Em discurso no qual apresentou sua estratégia para conter a influência de
Teerã no Oriente Medio, o presidente Donald Trump retirou a certificação do
pacto, mas não tem poder para uma
ruptura definitiva, que depende do
Congresso (são necessários sessenta votos no Senado, os republicanos têm 52, e
esse número já se afigura bastante relativo, como a dissensão de John McCain e outros do GOP tende a sinalizá-lo).
Para apoiá-lo de forma irrestrita,
Trump somente dispõe do patético 'reforço' de Israel, com o Primeiro Ministro
Bibi Netanyahu. Parte, assim, ao ataque
contra o seu predecessor, Barack Obama, que julgara, com fundadas razões, o
acordo com o Irã como uma das principais conquistas de seu governo. Por isso, Obama sequer se manifestou,
deixando por conta do vice Joe Biden a resposta: "colocar o acordo em
risco de maneira unilateral não isola o Irã. Isola a nós".
O isolamento de Trump é sublinhado de
forma patética pela declaração firmada pelos líderes da RFA, França e Reino
Unido, que além de defender o pacto com o Irã, disseram estar preocupados com
as "possíveis implicações" do anúncio do presidente estadunidense:
"O acordo nuclear foi o ápice de treze anos de diplomacia e foi um grande
passo na direção de assegurar que o programa nuclear do Irã não seja desviado
para fins militares", declaram Theresa May, Angela Merkel e Emmanuel
Macron. Com bastante oportunidade, os europeus afirmam que o mundo não pode
abandonar um pacto de não-proliferação no momento em que já enfrenta a ameaça
nuclear da Coréia do Norte.
Por outro lado, o presidente do Irã,
Hassan Rohani, declarou que o pacto é "inegociável" e não pode ser
cancelado por apenas um participante. O documento foi aprovado em 2015 pelos
Estados Unidos, Irã, República Federal da Alemanha, França, Reino Unido,
República Popular da China, Federação Russa e a União Européia.
Esses países concordaram em suspender
sanções internacionais contra o Irã em troca do congelamento ou reversão de
elementos de seu programa nuclear.
O presidente Donald Trump anunciou,
outrossim, que não enviará ao Congresso documento que certifica o cumprimento
das obrigações do Irã previstas no pacto, apesar de a AIEA ter concluído no mês
passado que não há violações de parte de Teerã.
Com tal decisão presidencial, o
Congresso americano terá sessenta dias
para decidir se restabelece sanções relativas ao programa nuclear
suspensas em 2015. Nesse sentido, Trump quer que esse prazo seja utilizado para
aprovação de legislação que proíba o desenvolvimento de mísseis
intercontinentais pelo Irã e torne permanentes as proibições do acordo, algumas
das quais deixarão de vigorar entre dez a quinze anos. Se essas disposições
fossem violadas,haveria o restabelecimento automático das sanções americanas.
A oposição sanhuda de Trump conta
criar condições a longo e médio prazo, dada a abrangência do sistema financeiro
americano, por onde passam transações de
empresas europeias, chinesas e russas.
Trump compara esse acordo com a ameaça da Coréia do Norte, o que é
absurdo. "Como nós vimos na Coreia do Norte, quanto mais tempo nós
ignoramos uma ameaça, pior essa ameaça se torna. É por isso que nós estamos
determinados a que o maior patrocinador do terrorismo do mundo nunca obtenha
armas nucleares", afirmou Trump.
Segundo análise de Roberto Godoy, do
Estadão, o programa nuclear do Irã está a três anos de distância da
construção de uma ogiva atômica
confiável, miniaturizada e eficiente.Os mísseis estão prontos, o botão de
disparo depende só de uma ordem. Segundo consta, o teste mais recente, há três
semanas, foi impecável. O projeto já estava nesse ponto em janeiro de 2016,
quando foi parcialmente desmantelado para permitir que fossem revogadas as
sanções econômicas impostas pelo Ocidente.
O status
atualizado é uma surpresa e
provavelmente um dos motivos para a decisão do presidente Donald Trump de não
ratificar o acordo firmado pelo democrata Barack Obama. Pela avaliação da
Agência de Inteligência da defesa americana, os principais laboratórios e as
facilidades industriais controlados pela Guarda Revolucionária estariam
parcialmente desativados. Certo? Não, infelizmente errado. Um cochilo da
inteligência americana, que causa óbvio desconforto. Logo se pensa no hacking in do computer de Podesta, o
chefe do Partido Democrata, por onde se ramificou o ataque dos serviços de
informação do KGB gospodin[1] V. Putin. Quase fechando
esse parêntese, vejamos o que nos apresentará a investigação dos serviços
americanos quanto à penetração russa na votação americana. Além de um
escândalo, uma vergonha para a Superpotência. O que irá lançar sobre ela uma luz algo comprometedora, porque
Barack Obama continuou a dormir tranquilo, enquanto os russos faziam uma festa
com o seu partido e a sua candidata Hillary Clinton.
Como se verifica quanto à capacidade
iraniana, os seus especialistas reagem
assaz rapidamente. Em 28 de setembro de
2010 verificou-se o ataque cibernético
contra a fábrica de componentes estratégicos de Bushehr, o complexo
tecnológico de Natanz, onde era feito o enriquecimento do urânio para alimentar
o programa nuclear, e a talvez outros mais trinta mil computadores em toda a
extensão do Irã, todos eles atingidos por um ataque cibernético.
Dado o caráter confidencial da empresa,
presume-se que a operação foi realizada por agências de informação dos Estados
Unidos e do aliado Israel, e terá virtualmente destruído a iniciativa iraniana.
Teria sido, de acordo com a interpretação de engenheiro da empresa IBM "como se cada um deles (computadores) houvesse
recebido a ordem de cometer suicídio."
Consoante as estimativas dos
atacantes, a expectativa era de que os esforços de capacitação sofressem atraso
de ao menos cinco anos.
Não foi o que ocorreu com a reação
iraniana. Em 24 meses, a segunda central
de enriquecimento de urânio, em Fordu, a 42 km da cidade santa de Qom, já
estava funcionando. O modelo de ultracentrífuga usado no processo não mais empregava o sistema que provavelmente
havia servido de entrada para o virus. A vida continua, mas não necessariamente
para todos.
Os principais cientistas iranianos ligados ao programa foram
mortos entre 2010 e 2012, assassinados, segundo o governo de Teerã, por terroristas da facção clandestina Mujahedin
do Povo do Irã - treinados e equipados pelo Mossad, a principal organização da
inteligência de Israel, de acordo com a Oghab-2, o braço da segurança interna
iraniana dedicado às questões do plano de capacitação nuclear.
Por fim, Trump também
anunciou ontem a imposição de sanções contra a Guarda Revolucionária Islâmica,
uma das principais organizações de segurança do Irã, e que pode igualmente
atuar em cenários do Oriente Médio, como se verificou na guerra civil da Siria
e reforçar a organizações menos estruturadas, mas também perigosas no combate,
como o Hezbollah, que é a milícia que
também atuou na guerra civil da Síria.
( Fontes: O Estado de S. Paulo; The NewYork Times; What Happened, de H. Clinton )
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