domingo, 15 de outubro de 2017

O sádico Trump

                                        

        Como as suas iniciativas de derrogar a Lei do Tratamento Custeável através de projetos e emendas no Congresso fracassaram, uma após outra - e não por falta de repetidas tentativas - o Presidente Donald J. Trump resolveu voltar à carga, de outra forma.                        
         O processo se realiza agora através de mórbida campanha, em que se reflete a linguagem da obra célebre 1984 de George Orwell sobre o Despotismo. Será decerto homenagem involuntária ao grande escritor, trazendo de volta o túrgido estilo dessa obra prima de crítica impiedosa ao totalitarismo que prenunciava para idades futuras.
        Mas me apena bastante afirmá-lo que apesar do gênio premonitório do grande escritor inglês, a sua obra prima não me parece bastante para descrever e aprofundar a mesquinhez e a cínica crueldade desse senhor, fortuito e infeliz resultado de processo eleitoral que não mais reflete a vontade soberana de uma Nação. Compreende-se, por conseguinte, que esse dúbio triunfo, de que participou de forma inconfessável o seu estranho mentor Vladimir Vladimirovich Putin, hoje senhor de todas as Rússias, grita com potente clamor para que o Povo americano logre escolher de forma indubitável quem é o governante que tem a real e irrefragável autoridade de exprimir a vontade da Nação estadunidense.
         Pois - e não pretendo delongar-me nessas intricâncias - Mr Trump não é o candidato que reflete a maioria da vontade do Povo estadunidense. Decerto, a sua presença na Casa Branca pode refletir a ação de muitos partidários - e me permito ressaltar a ação do ex-chefe do FBI, Jim Comey, de Julian Assange com os seus Wiki-Leaks, e do próprio egrégio gospodin Putin, que afinal logrou vingar-se de Hillary Clinton e do próprio Barack Obama - mas sem dúvida terá encontrado a ajuda milagrosa nesse arcano método de eleição, que é herança do século XVIII, e que grita hoje para ser mandado aos velhos livros de História, depois de tanto contrariar a real vontade do Povo americano.
           Como toda mensageira do porvir, Hillary não merecia tal sorte. Como também antes disso, Albert V. Gore, e outros mais no passado.
            O importante será suportar - na medida do possível - as idiossincrasias desse Mr Donald John Trump que, de toda forma e em qualquer contexto, não seria eleito em país nenhum desse vasto mundo, se o sistema de votação popular numérica houvesse sido utilizado.
             Vejam agora, meus caros passageiros do bonde universal, e, em especial aqueles que se julgavam protegidos pela grande lei sancionada pelo Presidente Barack Obama.
              Não distingo outra razão para explicar a raiva desenfreada de Mr Trump contra o para ele detestável Obamacare, que a própria sensação de que algo maior do que ele foi criado para proteger o povo americano.
             Infelizmente, destruir é muito mais fácil do que construir. Como Mr Trump tem - ou pensa ter - o poder em mãos, o irrita sobremaneira que esta Lei continue a resistir contra os seus mórbidos truques.
             A princípio, pela sua intrínseca qualidade e disponibilidade, a Lei do Tratamento Custeável conseguiu transformar os apodos que lhe foram lançados pelo GOP como notadamente Obamacare (que pensaram possível rebaixá-la através dessa linguagem não chula, mas popular e quem sabe vulgar), em expressões realmente populares, nas quais, para irritação republicana, se reflete o apreço do Povo pela boa Lei.
              Destruir pode parecer muito mais fácil do que construir. Sadicamente, como se fora legislador que se compraz com o infortúnio alheio, esse presidente, após fracassar no intento de revogar a Lei do ACA no Congresso, agora tenciona relaxar os critérios da assistência sanitária para os pequenos negócios que se juntam para adquirir assistência sanitária e também pode tomar medidas que permitam a venda de outros planos de saúde que contornem os requisitos da Lei do ACA.
                Qual é o diabólico plano de Mr Trump?  Assinar uma ordem executiva (decreto) que cinicamente anuncia "promover a escolha e a competição na assistência sanitária". Convidados para  esse ato na Casa Branca, nessa terça-feira, dez de outubro, proprietários de pequenos negócios, entre outros,  Trump anuncia que, como o Congresso não atua, ele vai se valer do poder da caneta para dar assistência sanitária a muita gente.
                Não é exatamente isto que vai ocorrer. Ao criar mais facilidades para apólices de tratamento supostamente mais barato, o que Trump estará ensejando é que certos planos de saúde fiquem bem mais caros de o que são hoje.  As apólices de curto prazo não satisfazem os requisitos do ACA, e por isso aqueles que as adquirirem podem ficar sujeitos a penalidades fiscais.
                Por outro lado, é enganosa a vantagem oferecida em termos de custo baixo, pelos planos de curto prazo.  Com efeito, esses planos tendem a limitar os respectivos benefícios, assim como são acessíveis apenas para pacientes que não têm dispendiosas condições de tratamento médico.            
                Os asseguradores estão nervosos acerca da possibilidade de que haja súbito crescimento em planos de curto prazo. Muitos dos grandes asseguradores nacionais, como o UnitedHealth Group, já oferecem tais planos, e não haveria muita dificuldade em que eles oferecessem outros mais, por causa da ordem executiva.
                Compradores individuais podem ser atraídos por planos de curto-prazo, por causa de seu baixo custo.  Esses planos, no entanto, tendem a limitar benefícios e oferecer apólices apenas para pessoas que não carecem de custosas condições médicas. Além disso, apólices de curto-prazo  não satisfazem os requisitos de cobertura da Lei do Tratamento Custeável, e por isso os consumidores que os adquirirem podem ficar sujeitos a penalidades fiscais. Mas com o preço das apólices de seguro convencional subindo em níveis de dois dígitos, alguns compradores aceitam pagar a penalidade se eles podem comprar um  plano mais barato.
                 A introdução de novos planos de associação pode levar mais tempo, de acordo com pessoal de seguros e outros especialistas. O governo vai precisar de tempo para elaborar os detalhes securitários, e seriam necessários grupos para formar esses planos.
                  Mas tais planos colocam alguns riscos similares, e os especialistas na matéria advertem que tais planos têm o precedente de deixar os seus clientes com contas médicas não-pagas, se eles não forem adequadamente regulados.  Enquanto  os de associação de saúde podem ser bem administrados, eles se assinalam por maus precedentes em termos de pagamento das contas médicas de seus clientes.
                     E é o que promete, portanto, a assistência médica a ser proporcionada pela caneta deste presidente. Em suma, o retrospecto desses planos não é dos mais confiáveis, e é isto justamente o que parece ser o escopo do presidente Trump, no seu ódio - ou quem sabe? inveja - quanto à Lei do Tratamento Custeável de Barack Obama.



( Fontes:  The New York Times;  1984, de George Orwell; Carlos Drummond de Andrade )              

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