terça-feira, 17 de outubro de 2017

Ilusões duram pouco

                                     

           A oposição venezuelana, fiada no desgoverno de Nicolás Maduro, nos escândalos, na corrupção governamental, no desabastecimento  generalizado, na hiperinflação e na consequente agravação da situação social, fragilizada ainda mais pela débacle na rede de sanidade pública - que a falta de remédios tende a agravar de forma inelutável - tudo isso só poderia levar à situação sócio-política vizinha do anarco-banditismo, dada a resultante ampla,  profunda impopularidade do regime chavista por haver manifestamente causado a situação do caos social em país que pelos largos lençóis petrolíferos de que dispõe e a resultante economia de satisfatórios recursos só poderia despencar para tal estado de coisas por um conjunto de fatores adversos, todos da própria responsabilidade do grupo de ladravazes encabeçado por Nicolás Maduro.
           Pária internacional, assim como os grupos do narcotráfico que buscam enquistar-se em países de instituições débeis  e corrompidas, o desgoverno de Maduro procura apoiar-se em regimes autoritários e corruptos. Dada a débacle social, a falta de contabilidade estatal confiável, e o  crescente isolamento internacional, o regime Maduro - pois por mais autoritário e populista que tenha sido Chavez, ele ainda buscava manter certos limites na administração do Estado. Podia mandar malas de dinheiro aos Kirchner como mostra de apoio para a sua tentativa de reeleição, mas não terá caído nos braços do narco-populismo, como ora se especializam figurões do estamento madurista, a exemplo de Diosdado Cabello. Se a aposta de Hugo Chávez não desdenhava o princípio da primazia do chavismo no organismo do Estado, com a consequente submissão dos demais poderes, ainda subsistiam resquícios democráticos em Chávez, como a sua aceitação de submeter-se ao recall - instrumento democrático que lhe reforçou a  legitimidade.
           O seu delfim Nicolás Maduro enjeitou o recall, a princípio através de táticas dilatórias, para depois mostrar a sua radical diferença de Hugo Chávez, que não recusara cruzar este Rubicão, mostrando confiança no povo venezuelano a que Maduro, por uma série de circunstâncias de valor e temperamento jamais poderia ambicionar.
           É marcante característica da História que são assaz raros os herdeiros de grandes líderes políticos. Nos regimes excepcionais, quando a autoridade sucessora não está protegida por qualidades similares aos do antecessor, a sua presença à testa da nova ordem tenderá a ser breve, como se vê com o Lord Protector Oliver Cromwell, cujo filho e sucessor, Richard, não teve condições de manter-se no poder, renunciando para a restauração da realeza na Inglaterra.   
            Se a Venezuela é nação caribenha, mas  também sul-americana a que marcaram longas e ruinosas ditaduras, este país antes se caracterizou por sólida democracia - em um período triste para a América do Sul, então marcada por longa noite de ditaduras militares, quebrada apenas pelos regimes democráticos em Bogotá e Caracas.
             À primeira vista, não há de parecer fácil derrubar o regime Maduro. No entanto, a podridão é tal que, apesar do apoio granjeado   nos chamados bairros populares e nas favelas, a narco-corrupção de sistema que pensa sustentar-se no gangsterismo dos coletivos dificilmente poderá prevalecer de forma indefinida.
              Quando as condições e a situação prevalente no país caminham para o insuportável, não há de espantar que  tendam a formar-se movimentos que encontram no ruinoso negativismo do presente um estímulo que, por mais lúcido que seja, pode ser considerado como vizinho do desespero.


( Fontes: O Estado de S. Paulo; Der Neue Brockhaus )

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