Bispo de São Félix do
Araguaia, em Mato Grosso, coube a Dom
Adriano Ciocca Vasino responder às declarações
neste sábado, dia doze de outubro, do vice-presidente Hamilton Mourão. Nesse
sentido, Dom Adriano disse que o governo Bolsonaro quer "cancelar a
cultura e a identidade dos indígenas".
Falando à Folha, dom Adriano afirmou que o
incômodo do governo Jair Bolsonaro com o Sínodo da Amazônia é
"provavelmente porque eles dizem uma coisa e depois fazem outra
coisa." E observou: "Falar é fácil, mas, para cumprir de forma
coerente com aquilo que a legislação
prevê, a gente vê que tem um hiato muito grande",
Ainda de acordo com d.
Adriano, a atitude adequada do governo é estabelecer mais diálogo com a
Igreja Católica e com os povos indígenas para compreender melhor as
necessidades e as exigências de quem vive ali.
"Mas percebemos o contrário:
este governo está querendo cancelar a cultura e a identidade dos
indígenas. Eles querem que os índios
como índios desapareçam e se agreguem à sociedade branca como pobres.
Sociologicamente entrariam numa outra categoria e desapareceriam como cultura e
identidade próprias."
O vice-presidente Mourão disse
nesta sexta-feira, ll de outubro, que daria um "pequeno recado" ao
Vaticano sobre a Amazônia. "A mensagem que eu quero passar, em nome de
nosso governo, é que a Amazônia brasileira é brasileira. É responsabilidade nossa
preservá-la e protegê-la. Quero deixar isso bem claro." (!)
Para dom Adriano, no entanto, a
soberania do Brasil não está em discussão. Ele é um dos 57 bispos
brasileiros que participam do Sínodo da Amazônia, reunião de religiosos e
especialistas dos nove países do bioma
com o Papa Francisco, que convocou a assembléia há dois anos para debater a ação da Igreja Católica na
região e a situação do meio ambiente e dos moradores. Sâo 258 participantes que se reúnem até domingo, dia 27 de outubro.
"A soberania do Brasil e dos outros países que fazem parte da Amazônia
não está em discussão, a responsabilidade primária é dos países que têm a Amazônia. Mas não
podemos esquecer que estamos num mundo globalizado e que é importante que se
supere a ideia de soberanismo, que é um pouco ultrapassada e uma forma de
populismo. E que não ajuda nem o Brasil, nem a
Amazônia, nem a saúde do nosso planeta", afirmou o religioso a
jornalistas, em entrevista organizada pela Santa Sé.
Antes do encontro, iniciado a seis de
outubro, o governo Bolsonaro criticara a iniciativa da Igreja Católica,
argumentando que se tratava de uma ameaça à soberania brasileira sobre as
questões relativas à Amazônia.
( Fonte: Michele de Oliveira, Folha de S. Paulo )
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