Passadas
três semanas, os padres sinodais apresentaram ontem, 26 de outubro, a Papa
Francisco, o relatório final do Sínodo sobre a Amazônia. São 120 parágrafos,
divididos em cinco capítulos. As propostas abrangem desde a conceituação de o
que é peca-do ecológico até a maior participação das mulheres na liturgia
católica. Levados em conta os costumes da época, a mais polêmica é a proposta
do parágrafo 111, para que, tendo presente os casos e a necessidade, homens
casados possam ser ordenados e dispensados, por conseguinte, do celibato. É
notório que "há enormes dificuldades de acesso à Eucaristia" no
território amazônico, ficando meses ou até "vários anos" sem a presença de um sacerdote.
Nessas
condições, para diminuir o problema, os padres sinodais pedem ao Papa que
autorize a ordenação de sacerdotes sem a exigência do celibato clerical - desde
que, frisam, sejam "homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que
tenham diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o
presbiteriado". Estes padres,
segue o texto, teriam "uma família legitimamente constituída e estável".
Todos os parágrafos precisaram ser aprovados, em assembleia realizada
ontem, por pelo menos dois terços dos padres sinodais - aqueles participantes
com direito a voto. No encontro final, estavam presentes 181. De todos os itens, o 111
foi justamente o que teve menor índice de aprovação - foram 41 votos contrários.
Como já se esperava, o documento tem forte apelo ambiental e cobra
posturas inclusivas junto aos pobres, imigrantes, e a todas as "periferias
do mundo". O relatório pede uma Igreja "com rosto indígena, camponês
e afrodescendente", "com rosto migrante" e jovem.
No encerramento do Sínodo, Francisco afirmou que a região amazônica
sofre "todo tipo de injustiça, destruição de pessoas, exploração de
pessoas em todos os níveis e destruição da identidade cultural", Segundo
Sua Santidade, "a consciência ecológica nos denuncia um caminho de
exploração compulsiva e corrupção. A Amazônia é um dos pontos mais importantes
disso. Um símbolo", declarou o Santo Padre.
Dentro do conceito de ecologia integral, o Papa frisou que os problemas
ambientais precisam ser vistos dentro de seus contextos sociais, "não só
o que se explora selvagemente a criação, mas também as pessoas". Ele afirmou ainda que pretende criar um órgão
dentro da Santa Sé dedicado exclusivamente aos cuidados com a Amazônia.
No documento, ao sugerirem o "pecado ecológico", os bispos
argumentaram que o desrespeito à
natureza deve ser visto como pecado porque seria afronta a Deus e uma agressão
à sua criação. Essa ideia já estava presente na Encíclica Laudato Si', publicada por Francisco em 2015." Nenhum católico
pode viver em comunhão com a Igreja sem escutar o grito da Terra. (Desrespeitar
a natureza) é um pecado, é um pecado
ecológico", disse o bispo de Izirzada (Peru) David Martinez de Aguirre
Guinea.
Mulheres.
A maior participação feminina em celebrações litúrgicas e em papéis dentro da
igreja foi abordado em cinco parágrafos do documento, sob o título "presenças
e a vez da mulher"."(...) se pede que a voz das mulheres
seja ouvida, que elas sejam consultadas e participem das decisões e, assim,
possam contribuir com sua sensibilidade à si-nodalidade eclesial", diz o
documento. O ítem 103 afirma que muitas consultas solicitam "o diaconato
permanente para as mulheres". Foi o segundo ítem com mais rejeição- teve
trinta votos contrários.
( Fonte: O
Estado de S. Paulo )
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