sábado, 12 de outubro de 2019

A responsabilidade de Trump na Crise Curda


                      
        Desperta espécie que um ato como o de Donald Trump possa ter sido feito  em conluio com o presidente Erdogan. Além de ir contra a política estadunidense de recorrer aos curdos - que Trump ora cinicamente abandona à própria sorte - as consequências desse cínico renversement des alliances  vão muito mais longe de o que se possa ver na lôbrega escuridão deixada pelos comparsas nessa estranhíssima tratativa que envolve tanto o ditador Erdogan, quanto o imprevisível Trump, que afinal caíu na rede do impeachment com o que está às voltas desde que começara a engatinhar no Oval Office da Casa Branca.
          As consequências desse estranhíssimo ato do 45º presidente - decerto um dos que mais macularam a Casa Branca, através de tantas iniciativas irresponsáveis - apenas começam a entrever-se e muita água há de passar por esse soturno moinho de crises, até que a claridade da verdade venha a visitar Trump, o assecla Giuliani et caterva.

        Atos irresponsáveis - e por isso mesmo muito mal explicados - hão de suceder-se nessa crise fabricada pelo presidente americano. Ora, não é de crer-se que Trump tenha sido acometido por perturbações mentais que, por motivos insondáveis, lhe façam de repente jogar fora a aliança com os curdos, esse povo valoroso, que vinha sendo - no que continua um comportamento de lealdade, destemor e capacidade militar muito acima das características de tantas outras etnias, com quem e contra quem muitas outras etnias regionais os curdos têm cruzado armas em ações sempre previsíveis e em defesa do interesse estadunidense e da própria região.

           Nada disso explica o procedimento irresponsável de Trump, que sem motivos válidos acena desvencilhar-se da aliança com os curdos, e depois de entregá-los na bandeja ao ditador Recep Tayyip Erdogan, eis que parece arrepender-se, e ameaça a Turquia, por golpear os curdos !  Além de reabrir o capítulo do E.I., ele volta atrás depois de  cinicamente abandonar o povo curdo ao seu inimigo turco. A par disso, em atitude vizinha do demencial, ao  hostilizar o povo curdo o tirano Erdogan abre as cancelas das prisões sírias do Exército Islâmico  em uma ação criminosa que outro presidente já estaria às voltas para explicar as razões de um ato dessa gravidade e eventuais sinistras consequências, que é o de pôr em liberdade os jihadistas do E.I., como se tal gente - que tanto mal fez no Iraque e na Síria - pudesse ser liberada para retomar o flagelo que representaram para a região médio oriental.

               Uma coisa é certa: ao criar tamanha confusão e ao pensar talvez que Erdogan fosse algum florentino capaz de entender-lhe as eventuais sutilezas, Trump põe em risco a lábil estabilidade médio-oriental, e se mete em encruzilhada de quatro caminhos, levantando os fantasmas do Exército Islâmico, enquanto torce as mãos, condoído com a trapalhada que aprontou para o Povo curdo, que uma vez mais paga o pato de loucuras alheias.  

( Fonte:  Estado de S. Paulo )

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