Essa pergunta está em
uma poesia de François Villon e exprime inelutável saudosismo diante de um passado tão belo
quanto indevassável.
Ao ler o noticiário sobre as atuais
confusões políticas em Quito, como não poderia deixar de recordar-me de minha
passagem por S, Francisco de Quito, na época ainda mais distante do que essa
simpática capital se nos afigura hoje.
Lá cheguei por um ato do então
secretário-geral do Itamaraty. A capital do Equador era então ainda mais
inatingível de o que será hoje, passados já tantos anos. Fui então a incauta
vítima de um capricho do Secretário-Geral do Itamaraty, um senhor que pela sua
imprevisibilidade se inseriu em o que seriam as minhas memórias na carrière.
Recém-casado, passei nas minhas
memórias de vida diplomática pelo gabinete do então todo-poderoso
Secretário-Geral, de que mais tarde meus amigos sacudiriam a cabeça diante da
imprudência do jovem Segundo Secretário. Em nossas vidas profissionais, haverá
sempre atos que nos provoquem ulteriores estupefações, diante da imprudência
(ou, quem sabe, ingenuidade) que terá marcado tais visitas de ofício, que a
ulterior prudência nos ensinaria a evitar.
Como cordeiro, marquei hora para
uma visita de ofício a tal senhor, que não poderia ter como resultado senão o
meu encaminhamento para a então esquecida missão em Quito.
O que eu não sabia, era o que
me preparava o destino, ao estreitar-me as relações com um colega que já
conhecia, ainda que de modo perfunctório. Quando me preparava para o exame
vestibular, já visitara a Pedro Carlos Neves da Rocha, que então residia em uma
pensão do Catete - que já descrevi em outra parte, por impressionar-me pelas
estantes de livros que Pedro arranjara de colocar nas dependências espaçosas
nessa velha pensão aonde residia. A amizade, no entanto, como escrevi alhures,
a propósito de nosso estágio comum no então plácido S. Francisco de Quito, iria
estreitar-se justamente quando ao visitar as dependências da Secretaria Geral, na
época exercida pelo embaixador Manoel Pio Correa Júnior, me viria encaminhado para
um "convite" ao qual não poderia recusar.
Se não me engano, este foi o
único posto para o qual fui destinado por aquele tipo de "convite", ao
que V. não pode recusar. Sem embargo, a sorte que parecia madrasta me traria a
oportunidade de estreitar as relações com quem se tornaria um grande e bom
amigo no Itamaraty e fora dele. Ali se construiria uma grande amizade, que só
se desfaria pela sorte madrasta, que me foi transmitida pelo amigo comum Rezende,
com as ominosas palavras ao telefone: "tenho uma notícia muito triste para
dar-te", e que pelo seu contexto já fazia antever o que vinha a caminho.
Para lidar com essa grande presença na minha vida - iniciada pela nossa estada
comum em S. Francisco de Quito - escrevi, depois de seu inesperado passamento
"Cartas ao amigo ausente"
[i]
François Villon (nascido em Paris 1431 - circa 1489), il apparait comme le
premier en date des grands poètes lyriques français de l'époque moderne
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