déficit comercial - e o declínio de longo prazo na parte dos manufaturados nas oportunidades em geral de emprego.
           Ao contrário da lenda, portanto, foi nos anos Reagan que se generalizou a menção de "desindustrialização" e o uso do termo "cinturão da ferrugem" tornou-se geral.
            Há grande probabilidade que a história se repita. De um lado, o regime Trump vai aumentar o déficit, com cortes  de imposto para os ricos. Tampouco isso vai aumentar a despesa, porque os ricos costumam poupar, enquanto pobres e classe média enfrentarão substanciais cortes nos benefícios. Além disso, as taxas de juro vão aumentar diante da subida dos empréstimos. Também o dólar vai ficar mais caro.  Aí temos a receita de Reagan para encolher a indústria manufatureira.
             Sem embargo, como Trump está pronto a valer-se de um protecionismo mais extremo do que Reagan - que evitou claras violações de acordos comerciais vigentes - o que poderia ajudar algumas indústrias manufatureiras. No entanto, o valor do dólar vai subir, o que prejudicará a outras indústrias.
              Não se pode esquecer, porém, que desde Reagan as coisas mudaram bastante. A indústria manufatureira é  empreendimento global, no qual carros, aviões e etc. são montados por componentes produzidos em muitos países.
               Se o método à la bruta for empregado quanto aos acordos internacionais no comércio, tais acordos internacionais sofrerão e muito. Assim, algumas indústrias americanas poderão beneficiar-se, mas outras serão atingidas pela perda de mercados ou de peças essenciais, ou mesmo de ambos.
               Os maiores perdedores - como no caso do ACA (Lei da assistência sanitária custeável) - serão os votantes brancos de classe operária que foram tolos o bastante para acreditarem que Trump estava do lado deles.



( Fonte: Miguel de Cervantes, Don Quixote; artigo de Paul Krugman, em The New York Times  )

A economia paralela de Cabral

                              

        A húbris, esta atitude ou paixão, em que mortais se comparavam aos deuses, não é só característica da velha Grécia, mestra dos homens.
       Aqui, em Pindorama, até pensaram poder criar reinos de mentirinha,  como Sérgio Cabral e Eike Baptista.
        Filho de empresário, surpreende que Eike não estivesse vacinado contra as ilusões da riqueza fácil, assim como de sua suposta imunidade aos castigos da Lei, que perseguiriam apenas a gente miúda.
       Por sua vez, o político Sérgio Cabral, filho de jornalista, terá pensado que cadeia e a deusa da vingança, seriam sina de pobre, e mais rápido ascendesse na escala do ouro, mais se distanciaria da pesada mão de dona Justa.

       Via-se nos jornais, a relação das obras para as Olimpíadas e antes para a Copa do Mundo. E apenas um folhear distraído já assinalaria luzes vermelhas a piscar, falando de sobrepreços aqui, e de propinas acolá. A coisa se tornara tão corriqueira que chegara a aparecer, como  anotação descuidada, sobre obras de reparação e quejandas, todas com a participação de Sérgio Cabral.
       O outro, atacado por um juiz voraz, tinha ganho sobras de simpatia, dadas as farsescas peripécias, desse magistrado que sequer resistira a dirigir o carrão de que decretara a penhora, e que pertencia ao mega-empresário Eike Batista.

       Nem os magnatas da gilded age[1], quando a riqueza irrompia na terra de Tio Sam, e já se lhe anunciava a pujança - a que, em geral, acompanha no seu trem dona corrupção - terão ousado exibir-se tanto.
      Sem embargo, como mostra Miriam Cabral na  coluna hodierna, os dois poderiam ter sido a renovação do Rio.  Na sua descrição, e como muitos outros, Sérgio Cabral chega ao poder no Rio aos 43 anos, com discurso de moralidade na política. Como descreve a colunista, poderia ter sido assim. Pena é que não foi. Em 2007, a sua nova política de segurança ocupa favelas, enfrenta o tráfico e derruba muros na velha cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Na educação, logra um grande salto no Ideb: de 26º para 4º lugar. Poderia, dessarte, tornar-se a própria inventada máscara. Mas ao invés do político jovem e de grande capacidade administrativa, outras ambições já nele se tinham aninhado.
            A conta no exterior ele a entrega a um operador. Dessarte, a carreira na ilegalidade antecede a própria chegada ao Palácio Guanabara.

            Por sua vez, Eike Baptista, que surge como o empresário com espírito de liderança, na descrição de Miriam Leitão, sempre aparenta ser  o grande empreendedor, com espírito agressivo, e que adentra áreas em busca da liderança.  Havia, no entanto, desconfiança quanto aos próprios métodos, e dúvidas quanto a seu papel na modernização  do capitalismo nacional.
             Miriam relata a esperteza de Eike, que se adianta ao M.P.F.. Ao invés de negar, confidencia o que o Ministério Público sequer sabia: pagamento de contas de campanha de Dilma (pedido do Ministro Mântega), e transferência ilegal para os marqueteiros da Presidenta. 
             Por outro lado, e mais tarde, a Operação Eficiência desvendaria aquilo que escondera, i.e., suas relações perigosas com o governador Cabral.

             Muito se esconde ou se desconhece do sofrimento da gente que depende dos cofres do Estado, tanto pessoal miúdo quanto até graúdos. Mais uma vez, o Rio de Janeiro assinou termo de compromisso com o governo federal para lograr alívio  de três anos no pagamento de suas (muitas) dívidas. E nesse mesmo dia, segundo relata Miriam, foi exposto  pela tríade (MP, P.F. e Receita Federal) o esquemão que levou  US$ 100 milhões para as contas de Sérgio Cabral  e dois de seus assessores mais próximos.
               Esse acordo, para que tenha validade, carece que o Congresso aprove lei suspendendo temporariamente a validade da Lei de Responsabilidade Fiscal; e a Assembléia do Rio (a notória Alerj) vota as medidas do ajuste para que, e só então, o acordo tenha validade.

               É melhor pensar logo e depressa nos muitos aposentados cariocas que dependem do Erário de Pezão. São mofinas injustiças que somadas, produzem  grande,  mas até hoje sopitada, revolta.
                  Muito se atribui à "maldição do petróleo".  É chover no molhado dizer que a renda do petróleo caíu de repente. Não há nada mais lábil do que os rendimentos dos barris de petróleo. Que o digam os países que dele dependem, como a Rússia de Vladimir Putin. Não me reporto aos que nadam no ouro negro, como Arábia Saudita, por que esses se acham em outra dimensão.
                  Assim o que afirma o Governador Pezão, sobre a dita maldição, deve ser tomado com reserva.  Como diz Miriam Leitão, a boa administração está aí para isso.

                  Outra coisa a controlar está no excesso de subsídios fiscais, que salivam a boca insaciável de muitas empresas, mas cortam os fundos do Estado, o que no final se traduz em déficits. Dessa farra fiscal já se falou em páginas deste blog. E, como na fábula, quanto mais comem, mais  querem as supostas beneficiárias desses agrados fiscais, que ao cabo se traduzem em menores receitas para o Estado e as consequentes inadimplências...

( Fontes: Coluna de Miriam Leitão e páginas deste blog.)



[1] Idade pintada a ouro, assim denominada por Mark Twain no período de explosão do crescimento industrial (puxado pelas ferrovias e siderúrgicas) nos Estados Unidos (1870-1900)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Fora Maduro e a corja chavista!

                                     
                            
       Se há escândalo em termos de desrespeito às regras democráticas na América do Sul, é o da atual ditadura venezuelana, que além de violenta e incompetente, é um desgoverno afundado na corrupção. Pela sequência de atos contrários ao regime democrático, o presidente Nicolas Maduro, na verdade não passa de tirano que sistematicamente desrespeita espírito e letra da Democracia.
        Em todos os seus atos, a democracia será apenas  disfarce para tentar encobrir as agressões e a violência que o chavismo lhe inflige diuturnamente. Na campanha pelo referendum de que o eleitorado venezuelano está constitucionalmente autorizado a valer-se, se as atas forem depositadas junto à autoridade competente, esse referendum - a que Hugo Chávez se submeteu e venceu - foi dolosamente evitado e postergado n vezes pelo  sucessor Maduro, que tudo fez para que o prazo vencesse e ele, o rejeitado-mor da República,  não tivesse que passar pelas forcas caudinas da soberania popular.

       Por outro lado, várias normas constitucionais tem sido desrespeitadas e mesmo pisoteadas, com o duvidoso apoio de Suprema Corte lotada por militantes chavistas, que se prestam, com o gozo e cinismo que lhes é proprio,  a todas as afrontas do regime à Constituição.
        Além disso, através de forças irregulares os opositores têm sido presos por qualquer pretexto, máxime no caso de que passeatas e  demonstrações venham a ser associadas à oposição.

       O regime chavista, expulso do Mercosul, se arrasta na diplomacia sul-americana como hierarquia destituída de apoio popular, e que apenas se mantém por força da intimidação e da intervenção de formações que ao invés de defenderem a justiça, apenas cuidam de apoiar a liderança chavista, que não recua diante de todas as possibilidades de intimidação das manifestações populares contra o desgoverno chavista. Tal desgoverno que criou a anarquia do desabastecimento e da hiperinflação, viceja na repressão dos líderes oposicionistas e da própria Assembleia, a que o Governo Maduro intenta barrar de toda forma a respectiva vis e o mandato de cuidar pelo respeito das leis e da ordem.

         A democracia, como regime do povo, pelo povo e para o povo, desapareceu da Venezuela. Lá se vê arremedo de ditadura, que barra todas as iniciativas em prol da Justiça e do respeito às normas democráticas, com os respectivos lideres presos na sua maioria (de preferência junto a criminosos comuns). A tal ponto vai a arrogância dessa tirania, sendo tantos aqueles democratas que estão trancafiados em enxovias da ditadura, que estar fora delas pode até ser visto como sinal de conivência com as práticas da ditadura chavista.

            É mais do que tempo de jogar ao chão tal regime corrupto e ilegal, culpado não só por continuado desrespeito à Constituição, mas também pela enorme incompetência, que jogou o Povo venezuelano nas vascas do desabastecimento, dos fora da lei, e da hiperinflação, com conjugação de padecimentos que, em outras terras, já lhe teria determinado e desde muito o próprio inglório fim.      



( Fonte subsidiária:  Venezuela (IPRI/FUNAG) )

Marcha-à-Ré geral ? (II)

A 'nova' política de Trump

      As ditas prisões secretas, ou rendition,  serão, segundo consta, reativadas, alegadamente para a obtenção mais rápida de confissões, 'agilizadas' pela cooperação de países amigos - que, por enquanto, é melhor não especificar.


Inovações nos Interrogatórios

      Com os republicanos de volta ao poder, de novo waterboarding deixa de ser 'tortura'.  Assim,  simulação de afogamento passa a ser  apenas enhanced interrogation (interrogatório ativado), eis que segundo essa turminha não convencida pelos relatórios do tempo de Obama, tal exercício é apenas outro método de interrogatório, talvez super-ativado, mas que nada, nadinha mesmo, tem a ver com a violência da tortura...

      Não sei se nos sinistros quadros encarregados de convencer legisladores do caráter ameno do waterboarding estão presentes aqueles que quase persuadiram senadora democrata de que a simulação de afogamento em verdade nada, nadinha mesmo, tinha a ver com a tortura. E não é que o dito a terá convencido ainda que por pouco tempo?
   
       O mais triste, no entanto, é a repetição desses processos. Para convencer alguém de que waterboarding não é tortura, não se recomenda praticar tal método super-ativado em quem quer que seja.

A demonização do adversário

       A quem ela engana?   Talvez ao próprio público americano, a quem  fornece um 'alibi' para  apoiar a perseguição de quem é culpado de não acreditar na demonização do adversário. Se fica mais cômodo combatê-lo, o problema estará no enrijecimento das posições respectivas e da dificuldade consequente de um acerto entre elas, 



( Fonte : The New York Times et al. )

Marcha-à-ré geral ?

                                    
México na berlinda?

      Enrique Peña Nieto determinou aos Consulados mexicanos nos Estados Unidos que reforcem a defesa dos imigrantes. Eles são candidatos a bodes expiatórios na ofensiva de Donald J. Trump, agora no Poder, para 'apressar' os respectivos processos de expulsão.


Encontro com Trump?

       O presidente Peña Nieto considera agora se deve cancelar encontro previsto com Donald Trump.  Em visita relâmpago do candidato republicano ao México, o primeiro round com o presidente do México teria sido inconcluso.


O muro como símbolo

        O famoso muro entre México e Estados Unidos começaria a ser levantado prontamente. Segundo o presente morador da Casa Branca, quem pagará a conta seria o México.

        Como os seus incontáveis 'antepassados' através da história (e põe eme  minúsculo nisso porque sempre vem com a decadência de quem o levanta), Trump promete dar pronto início ao que parece ser a sua obra-símbolo em termos de pan-americanismo.

        É difícil dizer por quanto tempo este muro vai durar, mas como os seus inúmeros antecessores na História, com a própria irrelevância, que na verdade marcará apenas fase de maior intensidade na sua penetração pelo temido grupo nacional a que o soberano da vez intenta barrar o caminho...


Como terminará?

         Sugere-se a Mr Trump que visite os maiores antecessores  desta magna tentativa, que, em geral, assinala período de decadência do Império da vez supostamente ameaçado.

          Assim, seriam oportunas excursões ao norte da Europa, para eventuais buscas nos enterrados bastiões que separavam o decadente Império Romano do Ocidente dos temíveis bárbaros. Estes escolheram duas rotas: a entrada clandestina nas vizinhanças, em que breve metrópole e periferia se confundiriam, ou as invasões de décadas mais tarde, quando os truques da fraqueza já eram dispensáveis.

           Outras muralhas, como, por exemplo, as do Império Chinês contra os bárbaros do Norte, hoje merecem a visita apenas pelas magníficas ruínas, pois nada mais separam.


Palpites de Curto Prazo

          A ofensiva demagógica de Donald Trump, agora na Casa Branca, continuará.  Se levá-la a termo, quem perderá não são apenas os Estados Unidos, mas também os mexicanos. 

          No entanto, se tem algum peso a investida contra a suposta parte mais fraca no entrevero, não se deve esquecer, à luz da Senhora dos Tempos, quem a perderá ao cabo,  são los Estados Unidos, eis que só a demagogia pode ser tão cega que não distingue a atração econômica e de prestação de serviços, que a presença de tantos mexicanos ao Norte do Rio Grande faz pressupor.
            



( Fonte:  A Study of History, de Arnold Toynbee)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Quem Trump indicará para o Supremo

                              
         
         Segundo o observador do New York Times, David Leonhardt, quanto a assuntos da Suprema Corte, existe aí uma cadeira que caberia ao Presidente Barack Obama preencher. Na prática,  Mitch McConnell, o lider da maioria republicana no Senado, em mais uma prova de que as normas de bipartidismo caíram ao seu nível mais baixo, cometeu a vilania de negar ao magistrado indicado por Obama - Merrick B. Garland  - sequer ter audiência de praxe junto à Comissão senatorial responsável, uma das provas mais lamentáveis do nível do respeito do GOP pelo direito parlamentar.

         Agora, nas avaliações, do Times, os três nomes com maiores perspectivas para a indicação são: Neil Gorsuch, que se notabiliza por "cercear regras trabalhistas progressistas e ambientais", William Pryor. que se opõe de forma agressiva ao aborto e a direitos dos homossexuais, e Thomas Hardiman,  conservador de quatro costados, na linha de Samuel Alito.

( Fonte: The New York Times )

A Febre Amarela

                                       

       De uns tempos para cá, a imprensa surge com ominosas notícias acerca de um surto de febre amarela, a princípio em Minas Gerais, depois no Espírito Santo, ora chegando também a São Paulo.
       No país de Osvaldo Cruz, é incrível a pasmaceira e a falta de pronta reação a mais esta infestação através de mosquitos, por força das ausências do saneamento básico por esses brasis afora, que constitui a causa mestre de quase todas as enfermidades tropicais.
       No ritmo lento que nos transportaria ao mítico Macondo de García Márquez, essa terrível doença vai avançando devagar, com a ajuda do atraso, da ignorância e consequente imundície, o que presume a falta de qualquer saneamento e das necessárias precauções.
        Dos grotões do atraso, sob o olhar indiferente das capitais, sem embargo essa febre que mata se vai espalhando, com o seu rastro maldito de mortes ( trinta e duas  em Minas Gerais, chegando devagar a São Paulo, com as suas primeiras fatalidades, enquanto se insinua também no Espírito Santo).
         Como que um véu negro vai sendo baixado. As mortes, devagar, se vão inserindo no mapa estatístico, sob o olhar distante das autoridade sanitárias.
          Onde estão as vacinas, de que ninguém fala, para proteger as populações diretamente ameaçadas?
           Há uns anos atrás, houve um ciclo de vacinação contra a mesma febre amarela.  Agora, os jornais não falam de vacinação, mas sim de mortes, como se o surto fosse castigo invencível, para o qual não há defesa.
           Se excluirmos essa inquietante distância da autoridade sanitária - quem até hoje ouviu falar de que as vacinas contra o surto dessa febre, a que Osvaldo Cruz em outro contexto, e num tempo bastante atrasado em relação à atualidade, mostrou o dinamismo da presença, na sua luta que o levou não só a antiga Capital, mas também ao Norte, em Belém - parecemos estar assistindo a outra farsa com o "tudo vai bem, Senhora Marquesa", que o gálico humor ridiculizou pela sua absoluta falta de comunicação com a realidade.
                Senhor Ministro da Saúde, do governo de Michel Temer, faça o favor de apresentar-se e de disponibilizar a vacina contra a febre amarela, pois deverá ter passado o tempo de sermos fatalistas a respeito desse terrível flagelo.


( Fontes:  O  Globo, García Márquez, E  nciclopédia Delta/Laurousse )