segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Maduro apela para Putin

                                      

       A foto, no Kremlin, mostra Nicolás Maduro, no papel de pedinte, enquanto Sua Excelência Vladimir Putin ouve, com o  jeitão desconfiado de sempre. Visto sob o ângulo otimista, a Rússia e sua grande empresa petrolífera Rosneft abrem mais créditos para um cliente como Caracas, a despeito da precaríssima situação financeira, o que não é sem considerável risco, dada a condição de abandono do parque de maquinárias de Petróleos de Venezuela, e das descomunais consequentes dívidas dessa grande empresa que decerto não tem culpa pela profligação de seus responsáveis estatais, tanto Hugo Chávez, quanto o herdeiro Nicolás Maduro.
        Os sorrisos do ditador Maduro se explicam pelo bilhão de dólares da Rosneft para evitar quebras de pagamento de sua atribulada firma, cujo declínio e falta de substituição de equipamentos vêm desde o respectivo protetor e pai político, o finado Hugo Chávez Frias.
       Como o resto da economia venezuelana, em que os estoques de consumo faltam por toda parte - inclusive de remédios, e com consequências homicidas para pobres venezuelanos que deles dependem para sobreviver - o estado da economia venezuelana é de um parque industrial em desfazimento, por força de irresponsável abandono.
        Salta aos olhos que são desmedidas - e mesmo à beira da insânia financeira - as ambições de Putin pondo o gigante russo Rosneft à disposição de uma economia (e do respectivo parque petrolífero) em petição de miséria, gastando inclusive um bilhão de dólares acima referido para livrar Petróleos de Venezuela de incômoda quebra.
       A ambição imperialista de gospodin Putin tem algo a ver com a súbita disponibilidade da Rosneft em meter-se em tais jogadas no limite dos riscos de sensatos empresários. Há três anos atrás, por conta de fumaças imperialistas do Estado Russo, com a queda de um presidente pró-Moscou na Ucrânia, as fumaças do império e da consequente influência sobre os pobres países que demoram no entorno do urso russo - e deles talvez o maior seja a infeliz Ucrânia - levou o Kremlin a invadir e organizar, em seguida, um fajuto plebiscito para anexar a velha Criméia, que desde muito havia sido transferida à soberania de Kiev. Como as sanções são impossíveis sob a égide do Conselho de Segurança neste caso (por conta do veto de Moscou), Obama, com apoio europeu, organizou pontuais sanções  sobre essa imoral anexação imperialista da península da Criméia. Como a economia russa tem muito vento, mas enganosa consistência, as ditas sanções até hoje batem fundo em Moscou por causa de o que ocorreu com mais uma das terras que estão no "estrangeiro próximo", que é a classificação que o Kremlin atribui aos países (e regiões) que estão perigosamente perto das terras do Grande Urso.
      Por força das estripulias de compadre Vladimir Putin,  a empresa Rosneft (50% propriedade do Estado russo) e dirigida por um dos cupinchas de gospodin Putin, Igor I.Sechin. As sanções, no entanto, o impedem de fruir da ajuda de Estados Unidos e da Europa.  Dessarte, a Rosneft tem que bater em outras freguesias, pois não pode valer-se da ajuda ocidental para a explotação de campos de águas profundas, de xisto e de campos de petróleo e gás no Ártico.
        A estória da dinheirama (dez bilhões de dólares) emprestados nos últimos três anos pela Rússia e a Rosneft à Venezuela - e por duas vezes - para salvar a terra de Maduro da falência não se sabe se voltarão aos cofres russos. Qualquer outro trepidaria em emprestar para um regime claudicante como o de Nicolás Maduro, com uma dívida que já roça os cento e cinquenta bilhões de dólares.
           Em verdade, Vladimir Putin, com o seu passado de vice-prefeito de Leningrado, tem pendor por negócios arriscados, em que o condimento principal são os altos juros motivados por sombrias perspectivas. Por falar em tais riscos, o artigo do Times nos fala dos 49.9 %  do acervo da Citgo, a subsidiária da Petróleos de Venezuela nos Estados Unidos, tomados pela Rosneft, o que vale como colateral para outro empréstimo de l.5 bilhão de dólares.  Como era de esperar, o negócio foi criticado e muito pelo Congresso americano, pelos riscos envolvidos para a segurança nacional americana, se a companhia russa se apoderasse da Citgo.
              É de notar-se que a participação russa na economia venezuelana à beira da falência só ocorre porque a China já bateu em retirada. Como é notória, Beijing carece muito do ouro negro, que por lá não abunda. Mas dada a sensata milenar prudência do chinês em questões econômico-financeiras, a terra de Xi Jinping enjeita facilidades que carregam consigo as desagradáveis surpresas da falimentares economias.
               O acrescido ar desconfiado do senhor de todas as Rússias, enquanto ouve o loquaz  Maduro pontuar as profusas palavras com os gestos nervosos de todos os encalacrados, pode talvez indicar que as segundas e terceiras dúvidas do credor imprudente principiem a incomodar o Senhor de todas as Rússias, Vladimir V. Putin.
               Como todo mau gestor, cada nova dívida muita vez é a carantonha de compromissos não pagos, e que ora se amontoam às portas do mau-pagador.
               Os problemas da Venezuela tendem a amontoar-se, e a inadimplência ronda para os que se encalacram em empréstimos fajutos, que não passam de suspensões temporárias de mais dívidas.
                O petróleo venezuelano era considerado de primeiríssima qualidade, mas desde os tempos de Chávez, com a sua largueza,  os problemas se foram empilhando, com a má-gestão e os inúmeros e incômodos filhotes que se amontoam. O mau pagador é um perseguido por calendários que estão nas portas de agiotas de alto-bordo. Desde muito,  o incompetente Nicolás Maduro esconde o próprio desespero na dança dos credores - que é o flagelo de todos os maus empreendedores.
                  Se o fim desta estória é previsível, o mais triste dela são os seus sofredores. Os bandidos - e estes sequer carece mencionar - saem em geral chamuscados por incêndios que pela desídia e incompetência causaram.
                  O único lado bom seria o de livrar a pobre Venezuela dessa camorra. Já gospodin Putin e seus prepostos poderão até sair um tanto chamuscados.
                 Será desejar demasiado que saia dessa confusão uma situação que leve à volta do bom governo e da democracia na Terra de Bolívar?                                                                                                                            

( Fontes: The New York Times; O Estado de S.Paulo; cobertura pelo blog  dos eventos na Ucrânia e na Venezuela )  

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