Menos de 24 horas
depois de o presidente Trump anunciar a retirada das tropas americanas que
guardavam a fronteira norte da Síria, a Turquia de Erdogan começou a atacar
alvos curdos e a milícia Forças Democráticas da Síria (FDS),que se opõem ao ditador
sírio Bashar al-Assad e ocupam posições em territórios sírio e iraquiano.
Infelizmente, como já referido neste
blog, em grande mudança de diretriz, Trump declarou que os Estados Unidos não
se oporiam a uma operação de Âncara contra os curdos. Essa decisão conseguiu um
fato raro: unir democratas e republicanos contra uma medida da Casa Branca - e
logo em momento delicado, no qual Trump enfrenta um processo de impeachment na
Câmara de Deputados.
Ao justificar sua decisão, Trump
argumentou que seu escopo é acabar com "as guerras sem fim", nas
quais os EUA estão envolvidos e disse que cabe
aos atores da região resolver a situação. De imediato - obviamente
Ancara já tinha a luz verde do Pentágono - a Turquia comunicou que preparava um
ataque no norte da Síria para "limpar" a região dos
"terroristas" que ameaçam sua segurança.
Há um problema no entanto, que não é
pequeno. "Os terroristas" aos
quais o governo turco cinicamente se refere - os curdos - foram os maiores
aliados dos Estados Unidos na luta
contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI) no norte da Síria e no
Iraque. A medida de Trump foi
considerada por curdos, aliados europeus e congressistas americanos como gesto
de traição, que emitiria um sinal negativo para outros aliados que se arriscam
a lutar ao lado dos americanos na região.
Tentando reverter o mal-estar,
Trump ameaçou ontem "aniquilar" a economia da Turquia, caso o país
passe dos limites na Síria. "Como disse antes, e só para reiterar, se a
Turquia fizer algo que eu, em minha grande e inigualável sabedoria (sic),
considerar fora do limite, destruirei e aniquilarei totalmente a economia da
Turquia", escreveu Trump no Twitter. "Ja fiz isso antes",
acrescentou o republicano, em referência à queda da lira turca, que perdeu 25%
do valor em agosto, quando os EUA pressionavam pela liberação do missionário
Andrew Bronson, que estava preso na Turquia desde outubro de 2016, acusado de
colaborar com terroristas.
O início da retirada das tropas
americanas, no fim da semana, deixou o caminho livre para uma operação turca
contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG). A decisão foi
denunciada como uma "facada nas costas", pelas forças lideradas pelos
curdos.
A primeira ação foi além e
atingiu igualmente território iraquiano.Os curdos são a mais relevante minoria do Oriente Médio, sem
um estado próprio. São entre 25 milhões e 35 milhões de pessoas espalhadas pela
Turquia, Irã, Iraque e Síria.
Segundo a agência
oficial síria Sama as forças turcas atacaram posições curdas na
cidade de Al-Malikiyah, no norte da Síria.A agência turca Anadolu informou que a Força Aérea turca "neutralizou"
três alvos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), na região de Gara,
segundo o Ministério Nacional da Defesa da Turquia.
As YPG são o principal
grupo na luta contra o EI e contam com apoio dos EUA e de outros países
ocidentais. Mas a Turquia considera as YPG um grupo "terrorista", por
seus laços com o PKK, organização curda que, desde 1984, tem travado, em
períodos determinados, uma luta de resistência no território ocupado pela
Turquia.
Ainda no contexto da
estúpida operação desencadeada pela reviravolta de Donald Trump, os curdos da
Síria tinham ontem advertido que uma invasão militar turca provocará o ressurgimento do E.I. As FDS afirmaram que a operação terminará com
anos de cooperação para derrotar os
jihadistas e permitirá o regresso de alguns dos líderes do Exército Islâmico
(E.I.) que sobreviveram.
Como se recorda, em
decisão repentina no ano passada (2018), Trump anunciara a retirada das tropas
americanas da Síria - cerca de dois mil soldados - após declarar que os Estados
Unidos tinham derrotado o E.I. Tal
anúncio fora de medida acabou levando à renúncia do então Secretário de Defesa,
Jim Mattis, que não concordara com a medida.
Por outro lado, o
Senado Federal, sob a liderança de Mitch McConnell logrou conter o ímpeto do
presidente, ao aprovar resolução condenando a retirada, da qual Trump acabou
desistindo em janeiro de 2019.
Ontem,
Mc Connell tornou a condenar a retirada da Síria, " A retirada precipitada
das forças americanas só beneficia a
Rússia, o Irã e o regime de Assad. E aumentaria o risco do E.I. e de outros grupos terroristas se
reagruparem.", afirmou Mitch McConnell, a quem parece desagradar o
estranho voluntarismo do 45º presidente estadunidense..
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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