domingo, 20 de outubro de 2019

Brexit - o quê fazer dele ?


                          

        Conforme se previa em inúmeros círculos, os planos de Boris Johnson.assim como houvera sido com os de sua antecessora Theresa May, afundaram no Irish back-stop, e Boris Johnson com todo o seu panache, foi forçado, ainda uma vez, a admitir um ulterior fracasso no processo de saída do Reino Unido do bloco europeu.
            Assim, mais um duro revés estava reservado para o minoritário Primeiro Ministro inglês. Votaram contra os trabalhistas de Jeremy Corbyn,assim como os unionistas -que tinham sido arrebanhados, em função de errôneo cálculo da May, de lograr com nova eleição a antojada folgada maioria... Os erros se sucedem desde esse inoportuno referendo - convocado em 2016 por David Cameron, e assim pondo fim à própria carreira parlamentar, pelo erro garrafal de, estúpida e inutilmente, cortar as esperanças da juventude britânica, que vê afastar-se a miríade de oportunidades antes oferecidas pelos ora cerrados meios universitários naquele medíocre verão, quando um enésimo referendo, inventado pelos saudosistas e aceito, de forma irresponsável,  por Cameron, pondo à sua carreira política um termino que ele fez por  merecer, mas não a gente jovem e aqueles com alguma inteligência na cachola, que não queriam a Grã-Bretanha troncha por um retorno ao passado, àquele que nada mais pode trazer senão a nostalgia de um tempo que saíu do espaço, e só existe em filmes e em velhos alfarrábios.

           O jovem é a criatura do presente, daquele mundo que se tem por diante de si, e por isso não pertence àquele outro que se consolida na memória do tempo, ou daqueles que a sorte madrasta deixa ficar para trás, sem mais reservar surpresas e  até decepções, nesse súbito, imprevisível estado de espírito que a tudo se fecha, até mesmo aos choques que revoltam e pode rasgar as cortinas que embaraçam o futuro. A ambição do jovem é companheira de todas as horas e por isso a fortuna, que é tão cruel quanto possa ser magnânima, a eles há de pertencer sempre, enquanto a força de vontade fizer que permaneçam as mágicas criaturas do porvir, de tudo aquilo de bom, belo, grande e quem sabe ambicioso, que a sorte permita possa ser feito, seja com os dias, os meses e os anos, e que em se abrindo aos caprichos dos deuses, para aqueles que estudam e pensam trabalhar, guardem a esperança que é o que move a quem tem a vida pela frente e desfruta, por conseguinte, do divino privilégio que é a opção, a qual como mágica determinação, guardará sempre consigo, bem junto do peito e dos anseios  que nele se encerram, mofinas criaturas que o estudo, o labor e a perseverança  farão crescer para que nela se encerrem, pois só   aqueles que perderam a esperança, seja por fatalidade ou sorte madrasta, aqueles hão de descortinar a plácida mas enganosa planície de um porvir sem sustos nem surpresas, mas tampouco livre da monotonia malsã  que aos grandes apequenas e aos menores acena com as falsas opções que os caminhantes da existência já conhecem faz muito, dela sabendo com amargor do pouco que oferecem. Sabem eles que a vida é luta renhida, que aos fracos abate, mas os fortes anima ?  E a glória do vencedor estará sempre na ousadia da escolha.  Tudo pode, quem faz a hora. Mas a poucos se descerra a visão dos limites, e até  quando o caminhante poderá prosseguir. Dizem os ousados, que a eles pertence o futuro. Mas terão acaso presente que muitos deles vêem o caminho cortado, de forma imprevista e por vezes até cruel ?

               Sem embargo, o caminhante terá sempre seu prêmio por um conluio entre a deusa Fortuna e alguma surpresa que o caminho por ventura lhe reserve.  É certo e triste que os troféus nem sempre caem nas mãos daqueles que fizeram por merecê-los, mas posso atestar que o capricho dos deuses, como tudo na humana existência, tem sua quota de ignota crueldade, mas que para descobri-lo o pretendente terá de abrir a sua mão, na confiança que a indevassável divindade mostrará talvez naquele caso a generosidade que o caminhante da esperança pensou fazê-lo por merecer.

                 Há belas caminhadas que terminam sob o mau agouro de um deus que não olhou com boas vistas  o lento, mas pertinaz percurso.  Já outro se terá encantado com uma face mais risonha e uma postura não curvada sob o cansaço, tanto dos desforços, quanto dos eventuais óbices, e que tem no seu brilho  a impávida luz  dos que só reconhecem a ampla via de um porvir tão forte quanto generoso.
                  Pois o futuro será sempre dos fortes, e daqueles que enjeitam o cansaço e  tudo que nele se encerra.  Talvez o grande erro desse brexit foi buscar as gloriolas do passado -  que as gerações do século vinte souberam arrancar do rochedo de Gaulle - eis que essa caminhada levaria a descaminhos que a geração que soubera arrancar do povo inglês abandonar as ilusões de um  passado  sem dúvida de glórias, mas eles bem souberam ver que como toda conquista do pretérito ela pertencia a um mundo que não mais existia, e que, por conseguinte, como o pressentia o jovem, o porvir estava no desafio de uma nova comunidade, em que não mais serviam os brazões das antigas conquistas, e como de resto a juventude será sempre o contingente da esperança e da ousadia,  será em tais sinais que a atenção se deve prender, se não se quiser acabar na necromancia de os que cultuam o passado e pensam nele encontrar certezas. Mas nessa certeza a Juventude será sempre a primeira e  por isso, há que seguir-lhe o passo generoso e ligeiro.  Nele entrevêem a Esperança, pois sabem que em mundo dos velhos e de  antigas glórias,  a sua presença será sempre arredia como a luz ao cair o crepúsculo. 
                      É hora de abrir portas para o Porvir. Pois nele está a esperança.  O passado é morte, enquanto repetição de o já foi vivido.  Os precursores da Inglaterra na aventura  da União Europeia traziam a confiança - que se alimentava do passado -  nas obras da unidade do Continente, em que a seiva do presente carece de estar ativa e sobretudo trazendo consigo a dádiva dos jovens, que é a esperança do novo e da união com forças enjeitadas no passado, e que o presente nos ensina a ver como boas companheiras para uma nova viagem existencial.
                        Deixemos as experiências passadas para o espiritismo.  Ao viver o presente, a nova Europa não se aferra aos brasões de lutas antigas, com arco,lança e flechas. Ela pensa no presente e nos seus magníficos desafios.  E que Povo mais adaptado para vencer aquilo que parece invencível pelos anos, que o Inglês, que traz consigo essa grande memória, que a sua Juventude no seu destemor e na sua abertura aos desafios do Futuro de que nos fala - e sobretudo nos sinaliza - o grande filósofo da História Arnold Toynbee, que é, com o porte do seu imortal A Study of History, o símbolo não só perene, mas eivado de coragem e da indústria do Povo inglês, e da sua contribuição para a progressão da Humanidade ?
    
( Fontes:  A Study of History; O Estado de S. Paulo )

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