A revelação de que o
Exército se recusara a dar suporte a
operações do IBAMA[1]
durante a missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia, deixou
evidente o que servidores do órgão vêm classificando como "ausência de
articulação" entre as duas
instituições. Nos bastidores, as queixas são de que os militares estão atuando
apenas nas ações de maior visibilidade, como o combate a incêndios, e deixando
as outras a cargo dos órgãos ambientais.
Em ofício produzido pela área de
fiscalização do Ibama, um servidor relata o descompasso com os militares:
"Informo primeiramente que foi constatada a ausência de articulação entre
as bases da GLO e a fiscalização do Ibama. Isso se deve, por um lado, pelo fato
de a GLO estar visivelmente mais voltada para o combate aos incêndios
florestais e não tanto para o combate aos ilícitos ambientais", reza o
documento.
Em outro trecho, o servidor credita
parte do descompasso ao estilo com o qual as duas instituições estão atuando.
Enquanto os militares atuariam de forma descentralizada por meio do Comando
Militar da Amazônia (CMA), com sede em Manaus, e do Comando Militar do Norte,
com sede em Belém, o Ibama atua de forma centralizada, com sua base em
Brasília.
"Essa falta de sintonia entre
as bases vem gerando problemas nos sentidos de disponibilização do apoio
policial e da Força Nacional", reza o documento do Ibama.
O servidor pede a seus superiores que o Ibama solicite o
apoio aos militares para que a GLO - que foi prorrogada até o dia 24 de outubro
pelo presidente Jair Bolsonaro - também atue em missões de combate ao
desmatamento nessa nova fase.
Funcionário do Ibama ouvido
por O Globo sob a condição de anonimato
diz que o clima de insatisfação entre os fiscais do órgão com os militares é
geral.
- Eles só estão fazendo o que
dá mídia, que é o combate aos incêndios. Nas operações contra os desmatadores,
eles praticamente não entram. Criaram
uma GLO para combater incêndio e ilícito ambiental e só estão atuando em uma
frente. Na prática, o combate ao crime ambiental continua prejudicado - afirma
o servidor.
Crédito
pelas Operações.
Outro episódio que aumentou a
animosidade entre fiscais e os militares ocorreu no final de setembro. Segundo o ofício, as Forças Armadas estariam
computando dados de ações do IBAMA como se fossem seus.
- Isso foi a gota d'agua. Eles estão recebendo quase dois milhões de reais por dia e ainda estão usando nossos resultados como se fossem deles. (servidor do Ibama, sob condição de anonimato)No dia 23 de setembro, o Ministério da Defesa anunciou que o Governo Federal havia liberado R$ 86 milhões para a ação GLO, Considerando o prazo de dois meses de duração, a estimativa é de que a missão possa custar em torno de R$ 1,4 milhão por dia..
Procurado pelo Globo, o Ministério da Defesa afirmou que sua operação na Amazônia "é realizada em conjunto com diversos órgãos e agências federais e estaduais" e que por isso "as decisões tomadas não são unilaterais". Disse ainda que o IBAMA participa da reuniões diárias do comando da Operação em Brasília, e que "todos os resultados obtidos são computados e integram o relatório diário", "A integração entre Forças Armadas e agências pode ser comprovada pelos resultados positivos", diz o Ministério."
( Fonte: O Globo )
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