Há um filme americano
de muito tempo atrás em que o âmago de película está em um belo gesto praticado
por um soldado, se não me engano da Legião Estrangeira, que ele deixa como uma
espécie de legado, que pela elevação da intenção que o motivara dá sentido à
sua existência.
Agora que o triste episódio
provocado, seja pela insensatez, seja mesmo pela própria indiferença, ou até
falta de qualquer mínima sensibilidade, que em meio à caleidoscópica visão de
um presidente pudesse, se bem compreendido, dar um sentido adicional à própria
trajetória política, se aproxima daquele estágio que o espectador tenda a
considerar como conclusivo, creio que, com a compreensão do leitor se se esteja
acercando de uma fase em que as características do episódio já se afirmam na
sua brutal e cínica realidade.
Em muitos aspectos, mas,
sobretudo pela imagem de cruel frieza e pela consequente falta de empatia ou
mesmo de reconhecimento dos valores intrínsecos da lealdade e da coragem
demonstradas pelo contingente curdo, pode-se chegar a um juízo, ainda que
tentativo, das enormes limitações na capacidade de liderança dessa alta
personalidade.
É de sentir-se pena dos
Estados Unidos em que se veja com um comandante supremo com uma tal falta não
só de sensibilidade quanto ao potencial evidenciado pelo soldado curdo, que
chega ao extremo de ignorar-lhe os serviços prestados por tanto tempo e com tal validade e
mérito, e o que é ainda mais lamentável e, por conseguinte, que reveste
ulterior relevância, chegar ao ponto extremo de tratá-lo com brutal
indiferença.
Em todos os aspectos, o
presidente Donald Trump falha, mas sobretudo enquanto comandante. Na sua insensibilidade,
não demonstra nada que se avizinhe da correta avaliação do bom soldado curdo,
seja na própria confiabilidade, seja na coragem e respectiva destreza no seu
mister. Existem atos e atitudes nas autoridades e, máxime, nos líderes
militares, que são duplamente reprováveis. Como eventual lição para quem careça
de ser instruído no que deve ser o comportamento correto de um alto comandante
militar está na realização de que existem determinados atos que pela sua
própria ínsita estupidez podem ser interpretados - o que é sem dúvida o caso em
tela - como um duplo erro do comandante militar. A sua indigência como líder é
duplamente evidenciada: além de desvencilhar-se de um válido aliado, com o que
perde já bastante, dado o comportamento da tropa, mostra outrossim completa e
perigosa inaptidão de valorizar a lealdade e a capacidade assinalada em tantos
episódios pelo soldado curdo. Se a falta de sensibilidade na avaliação já
constitui erro grave em um comandante presidencial, a sinalização para o futuro
é ainda pior, enquanto demonstra uma relação marcada pela inconfiabilidade. O
que pode esperar o soldado curdo ao ser tratado com tal insensibilidade, a
ponto de que a própria lealdade e confiabilidade no exercício das respectivas e
muito válidas prestações militares venha a receber como retribuição a sua eventual entrega ao inimigo turco ?
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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