sábado, 26 de outubro de 2019

Incertezas sobre adiamento do Brexit


                        
           A seis dias do adiamento do Brexit, a União Europeia postergou, ontem, 25 de outubro, sua decisão sobre implementar ou não o prazo para a saída do Reino Unido. Entrementes, a U.E. aguarda a decisão do parlamento britânico sobre a antecipação das eleições, que foi proposta nesta quinta-feira, dia 24, pelo Primeiro Ministro Boris Johnson.

            Na dependência de o que ocorrer em Westminster, os representantes  dos 27 países definiram ser a terça-feira dia 29 como o prazo máximo para decidir da duração da prorrogação, dependendo de o que ocorrer em Londres. Antes de decidir  do período de adiamento, os europeus desejam ter conhecimento se o Parlamento britânico apoiará a proposta de Johnson de antecipar as eleições legislativas para doze de dezembro - a decisão será tomada na segunda-feira, dia 28 de outubro.

              "Não podemos  fazer ficção política, precisamos de fatos para tomar decisões", disse a Secretária de Estado para Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin. O governo francês defende uma prorrogação mais curta do Brexit - não até 31 de janeiro, como pedira Johnson. A decisão da UE deixa em branco uma nova data para o Brexit.  Segundo diplomata europeu, estaria entre adiamento flexível de três meses ou um de duas semanas.
                   Na primeira opção, o UK sairia em 31 de janeiro, mas poderia ser até mais cedo se o país e a UE ratificassem acordo antes deste prazo. A segunda incluiria outra data específica para a saída britânica.
                     Deve-se considerar que se Theresa May fora derrotada - e por três vezes - no acordo previsto para a Irlanda britânica, agora, Johnson conseguiu aprovar no Parla-mento os termos da saída que ele negociara com a U.E. dias antes. Sem embargo, os deputados se recusaram a tramitar o projeto de lei em regime de urgência. "Um parlamento  zumbi não é bom para ninguém, " observou  nesta sexta 25, o ministro das Finanças, Sajid Javid.

                       O acossado Premier exigira uma eleição antes do Natal, para acabar com o que rotulou  de "pesadelo" do Brexit, admitindo por conseguinte que não conseguirá cumprir o prazo do dia 31. Nesse mesmo quadro, de falar grosso em posição de fraqueza, e para pressionar o Parlamento - onde ele é minoritário - pediu para antecipar novas eleições para o dia doze de dezembro. Para tal, no entanto, o Primeiro Ministro precisa da concordância de dois terços dos deputados - o que significa apoio da Oposição trabalhista.

                        No entanto, o falastrão Boris Johnson fala grosso, consciente embora que depende da boa vontade do líder da Oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn. Na sua rogatória de apoio para novas eleições, Johnson pede apoio para convocar novas eleições:  "acabe com o pesadelo e dê ao país  uma solução o mais rápido possível". E ainda no mesmo tom , não recua diante da ameaça: "prolongar esta paralisia até 2020 teria consequências perigosas".

                         Dentro de seu estilo de falar grosso, sem dispor de situação em que possa ditar ao partido trabalhista as condições, a resposta de Corbyn para Boris Johnson na verdade reflete a realidade da situação, em que o fanfarrão Johnson não tem condições de impor a anuência de Corbyn. Por isso, o líder trabalhista exigiu primo que a possibilidade de um Brexit sem acordo, no dia 31, seja descartada, o que poderia ser atingido com uma prorrogação do brexit por parte da U.E. Tampouco o líder do Labour concordou com a data das eleições, alegando que é demasiado próxima do Natal.
                           Por outro lado, diplomata europeu alertou a 25 do corrente, que a data do adiamento, dada como certa na U.E., dependerá "da decisão do Reino Unido de realizar ou não eleições antecipadas". "Os 27 países não querem ser um brinquedo nas aventuras britânicas", disse o diplomata.  Por sua vez, a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva, admitiu também ontem que o bloco concordou com "a extensão", mas observou que os diplomatas continuarão trabalhando no assunto nos próximos dias.
                             Por enquanto, há um desencontro sobre o que possa acontecer em futuro próximo.  A opinião pública inglesa demonstra um crescente mal-estar em termos de o que vá ser decidido nesse momento. No Labour, há um líder que não tem o carisma de outros líderes do partido de Attlee e Harold Wilson. Jeremy Corbyn se enquadra um tanto nesse momento de não excessiva presença de líderes fortes junto ao Povo inglês, que continua a manifestar-se em muitas oportunidades não para o Brexit, tão prenhe de ameaças e incertezas,  mas pelo recurso de um segundo plebiscito, dadas as incertezas que cercam a consulta de 2016, que levou de roldão o medíocre David Cameron, a própria Theresa May, que do campo Remain - favorecendo o voto pela permanência achou oportuno, depois do malogro no referendo mal conduzido,  tentar a senda sinuosa do Brexit, com os resultados que estão aí.

                                   Por outro lado, o presente Premier Boris Johnson - que não impressiona decerto por firmeza e bom senso - não transmite a impressão de ser personalidade  à altura do desafio dessa hora em que a velha Inglaterra se defronta com esse desafio toynbeeano - a que o  distante sucessor de Winston Churchill e do ainda mais longínquo Benjamin Disraeli (1868 e 1874-1880) não transmite aos contemporâneos a impressão que esteja ele à altura desse desafio toynbeano, uma situação decerto prenhe de dificuldades e incertezas, em que, a par do medíocre líder do Labour, Jeremy Corbyn,  Johnson está na linha pouco promissora, personificada pela sua antecessora Theresa May e para o criador de toda essa confusão, o ex-Primeiro Ministro David Cameron, que convocou o mal-pensado, inoportuno (inclusive pelo período estival) e desastroso referendo de 2016, que, ao parecer, jogou na lata do lixo o sonho de várias gerações de grandes líderes ingleses, convocando por uma estulta vez repetida essa abertura de cancela para que afinal deixasse partir o sonho de tantos ingleses, e em especial de sua juventude, nessa estulta repetição de uma pergunta que já fora eloquentemente respondida por uma geração de políticos ingleses, que crescera diante do fracasso da Associação de Livre Comércio, e que lograram realizar o sonho de uma brilhante geração de políticos ingleses,  afastada a barreira gaulesa com o desaparecimento, pela  morte do general Charles de Gaulle, o não desse líder francês ao ingresso da Inglaterra no então Mercado Comum. 


( Fontes: O Estado de S.Paulo, Arnold Toynbee, experiência diplomática )



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