O primeiro ministro do
Reino Unido, Boris Johnson apresentou ontem sua "proposta final"
sobre o Brexit à União Europeia e pediu a Bruxelas "alguma concessão"
para alcançar um acordo.
Como era previsível, o projeto de Johnson foi mal recebido na
Irlanda e muito criticado pelos europeus.
Como também é evidente, o Primeiro
Ministro inglês parte de uma posição fraca. O seu próprio intróito mostra que
Johnson parte de posição fraca: "Sim, o Reino Unido está fazendo concessões
e espero que nossos amigos europeus entendam e façam alguma concessão." Esse modo de negociar - que pede compreensão -
e que na prática suplica por alguma concessão, mostra, de modo inequívoco - a
debilidade da posição inglesa. Pedir 'compreensão' nesse contexto é trair
fraqueza.
O principal objetivo de Johnson
é substituir a controversa
"salvaguarda irlandesa" por
outro sistema que permita evitar
fronteira física entre a Irlanda do Norte, território britânico, e a República
da Irlanda, membro do UE. O escopo é
preservar o acordo de paz de 1998, que acabou com três anos de conflito
sectário na região. Segundo a proposta,
a Irlanda do Norte conservaria as regulamentações do mercado único europeu
sobre a livre circulação de produtos, incluindo os gêneros
agroalimentares. Isso teria o efeito de
eliminar a necessidade de controles regulatórios entre a Irlanda do Norte e a própria
Irlanda. A proposta tampouco menciona pessoas, capitais e serviços, que no
mercado único também tem livre circulação.
"Isso não é aceitável
para o governo irlandês, mas tampouco para a UE no seu conjunto", declarou
a ministra irlandesa de Assuntos Europeus, Helen McEntee.
Por outro lado, o primeiro
ministro Leo Varadkar falou com Johnson por telefone. Para a Irlanda, apesar de
"as propostas não alcançarem os objetivos acordados previamente, Varadkar
vai estudá-las de forma mais
detalhada."
A UE tampouco recebeu bem
a proposta de Johnson. De acordo com o euro-deputado liberal Guy Verhofstadt,
coordenador do Brexit na Câmara Europeia, as alternativas apresentadas por
Johnson não foram convincentes. "A primeira avaliação de quase todos os
membros não foi positiva", disse Verhofstadt, após reunião com o negociador-chefe
da UE, Michel Barnier. Ele ainda acrescentou que o bloco dirá o que não é
aceitável na proposta".
Para Barnier, houve
"progresso" nas propostas, mas ainda é insuficiente para um acordo.
"Sinceramente, ainda há muito trabalho a ser feito." `Por sua vez, o
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, elogiou a
"determinação" de Johnson para evoluir, mas ressaltou que ainda há
pontos "problemáticos" na proposta.
As concessões citadas por Johnson a serem
feitas pela UE referem-se sobremodo ao prazo do Brexit, o qual o premier
britânico não pretende adiar. Nesse sentido, ele repisou ontem que o UK
"abandonará a UE em 31 de outubro, aconteça o que acontecer", ao
mesmo tempo em que disse que a alternativa à sua proposta é uma saída do bloco
sem acordo.
Mais de três anos depois
do malsinado referendo de 2016, um
presente de grego de David Cameron para o Reino Unido (sem falar dele próprio,
que teve de exonerar-se), a sua realização estival produziu uma pífia maioria
para o abandono da Comunidade Europeia. O tão festejado Brexit acabou levando o
Reino Unido à inevitável e profunda crise política. E a "solução" proposta por Theresa May para superar a
crise, na verdade gerou outra, com o malogro da ex-ministra do Interior, e a
rejeição do pacote por três vezes pelo Parlamento de Sua Majestade. De início previsto para março, o Brexit já
foi adiado por duas vezes, em decisão que exigiu o voto unânime dos 27 membros
da UE. Os seguidos adiamentos e o malogro da solução para o problema das duas
Irlandas causaram a renúncia da May.
Em setembro, o
Parlamento do U.K. aprovou lei que obriga Johnson a solicitar outro adiamento na ausência de acordo até
dezenove de outubro, pouco depois da cúpula européia.
O primeiro-ministro
não explicou de que modo pretende superar essa barreira. Johnson, que perdeu a
frágil maioria parlamentar que lhe fora legada pela antecessora, deseja
convocar novas eleições...
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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