A oposição venezuelana, fiada no desgoverno de Nicolás Maduro, nos
escândalos, na corrupção governamental, no desabastecimento generalizado, na hiperinflação e na
consequente agravação da situação social, fragilizada ainda mais pela débacle na rede de sanidade pública -
que a falta de remédios tende a agravar de forma inelutável - tudo isso só
poderia levar à situação sócio-política vizinha do anarco-banditismo, dada a
resultante ampla, profunda impopularidade
do regime chavista por haver manifestamente causado a situação do caos social
em país que pelos largos lençóis petrolíferos de que dispõe e a resultante
economia de satisfatórios recursos só poderia despencar para tal estado de
coisas por um conjunto de fatores adversos, todos da própria responsabilidade
do grupo de ladravazes encabeçado por Nicolás Maduro.
Pária internacional, assim como os
grupos do narcotráfico que buscam enquistar-se em países de instituições
débeis e corrompidas, o desgoverno de
Maduro procura apoiar-se em regimes autoritários e corruptos. Dada a débacle
social, a falta de contabilidade estatal confiável, e o crescente isolamento internacional, o regime Maduro
- pois por mais autoritário e populista que tenha sido Chavez, ele ainda
buscava manter certos limites na administração do Estado. Podia mandar malas de
dinheiro aos Kirchner como mostra de apoio para a sua tentativa de reeleição,
mas não terá caído nos braços do narco-populismo, como ora se especializam
figurões do estamento madurista, a exemplo de Diosdado Cabello. Se a aposta de
Hugo Chávez não desdenhava o princípio da primazia do chavismo no organismo do
Estado, com a consequente submissão dos demais poderes, ainda subsistiam
resquícios democráticos em Chávez, como a sua aceitação de submeter-se ao recall - instrumento democrático que lhe
reforçou a legitimidade.
O seu delfim Nicolás Maduro enjeitou
o recall, a princípio através de
táticas dilatórias, para depois mostrar a sua radical diferença de Hugo Chávez,
que não recusara cruzar este Rubicão, mostrando confiança no povo venezuelano a
que Maduro, por uma série de circunstâncias de valor e temperamento jamais
poderia ambicionar.
É marcante característica da
História que são assaz raros os herdeiros de grandes líderes políticos. Nos
regimes excepcionais, quando a autoridade sucessora não está protegida por
qualidades similares aos do antecessor, a sua presença à testa da nova ordem
tenderá a ser breve, como se vê com o Lord
Protector Oliver Cromwell, cujo filho e sucessor, Richard, não teve
condições de manter-se no poder, renunciando para a restauração da realeza na
Inglaterra.
Se a Venezuela é nação caribenha,
mas também sul-americana a que marcaram
longas e ruinosas ditaduras, este país antes se caracterizou por sólida
democracia - em um período triste para a América do Sul, então marcada por
longa noite de ditaduras militares, quebrada apenas pelos regimes democráticos
em Bogotá e Caracas.
À primeira vista, não há de
parecer fácil derrubar o regime Maduro. No entanto, a podridão é tal que,
apesar do apoio granjeado nos chamados
bairros populares e nas favelas, a narco-corrupção de sistema que pensa
sustentar-se no gangsterismo dos coletivos
dificilmente poderá prevalecer de forma indefinida.
Quando as condições e a situação
prevalente no país caminham para o insuportável, não há de espantar que tendam a formar-se movimentos que encontram no ruinoso negativismo do presente
um estímulo que, por mais lúcido que seja, pode ser considerado como vizinho do
desespero.
( Fontes: O Estado de S. Paulo; Der Neue Brockhaus )
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