Em meio à apuração
confusa, a Bolívia permanecia ontem, 22 de outubro, em compasso de espera para
saber se haverá ou não segundo turno nas eleições presidenciais. Enquanto os votos eram contados com grande
lentidão, se espalhavam os protestos contra o governo de Evo Morales, acusado
de fraude, por várias cidades do país. Por sua vez, a OEA - que monitorou a
votação - convocou reunião para discutir a crise.
A reunião do Conselho permanente da OEA será hoje, em
Washington, às 11 horas. Assinale-se que a sessão em tela foi convocada a
pedido do Brasil, Canadá, Colômbia, EUA e Venezuela para considerar a situação
na Bolívia.
Ontem, os dois principais
candidatos disputavam a eleição voto a voto. De acordo com a legislação
boliviana, para vencer no primeiro turno o candidato precisa obter 50% dos
votos válidos ou pelo menos 40% do total, com vantagem de dez pontos
percentuais sobre o segundo colocado.
Com 95,17% das urnas
apuradas, Evo tinha 45,85% dos votos.O ex-presidente Carlos Mesa recebera 37,54 - uma diferença de 8,31 pontos
percentuais.
A medida que a apuração caminhava para o
fim, no entanto, Evo ampliava lentamente a vantagem, embora no quadro
estatístico parecia difícil que ele
ultrapassasse os dez pontos
percentuais.
No entanto, o presidente
Evo Morales, há 14 anos no poder sem nunca ter disputado um segundo turno, não
parecia disposto a alongar uma disputa que ele dificilmente venceria contra a
oposição unida.
A confusão na apuração
começou logo após cerradas as urnas, no domingo. O sistema de contagem rápida - procedimento
estatístico com base em amostragem dos
votos, criado para prever o resultado oficial
- foi interrompido quando mostrava uma estreita vitória de Evo (43,9% a
39,4%). Sem qualquer explicação, o órgão eleitoral da Bolívia então interrompeu o processo de forma repentina.
Depois de 24 horas
de críticas e acusações de fraude, a contagem rápida voltou. Nesse contexto, com pouco mais de 95% das
urnas apuradas, Evo repontou com 10,13% pontos percentuais de vantagem. A missão de observadores da OEA qualificou de
"inexplicável" a súbita alteração na tendência da votação. Nesse
sentido, a missão declarou que a "confiança no processo eleitoral"
estava em risco.
Essa declaração
foi suficiente para desatar uma onda de protestos, que começam em La Paz, na
noite de segunda-feira, dia 21, e se espalham rapidamente para outras cidades.
Grupos civis
ligados à Oposição convocaram uma greve. Está-tua do presidente
venezuelano Hugo Chávez, aliado de Evo
Morales, foi queimada na cidade de Riberalta, na Amazônia boliviana. Manifestações de protesto foram também
registradas em Tarija, Cochabamba e Cobija, onde a polícia agiu para dispersar
a multidão que protestava. A violência
também se estendeu a Sucre e Potosi aonde manifestantes atearam fogo em tribunais eleitorais - em Potosi,
duas pessoas escaparam do fogo saltando
pela janela.
Por sua vez, com o
aumento da pressão, a porta-voz do Tribunal Eleitoral em Chuquisaca, Olga
Martinez pediu demissão em caráter irrevogável: "reitero à sociedade
boliviana meu compromisso com a democracia", escreveu Olga, em carta, sem
dar maiores detalhes.
Por
outro lado, Carlos Mesa, o candidato oposicionista assim se manifestou:
"Não reconheceremos esses resultados que são parte de uma fraude consumada
de maneira vergonhosa",
E Mesa assim
completou seu protesto: "Não reconheceremos esses resultados que são
parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa e está colocando a sociedade boliviana em uma situação de
tensão desnecessária", afirmou o opositor Mesa. "Estão roubando nosso
direito de estar no segundo turno."
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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