A
seis dias do adiamento do Brexit, a
União Europeia postergou, ontem, 25 de outubro, sua decisão sobre implementar
ou não o prazo para a saída do Reino Unido. Entrementes, a U.E. aguarda a
decisão do parlamento britânico sobre a antecipação das eleições, que foi
proposta nesta quinta-feira, dia 24, pelo Primeiro Ministro Boris Johnson.
Na dependência de o que ocorrer em Westminster, os representantes dos 27 países definiram ser a terça-feira dia
29 como o prazo máximo para decidir da duração da prorrogação, dependendo de o
que ocorrer em Londres. Antes de decidir
do período de adiamento, os europeus desejam ter conhecimento se o
Parlamento britânico apoiará a proposta de Johnson de antecipar as eleições
legislativas para doze de dezembro - a decisão será tomada na segunda-feira,
dia 28 de outubro.
"Não podemos fazer ficção
política, precisamos de fatos para tomar decisões", disse a Secretária de
Estado para Assuntos Europeus, Amélie
de Montchalin. O governo francês defende uma prorrogação mais curta do Brexit - não até 31 de janeiro, como
pedira Johnson. A decisão da UE deixa em branco uma nova data para o Brexit. Segundo diplomata europeu, estaria entre
adiamento flexível de três meses ou um de duas semanas.
Na primeira opção, o UK sairia em 31 de janeiro, mas
poderia ser até mais cedo se o país e a UE ratificassem acordo antes deste
prazo. A segunda incluiria outra data específica para a saída britânica.
Deve-se considerar que se Theresa
May fora derrotada - e por três vezes - no acordo previsto para a Irlanda
britânica, agora, Johnson conseguiu aprovar no Parla-mento os termos da saída
que ele negociara com a U.E. dias antes. Sem embargo, os deputados se recusaram
a tramitar o projeto de lei em regime de urgência. "Um parlamento zumbi
não é bom para ninguém, " observou
nesta sexta 25, o ministro das Finanças, Sajid Javid.
O acossado Premier exigira uma eleição antes do
Natal, para acabar com o que rotulou de
"pesadelo" do Brexit,
admitindo por conseguinte que não conseguirá cumprir o prazo do dia 31. Nesse
mesmo quadro, de falar grosso em posição de fraqueza, e para pressionar o
Parlamento - onde ele é minoritário - pediu para antecipar novas eleições para
o dia doze de dezembro. Para tal, no entanto, o Primeiro Ministro precisa da
concordância de dois terços dos deputados - o que significa apoio da Oposição
trabalhista.
No entanto, o falastrão Boris Johnson fala
grosso, consciente embora que depende da boa vontade do líder da Oposição, o
trabalhista Jeremy Corbyn. Na sua
rogatória de apoio para novas eleições, Johnson pede apoio para convocar novas
eleições: "acabe com o pesadelo e
dê ao país uma solução o mais rápido
possível". E ainda no mesmo tom ,
não recua diante da ameaça: "prolongar esta paralisia até 2020 teria
consequências perigosas".
Dentro de seu estilo de falar grosso, sem
dispor de situação em que possa ditar ao partido trabalhista as condições, a
resposta de Corbyn para Boris Johnson na verdade reflete a realidade da
situação, em que o fanfarrão Johnson não tem condições de impor a anuência de
Corbyn. Por isso, o líder trabalhista exigiu primo que a possibilidade de um Brexit
sem acordo, no dia 31, seja descartada, o que poderia ser atingido com uma
prorrogação do brexit por
parte da U.E. Tampouco o líder do Labour concordou com a data das eleições,
alegando que é demasiado próxima do Natal.
Por outro lado, diplomata
europeu alertou a 25 do corrente, que a data do adiamento, dada como certa na
U.E., dependerá "da decisão do Reino Unido de realizar ou não eleições
antecipadas". "Os 27 países não querem ser um brinquedo nas aventuras
britânicas", disse o diplomata. Por
sua vez, a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva, admitiu também ontem
que o bloco concordou com "a extensão", mas observou que os
diplomatas continuarão trabalhando no assunto nos próximos dias.
Por enquanto, há
um desencontro sobre o que possa acontecer em futuro próximo. A opinião pública inglesa demonstra um
crescente mal-estar em termos de o que vá ser decidido nesse momento. No
Labour, há um líder que não tem o carisma de outros líderes do partido de Attlee
e Harold
Wilson. Jeremy Corbyn
se enquadra um tanto nesse momento de não excessiva presença de líderes fortes
junto ao Povo inglês, que continua a manifestar-se em muitas oportunidades não
para o Brexit, tão prenhe de ameaças e incertezas, mas pelo recurso de um segundo plebiscito,
dadas as incertezas que cercam a consulta de 2016, que levou de roldão o
medíocre David Cameron, a própria
Theresa May, que do campo Remain -
favorecendo o voto pela permanência achou oportuno, depois do malogro no
referendo mal conduzido, tentar a senda
sinuosa do Brexit, com os resultados que estão aí.
Por outro
lado, o presente Premier Boris Johnson - que não impressiona decerto por firmeza
e bom senso - não transmite a impressão de ser personalidade à altura do desafio dessa hora em que a velha
Inglaterra se defronta com esse desafio toynbeeano - a que o distante sucessor de Winston Churchill e do
ainda mais longínquo Benjamin Disraeli (1868 e 1874-1880)
não transmite aos contemporâneos a impressão que esteja ele à altura desse
desafio toynbeano, uma situação
decerto prenhe de dificuldades e incertezas, em que, a par do medíocre líder do
Labour, Jeremy Corbyn, Johnson está na
linha pouco promissora, personificada pela sua antecessora Theresa May e para o
criador de toda essa confusão, o ex-Primeiro Ministro David Cameron, que
convocou o mal-pensado, inoportuno (inclusive pelo período estival) e desastroso
referendo de 2016, que, ao parecer, jogou na lata do lixo o sonho de várias
gerações de grandes líderes ingleses, convocando por uma estulta vez repetida
essa abertura de cancela para que afinal deixasse partir o sonho de tantos
ingleses, e em especial de sua juventude, nessa estulta repetição de uma
pergunta que já fora eloquentemente respondida por uma geração de políticos
ingleses, que crescera diante do fracasso da Associação de Livre Comércio, e
que lograram realizar o sonho de uma brilhante geração de políticos ingleses, afastada a barreira gaulesa com o desaparecimento,
pela morte do general Charles de Gaulle,
o não desse líder francês ao
ingresso da Inglaterra no então Mercado Comum.
( Fontes: O Estado de S.Paulo, Arnold Toynbee, experiência diplomática )