domingo, 29 de outubro de 2017

A gestão do Congresso por Temer

                     

        A matéria é por certo longa, mas está bem fundamentada.  E a  originalidade de suas conclusões justificam que se intente delas fazer um resumo.
         No entender do autor, o jornalista Carlos Pereira,  desde pelo menos  1995, Michel Temer (PMDB) é o presidente mais eficiente na relação com o Congresso, aprovando mais proposições a um custo relativamente baixo. A chave está  na gerência da coalizão, com uma base pouco heterogênea ideologicamente e uma divisão de poder  proporcional ao peso de cada aliado.
          Segundo o articulista,  o desempenho de Michel Temer (PMDB) nas suas relações com o Congresso não faz o menor sentido.
           Por se tratar de figura extremamente impopular, que chegou à Presidência após um impeachment legítimo, embora controverso, e que vem se defrontando com inúmeras e sérias acusações de corrupção e obstrução de justiça, o mais racional seria  que os membros de sua coalizão no mínimo inflacionassem o preço do apoio político como consequência direta da vulnerabilidade do Chefe do Executivo.
            Como o autor assinala, no entanto, o que se observa é justamente o inverso.
             O governo Temer tem sido capaz de aprovar projetos difíceis: o teto para os gastos públicos, as reformas trabalhista e do ensino médio, a mudança do marco regulatório do petróleo e a criação de uma nova taxa de juros para o BNDES, entre outros exemplos. Muitas dessas propostas exigiram quorum qualificado em dois turnos de votação em cada uma das Casas Legislativas.
              Além disso, iniciativas da oposição que visam a constranger o Presidente tem sido bloqueadas no Congresso, e as duas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal foram rejeitadas.
               Mais surpreendente, Temer conseguiu todas essas vitórias mantendo sua coalizão estável  a um custo agregado relativamente baixo.
               Como um presidente com esse perfil pode ser tão eficiente nas suas relações com o Congresso? Como Temer pode ser tão impopular entre os eleitores  e tão popular entre os deputados e senadores?
                A chave desse suposto enigma está na gerência da coalizão. Temer tem-se saído incrivelmente bem numa tarefa típica de todo presidente num sistema político multipartidário, no qual o partido do chefe do Executivo em geral não dispõe de maioria no Legislativo.  (...)
                 De um governo dividido, intrinsecamente minoritário, espera-se maior frequência de paralisia decisória, de conflitos entre o Executivo e o Legislativo e, provavelmente, de problemas de governabilidade, com o presidente sendo refém do Congresso e impedido de realizar "progressos".
                 Se valesse essa interpretação aritmética para presidencialismos multipartidários, a condição do governo dividido seria observada na maior parte dos casos. Nos dezoito países latino-americanos nos quais predomina a combinação de presidencialismo com multipartidarismo, em apenas 26% das vezes a legenda do presidente obteve maioria de cadeiras no Congresso.
                 Em relação ao Brasil pós-redemocratização, isso só ocorreu nas eleições de 1986 para a Assembléia Nacional Constituinte, quando o PMDB de José Sarney conquistou a maioria esmagadora  dos assentos na Câmara e no Senado.
                  Os presidentes pós-Sarney não tiveram a mesma sorte. Seus partidos ocuparam no máximo 20% dos lugares na Câmara e 27% no Senado. Para governar  em uma condição a princípio adversa como esta, é preciso montar e sustentar coalizões majoritárias pós-eleitorais.
                   Cabe salientar que esse arranjo está longe de ser especificidade brasileira. A rigor, dois terços das atuais democracias são presidencialistas ou semipresidencia-listas e tipicamente são governadas por coalizões multipartidárias.
                    A interpretação dominante na literatura especializada que investiga o presidencialismo de coalizão brasileiro afirma que os poderes constitucionais e de agenda delegados ao Executivo seriam suficientes para superar os problemas inerentes da condição de governo minoritário e para atrair partidos para a coalizão do presidente.
                     Dotado desses poderes, o chefe do Executivo teria condições de governar a um custo relativamente baixo, aprovando a sua agenda em um ambiente previsível e de cooperação com o Legislativo. (a continuar)                   



(Fonte:  Folha de S. Paulo (resumo do artigo de Carlos Pereira, (Ilustríssima, Domingo, 29 de outubro de 2017 - a continuar)

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