quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Johnson se enrola cada vez mais com o Brexit


                        

       O primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson apresentou ontem sua "proposta final" sobre o Brexit à União Europeia e pediu a Bruxelas "alguma concessão" para alcançar um acordo.
           Como era previsível,  o projeto de Johnson foi mal recebido na Irlanda e muito criticado pelos europeus.
            Como também é evidente, o Primeiro Ministro inglês parte de uma posição fraca. O seu próprio intróito mostra que Johnson parte de  posição fraca: "Sim, o Reino Unido está fazendo concessões e espero que nossos amigos europeus entendam e façam alguma concessão."  Esse modo de negociar - que pede compreensão - e que na prática suplica por alguma concessão, mostra, de modo inequívoco - a debilidade da posição inglesa. Pedir 'compreensão' nesse contexto é trair fraqueza.
               O principal objetivo de Johnson é substituir  a controversa "salvaguarda  irlandesa" por outro sistema  que permita evitar fronteira física entre a Irlanda do Norte, território britânico, e a República da Irlanda, membro do UE.  O escopo é preservar o acordo de paz de 1998, que acabou com três anos de conflito sectário na região.  Segundo a proposta, a Irlanda do Norte conservaria as regulamentações do mercado único europeu sobre a livre circulação de produtos, incluindo os gêneros agroalimentares.  Isso teria o efeito de eliminar a necessidade de controles regulatórios entre a Irlanda do Norte e a própria Irlanda. A proposta tampouco menciona pessoas, capitais e serviços, que no mercado único também tem livre circulação.
                  "Isso não é aceitável para o governo irlandês, mas tampouco para a UE no seu conjunto", declarou a ministra irlandesa de Assuntos Europeus, Helen McEntee.
                     Por outro lado, o primeiro ministro Leo Varadkar falou com Johnson por telefone. Para a Irlanda, apesar de "as propostas não alcançarem os objetivos acordados previamente, Varadkar vai estudá-las  de forma mais detalhada."
                      A UE tampouco recebeu bem a proposta de Johnson. De acordo com o euro-deputado liberal Guy Verhofstadt, coordenador do Brexit na Câmara Europeia, as alternativas apresentadas por Johnson não foram convincentes. "A primeira avaliação de quase todos os membros não foi positiva", disse Verhofstadt, após reunião com o negociador-chefe da UE, Michel Barnier. Ele ainda acrescentou que o bloco dirá o que não é aceitável na proposta".
                         Para Barnier, houve "progresso" nas propostas, mas ainda é insuficiente para um acordo. "Sinceramente, ainda há muito trabalho a ser feito." `Por sua vez, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, elogiou a "determinação" de Johnson para evoluir, mas ressaltou que ainda há pontos "problemáticos" na proposta.
                    As concessões citadas por Johnson a serem feitas pela UE referem-se sobremodo ao prazo do Brexit, o qual o premier britânico não pretende adiar. Nesse sentido, ele repisou ontem que o UK "abandonará a UE em 31 de outubro, aconteça o que acontecer", ao mesmo tempo em que disse que a alternativa à sua proposta é uma saída do bloco sem acordo.
                      Mais de três anos depois do malsinado referendo de 2016, um presente de grego de David Cameron para o Reino Unido (sem falar dele próprio, que teve de exonerar-se), a sua realização estival produziu uma pífia maioria para o abandono da Comunidade Europeia. O tão festejado Brexit acabou levando o Reino Unido à inevitável e profunda crise política.  E a "solução"  proposta por Theresa May para superar a crise, na verdade gerou outra, com o malogro da ex-ministra do Interior, e a rejeição do pacote por três vezes pelo Parlamento de Sua Majestade.  De início previsto para março, o Brexit já foi adiado por duas vezes, em decisão que exigiu o voto unânime dos 27 membros da UE. Os seguidos adiamentos e o malogro da solução para o problema das duas Irlandas causaram a renúncia da May.
                       Em setembro, o Parlamento do U.K. aprovou lei que obriga Johnson a solicitar  outro adiamento na ausência de acordo até dezenove de outubro, pouco depois da cúpula européia.
                      O primeiro-ministro não explicou de que modo pretende superar essa barreira. Johnson, que perdeu a frágil maioria parlamentar que lhe fora legada pela antecessora, deseja convocar novas eleições...

( Fonte: O Estado de S. Paulo )      

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