Semelha algo prematuro tentar-se avaliação da eventual importância
política de Xi Jinping.
Sem embargo, o 19º
Congresso do Partido Comunista da China o põe no mesmo nível de Mao e Deng.
Colocá-lo em vida em tal posição o igualaria ao seu admirado Mao, eis que Deng
só foi lá posto depois de morto, embora tal se deva neste caso a que o
Congresso para tanto só se realizou depois da passagem de Deng.
É notória a relatividade de tais
conceitos coletivos. Embora desde o advento da Revolução Vermelha e a expulsão
do Kuo-mintang de Ciang Kai-chek, o regime autoritário tenha prevalecido sempre -
alguns lampejos de liberdade só foram entrevistos no período em que Deng tinha
como seu principal auxiliar a Zhao Ziyang (e todos sabemos como
acabou, no massacre de Tiananmen) - a
presença preponderante de Mao por trinta anos, e as suas 'revoluções internas'
foram a personificação da anomia na RPC.
A instabilidade política na China só
seria superada com o afastamento definitivo da viúva de Mao e de seu grupo, já
na década de setenta, por Deng Xiaoping. Começam, dessarte, os anos de Deng, com a restauração da economia
chinesa e de outras iniciativas políticas e econômicas, assinaladas pela
abertura da RPC à economia mundial, com
importantes medidas econômicas e políticas, em que Zhao Ziyang figurou como
virtual vice de Deng, com grande êxito a princípio, até que cesse em fins de
maio a influência política de Zhao por força das circunstâncias já conhecidas.
Já era demasiado conhecida a
admiração de Xi Jinping no que tange a Mao. Xi, no entanto, ao assumir o poder
não adotou o estilo de Mao.
O seu referido culto pela figura
carismática do principal líder comunista chinês no século passado já pode ser
visto delinear-se claramente desde a sua assunção e agora com medidas em que
algo do estilo maoista reponta. Ao invés de seus regrados antecessores - na
fase burocrática pós-Deng - Xi, além de não fazer segredo acerca das
respectivas preferências políticas, se dissocia de forma marcante do estilo
burocrático dos demais líderes que sucederem a Deng, entre os quais o seu imediato antecessor Hu Jintao. Para que não se tenha dúvida
de que o estilo maoista está parcialmente de retorno, este Congresso não lhe colocou qualquer
limite temporal ao exercício do respectivo poder, a "nova era" que
ora se inicia.
Com a frieza que caracteriza tais
líderes, não trepidou em livrar-se do fiel auxiliar que lhe fora instrumental
no combate à corrupção na China, que representou um problema de peso nos
períodos dos demais líderes burocráticos que sucederam a Deng Xiaoping. Com efeito, Wang
Qishan, com sessenta e nove anos, fora a éminence grise do grande chefe em termos de investida contra a
corrupção (e da manutenção da disciplina no PCC). Esperava-se que Wang permanecesse em alguma
posição de relevância, mas o silêncio a respeito não semelha trazer indicações
de sua eventual permanência.
Assim como tantas outras figuras
autoritárias do comunismo, Xi tem especial predileção pelos discursos-rio. Como já assinalara, um
de seus predecessores - na fase burocrática da liderança chinesa - Jiang Zemin daria aos fotógrafos do Congresso
a oportunidade cruel de rasgar-lhe o incontrolado bocejo diante do discurso
interminável de Xi Jinping para o ávido público internacional.
Xi, portanto, corroborou durante o seu primeiro quinquenio muitas
indicações anteriores: a sua força política própria, o que o distingue dos
antecessores, em um período essencialmente de índole burocrática, que o separa
de Deng
Xiaoping; a sua admiração por Mao Zedong, o que mostra o seu veio
doutrinário comunista, além do pendor para o autoritarismo.
Sendo formal, controlado, é
difícil que se diferencie dos líderes autoritários que o precederam no passado.
Cessa, portanto, a fase dos
líderes que chamei burocráticos, cuja
autoridade não se pode comparar com a de Deng. Xi sai do Congresso também com a perspectiva de mais do mesmo em
termos da patética presença feminina nos órgãos diretivos da China. Sofre
também a liberdade, com o envolvimento sempre sufocante do Partido Comunista da
China, as ambições imperialistas que se refletem nas ilhas artificiais que
ameaçam povoar os ditos mares do Sul da China, e a continuada presença do
obscurantismo - lembram-se do pobre Liu
Xiaobo, Prêmio Nobel, que foi
deixado morrer em hospital interiorano da China, há tão pouco tempo, e que
padecera onze anos de prisão pelo crime
de propor um regime constitucional para a China, cousa que a Imperatriz Cixi (1835-1908) já outorgara ao
Império chinês nos princípios do século XX ? E que dizer da viúva de Liu Xiaobo, Liu
Xia, há onze anos em prisão
domiciliar?
(Fontes: Empress Dowager Cixi, de Jung Chang; Prisoner
of the State - The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang; O Estado de S. Paulo;
The New York Times)
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