quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Crise na eleição bolíviana


                            

         Em meio à apuração confusa, a Bolívia permanecia ontem, 22 de outubro, em compasso de espera para saber se haverá ou não segundo turno nas eleições presidenciais.  Enquanto os votos eram contados com grande lentidão, se espalhavam os protestos contra o governo de Evo Morales, acusado de fraude, por várias cidades do país. Por sua vez, a OEA - que monitorou a votação - convocou reunião para discutir a crise.
               A reunião  do Conselho permanente da OEA será hoje, em Washington, às 11 horas. Assinale-se que a sessão em tela foi convocada a pedido do Brasil, Canadá, Colômbia, EUA e Venezuela para considerar a situação na Bolívia.
                Ontem, os dois principais candidatos disputavam a eleição voto a voto. De acordo com a legislação boliviana, para vencer no primeiro turno o candidato precisa obter 50% dos votos válidos ou pelo menos 40% do total, com vantagem de dez pontos percentuais sobre  o segundo colocado.
                  Com 95,17% das urnas apuradas, Evo tinha 45,85% dos votos.O ex-presidente Carlos Mesa recebera  37,54 - uma diferença de 8,31 pontos percentuais.
                   A medida que a apuração caminhava para o fim, no entanto, Evo ampliava lentamente a vantagem, embora no quadro estatístico parecia  difícil que ele ultrapassasse  os dez pontos percentuais. 
                      No entanto, o presidente Evo Morales, há 14 anos no poder sem nunca ter disputado um segundo turno, não parecia disposto a alongar uma disputa que ele dificilmente venceria contra a oposição unida.
                        A confusão na apuração começou logo após cerradas as urnas, no domingo.  O sistema de contagem rápida - procedimento estatístico com base em amostragem  dos votos, criado para prever o resultado oficial  - foi interrompido quando mostrava uma estreita vitória de Evo (43,9% a 39,4%). Sem qualquer explicação, o órgão eleitoral da Bolívia então  interrompeu o processo de forma repentina.
                             Depois de 24 horas de críticas e acusações de fraude, a contagem rápida voltou.  Nesse contexto, com pouco mais de 95% das urnas apuradas, Evo repontou com 10,13% pontos percentuais de vantagem.  A missão de observadores da OEA qualificou de "inexplicável" a súbita alteração na tendência da votação. Nesse sentido, a missão declarou que a "confiança no processo eleitoral" estava em risco.
                               Essa declaração foi suficiente para desatar uma onda de protestos, que começam em La Paz, na noite de segunda-feira, dia 21, e se espalham rapidamente para outras cidades.
                                 Grupos civis ligados à Oposição convocaram uma greve. Está-tua do presidente venezuelano  Hugo Chávez, aliado de Evo Morales, foi queimada na cidade de Riberalta, na Amazônia boliviana.  Manifestações de protesto foram também registradas em Tarija, Cochabamba e Cobija, onde a polícia agiu para dispersar a multidão que protestava.  A violência também se estendeu a Sucre e Potosi aonde manifestantes  atearam fogo em tribunais eleitorais - em Potosi, duas pessoas escaparam  do fogo saltando pela janela.
                                       Por sua vez, com o aumento da pressão, a porta-voz do Tribunal Eleitoral em Chuquisaca, Olga Martinez pediu demissão em caráter irrevogável: "reitero à sociedade boliviana meu compromisso com a democracia", escreveu Olga, em carta, sem dar maiores detalhes.
                                         Por outro lado, Carlos Mesa, o candidato oposicionista assim se manifestou: "Não reconheceremos esses resultados que são parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa",
                                           E Mesa assim completou seu protesto: "Não reconheceremos esses resultados que são parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa e está colocando  a sociedade boliviana em uma situação de tensão  desnecessária", afirmou  o opositor Mesa. "Estão roubando nosso direito de estar no segundo turno."

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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