sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Cresce o isolamento político de Trump

                      
       Embora supostamente as duas intervenções não hajam sido coordenadas, a impressão é de que correspondam à sensação de desconforto do estamento político americano diante do comportamento e das atitudes do novo presidente Donald Trump. Reporto-me nesse sentido às alocuções do ex-presidente George W. Bush e do também ex-presidente Barack Obama.                                     
        Mesmo que a reação haja sido espontânea e não combinada, semelha difícil não entrever nas declarações dos dois antecessores a reação bipartidária contra o rumo que vem tomando a presidência de Trump, com o regurgitar de teses como o isolacionismo e a consequente desconfiança diante do estrangeiro e da suposta ameaça que viria a colocar para a Nação,  que muito deve ao aporte trazido pela imigração.
       Tampouco não se terá presente que, logo após de sua posse, o presidente Trump traria uma leva de medidas anti-imigratórias, que visavam notadamente a países árabes e muçulmanos. Também creio não se terá esquecido do papel maiúsculo de então modesta autoridade substituta na Secretaria responsável pelas questões migratórias. Como se terá presente - e tomo a liberdade de reevocar a sua participação pelo seu caráter relevante, que tanto se insere na reação atitudinal da autoridade americana, qualquer que seja a respectiva hierarquia funcional.
        Nesse contexto, quero crer que uma funcionária de nível ainda modesto se inseriu, por sua coragem e competência funcional, no seleto grupo de funcionários que respeitam a Lei, ainda que diante da nova e poderosa autoridade. Como não se terá esquecido,  Sally Yates, então interina na Secretaria da Justiça, não trepidara em derrubar a primeira leva de medidas anti-imigratórias do presidente Trump. 
     Por força disso, ela seria prontamente afastada, e um pouco mais tarde travaria memorável diálogo com o senador republicano Ted Cruz, do Texas, que, com ar patronizante, pergunta à testemunha Sally Yates convocada a subcomitê judiciário do Senado: A senhora está familiarizada com a 8 USC Seção 1182? "Não assim de improviso", respondeu Yates. Com ar professoral, Cruz complementou: "a autoridade coercitiva estatutária para a Ordem Executiva que a senhora se recusou a cumprir, e que determinaram a sua demissão." 
       Para esclarecer mais, Cruz leu uma parte do estatuto, que autoriza o Presidente de "suspender a entrada de todos os estrangeiros ou de qualquer classe de estrangeiro como imigrantes", aduziu o sorridente Senador Cruz.  
      
      Diante disso, a senhora Yates exclamou: "conheço esse estatuto! E também estou familiarizada com uma cláusula adicional da Lei sobre a Imigração e a Nacionalidade (INA) "que reza que ninguém terá tratamento preferencial ou será discriminado na outorga de um visto por causa de raça, nacionalidade ou lugar de nascimento"
      Essa parte da Lei eu penso que foi promulgada depois da disposição estatutária que o senhor acaba de mencionar. 
     
     Enquanto Subsecretária a senhora Yates assinalou, que, além do texto acima citado, ela tinha que verificar se a Ordem Executiva de Trump violava a Constituição. 
    
   Esta resposta memorável de uma ex-subsecretária de Justiça, dava uma lição de democracia americana, mas pelo visto o republicano Ted Cruz diante da resposta dessa corajosa funcionária desapareceria em seguida, já despojado da sua anterior segurança de quem acredita vá tosquiar alguém - e, na verdade, a democracia americana e a sra. Yates seriam quem ministraria a lição para o senador que logo desapareceria de cena.  

      Voltando às duas reações do estamento político americano, nem o discurso de George W. Bush, nem aquele de Barack Obama passam a ideia de terem sido coordenados, mas é como se fora. O nome do Presidente Donald Trump tampouco é mencionado, mas para quem ouve as duas intervenções, é como se fora.
       E essa concordância dos dois antecessores diretos de Trump - aquele republicano e este democrata - se reflete em uma série de observações, que não carecem de apontar de quem se trata, para que a referência continue óbvia e flagrante.

       O mal-estar da presidência Trump e a sua constante menção de questões que dividem e que, ao invés de unir, tendem a acirrar os ânimos, traz para o centro do diálogo matérias que carregam desconforto, transmitindo dos Estados Unidos uma visão conflitiva que não se coaduna com a perspectiva desses dois seus antecessores, ambos presidentes de consenso, e que se incluem entre aqueles que completaram os rituais dois mandatos.         
          

( Fontes: Rede Globo, The New York Times, The New Yorker )

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