domingo, 29 de outubro de 2017

Entre Scylas e Charibdis

                              

       A referência é à Antiguidade. Ficar entre Scylas e Charibdis, dois grandes obstáculos naturais no Mediterrâneo, não era decerto posição invejável.
      Daí a referência ao rochedo Scylas e aos redemoínhos de Charibdis, terríveis aos navegadores de antanho, em locais que prometiam perigos às frágeis naus do tempo longínquo, com correntes e pedras que, pelo humor imprevisível dos deuses, cresciam temíveis na imaginação de os que tinham de atravessar águas tão cruéis quanto mendazes e traiçoeiras.
      Pois não é que nesses nossos túrbidos tempos, mais desanimadores em termos de ética e de projetos,  poderíamos comparar essa terrível disjuntiva à maldição da Antiguidade, em que os audazes navegadores de antanho tinham de arrostar tais ameaças - para eles temíveis - durante as suas curtas existências, ceifadas por males incuráveis pela parca medicina de então, ou pela violência da vida antiga... (que não é tão diversa assim de aquela que nos confronta)
       Pois deles me lembrei - sim, de Scylas e Charibdis - ao ver que o Povo brasileiro, depois de o que passou, ainda privilegia aos Senhores Lula da Silva e Jair Bolsonaro para seus representantes de fé em hipotético e tenebroso segundo turno.
         Ao invés de ouro, os garimpeiros do voto produzirão nas suas peneiras esses dois cavalheiros, um que se debate entre mil desculpas e muitos advogados, no tribunal da Opinião Pública, e o outro, vindo dos tempos sáfaros da Redentora, a prometer ordem em Brasil devastado por espírito corrosivo e incréu, que acredita na volta à metamorfose do Regime Militar, que nós, os brasileiros, bem sabemos o que nos deixou.
          Não é por aí, minha boa e brasileira gente! Como Diógenes, vamos acender a lâmpada na procura de quem salve o Brasil. Não retornemos às ilusões do engodo, nem à violência que não constrói.
          Dessa falsa alternativa é mister fugir.  O Brasil tem jeito, meu povo, e não será cavocando no passado, ou acreditando em estórias da Carochinha, que vamos dar a volta de onde por ora, e por culpa muito nossa, nos encontramos.



(Fonte: Instituto Ipsos, apud  O Estado de S. Paulo)                                    

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