Nunca um
governo mostrou tanto a própria incapacidade na sua primeira semana quanto o de
Donald John Trump.
A coisa chegou a tal ponto que a demissão da attorney-general interina do Departamento da Justiça, Sally Q. Yates - que nomeada por Barack Obama exercia interinamente o cargo - sublinhou uma inconveniente verdade: a exonerada Sally - que quisera evitar a desmoralização dos advogados da Justiça a tentarem defender o indefensável, do único modo que julgou possível: abster-se de dar qualquer fundamentação jurídica aos atos do Presidente.
A coisa chegou a tal ponto que a demissão da attorney-general interina do Departamento da Justiça, Sally Q. Yates - que nomeada por Barack Obama exercia interinamente o cargo - sublinhou uma inconveniente verdade: a exonerada Sally - que quisera evitar a desmoralização dos advogados da Justiça a tentarem defender o indefensável, do único modo que julgou possível: abster-se de dar qualquer fundamentação jurídica aos atos do Presidente.
A falta de
bom senso, por mais comezinho que seja, está em toda parte. Por onde se
procure, a começar pelo próprio Trump se verá mediocridade (como em Frank Perry, Secretário de Energia).
Talvez no
futuro, o sistema de comando na Casa Branca seja apontado como o exemplo
marcante da desorganização extrema. Na verdade, não há sistema propriamente
dito.Temos personalidades que se superpõem, e nenhuma aparece mais, pelo visto,
num esquema de desorganização criativa do
que Stephen Bannon (guardem esse nome!)
Como a
análise feita pela junta editorial do New York Times evidencia, esse processo -
que é o velho esquema do favoritismo real se colocando na sede do poder da
superpotência - leva o über-favorito até ao Conselho de Segurança Nacional,
antes reservado apenas aos Secretários de Estado e da Defesa, e mais algumas (poucas)
altas autoridades.
E, como se
tal não bastasse, Trump também nomeou Bannon para o "comitê dos
principais", do C.S.N.,que inclui as mesmas altas autoridades citadas
acima, mas se reúne com muito maior frequência.
Por outro
lado, pensando dar maior eficácia à reestruturação personalista, a ordem
executiva de Trump diz que o presidente da Junta de Chefes militares e o
Diretor da Inteligência (Espionagem) participarão das reuniões do comitê dos principais "quando questões
que digam respeito a suas responsabilidades e conhecimento técnico (expertise) devam ser
discutidas". Existem por acaso
discussões sobre segurança nacional em que elementos das agências de
inteligência e do estamento militar não
sejam necessários?
Esse
sistema de favoritismo oriental não tem condições de funcionar em país como os
Estados Unidos. Como a primeira (desastrosa) semana o demonstra amplamente, Mr
Trump não tem base sólida para chegar a decisões sobre segurança nacional,
nenhuma sofisticação na governança e
reduzida compreensão aparente de o que é necessário para liderar uma nação tão
grande e diversa.
Os
primeiros dias da Presidência Trump mostraram o quão despreparado e pouco
sensível às realidades externas aos Estados Unidos está o candidato eleito sem
qualquer experiência de governo. A
maneira com que iniciou o seu mandato mostra que ele carece de assessores que
possam pensar estrategicamente, e sopesar as eventuais consequências de segunda
e terceira ordem , que vão além dos efeitos políticos imediatos no plano
doméstico.
A falta de sutileza de Mr Trump pode ser um asset eleitoral, mas está longe de ser um guia seguro na
floresta das relações externas da Superpotência.
Se Trump possui algum juízo na cachola, precisaria conscientizar-se que o esquema do
personagem-favorito pode lhe ter ajudado a vencer as eleições - ainda que os
falsos avisos do diretor James Comey semelham ter tido muito maior efeito - mas
não será esquema válido para atravessar incólume a floresta das relações
políticas e econômicas da Superpotência. Melhor seria, portanto, ter junto de
si não fabricantes de crises, nem aqueles que logram em minutos transformar um
céu de brigadeiro em um oceano com vagas enraivecidas trazidas pelo favorito da
vez. Essa gente pode servir-lhe para
ganhar eleições, mas para administrar um país semelha preferível chamar pessoas
que entendam do riscado.
Já computou tudo o que perdeu com a desorganização, a falta de sentido
político e a abundante ignorância dos primeiros ukases? Chame agora a gente do
ramo, os políticos experientes, não aqueles que querem agradá-lo a todo vapor,
ainda que seus métodos sejam desastrosos e redespertem forças que pareciam
dormentes e que seria melhor que assim ficassem. Governe, antes que seja tarde! É o único meio
de evitar o impeachment!
( Fonte:
The New York Times )