Desperta espécie que um
ato como o de Donald Trump possa ter
sido feito em conluio com o presidente Erdogan. Além de ir contra a política
estadunidense de recorrer aos curdos - que Trump ora cinicamente abandona à
própria sorte - as consequências desse cínico renversement des alliances vão muito mais longe de o que se possa ver na
lôbrega escuridão deixada pelos comparsas nessa estranhíssima tratativa que
envolve tanto o ditador Erdogan, quanto o imprevisível Trump, que afinal caíu
na rede do impeachment com o que está
às voltas desde que começara a engatinhar no Oval Office da Casa Branca.
As consequências desse estranhíssimo
ato do 45º presidente - decerto um dos que mais macularam a Casa Branca,
através de tantas iniciativas irresponsáveis - apenas começam a entrever-se e
muita água há de passar por esse soturno moinho de crises, até que a claridade
da verdade venha a visitar Trump, o assecla Giuliani et caterva.
Atos irresponsáveis - e por isso
mesmo muito mal explicados - hão de suceder-se nessa crise fabricada pelo
presidente americano. Ora, não é de crer-se que Trump tenha sido acometido por
perturbações mentais que, por motivos insondáveis, lhe façam de repente jogar
fora a aliança com os curdos, esse povo valoroso, que vinha sendo - no que
continua um comportamento de lealdade, destemor e capacidade militar muito acima
das características de tantas outras etnias, com quem e contra quem muitas
outras etnias regionais os curdos têm cruzado armas em ações sempre previsíveis
e em defesa do interesse estadunidense e da própria região.
Nada disso explica o procedimento
irresponsável de Trump, que sem motivos válidos acena desvencilhar-se da
aliança com os curdos, e depois de entregá-los na bandeja ao ditador Recep
Tayyip Erdogan, eis que parece arrepender-se, e ameaça a Turquia, por golpear
os curdos ! Além de reabrir o capítulo
do E.I., ele volta atrás depois de cinicamente abandonar o povo curdo ao seu
inimigo turco. A par disso, em atitude vizinha do demencial, ao hostilizar o povo curdo o tirano Erdogan abre
as cancelas das prisões sírias do Exército Islâmico em uma ação criminosa que outro presidente já
estaria às voltas para explicar as razões de um ato dessa gravidade e eventuais
sinistras consequências, que é o de pôr em liberdade os jihadistas do E.I., como
se tal gente - que tanto mal fez no Iraque e na Síria - pudesse ser liberada
para retomar o flagelo que representaram para a região médio oriental.
Uma coisa é certa: ao criar
tamanha confusão e ao pensar talvez que Erdogan fosse algum florentino capaz de
entender-lhe as eventuais sutilezas, Trump põe em risco a lábil estabilidade
médio-oriental, e se mete em encruzilhada de quatro caminhos, levantando os
fantasmas do Exército Islâmico, enquanto torce as mãos, condoído com a
trapalhada que aprontou para o Povo curdo, que uma vez mais paga o pato de
loucuras alheias.
(
Fonte: Estado de S. Paulo )
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