A foto, no Kremlin,
mostra Nicolás Maduro, no papel de pedinte, enquanto Sua Excelência Vladimir Putin ouve, com o jeitão desconfiado de sempre. Visto sob o
ângulo otimista, a Rússia e sua grande empresa petrolífera Rosneft abrem mais créditos para um cliente como Caracas, a
despeito da precaríssima situação financeira, o que não é sem considerável
risco, dada a condição de abandono do parque de maquinárias de Petróleos de Venezuela, e das
descomunais consequentes dívidas dessa grande empresa que decerto não tem culpa
pela profligação de seus responsáveis estatais, tanto Hugo Chávez, quanto o herdeiro Nicolás Maduro.
Os sorrisos do ditador Maduro se explicam pelo bilhão de dólares
da Rosneft para evitar quebras de
pagamento de sua atribulada firma, cujo declínio e falta de substituição de
equipamentos vêm desde o respectivo protetor
e pai político, o finado Hugo Chávez Frias.
Como o resto da economia venezuelana, em que os estoques de
consumo faltam por toda parte - inclusive de remédios, e com consequências
homicidas para pobres venezuelanos que deles dependem para sobreviver - o
estado da economia venezuelana é de um parque industrial em desfazimento, por
força de irresponsável abandono.
Salta aos olhos que são desmedidas - e mesmo à beira da insânia
financeira - as ambições de Putin pondo o gigante russo Rosneft à disposição de uma economia (e do respectivo parque
petrolífero) em petição de miséria, gastando inclusive um bilhão de dólares acima
referido para livrar Petróleos de Venezuela de incômoda quebra.
A ambição imperialista de gospodin Putin
tem algo a ver com a súbita disponibilidade da Rosneft em meter-se em tais
jogadas no limite dos riscos de sensatos empresários. Há três anos atrás, por
conta de fumaças imperialistas do Estado Russo, com a queda de um presidente
pró-Moscou na Ucrânia, as fumaças do império e da consequente influência sobre
os pobres países que demoram no entorno do urso russo - e deles talvez o maior
seja a infeliz Ucrânia - levou o Kremlin a invadir e organizar, em seguida, um
fajuto plebiscito para anexar a velha Criméia, que desde muito havia sido transferida
à soberania de Kiev. Como as sanções são impossíveis sob a égide do Conselho de
Segurança neste caso (por conta do veto de Moscou), Obama, com apoio europeu,
organizou pontuais sanções sobre essa
imoral anexação imperialista da península da Criméia. Como a economia russa tem
muito vento, mas enganosa consistência, as ditas sanções até hoje batem fundo
em Moscou por causa de o que ocorreu com mais uma das terras que estão no
"estrangeiro próximo", que é a classificação que o Kremlin atribui
aos países (e regiões) que estão perigosamente perto das terras do Grande Urso.
Por força das estripulias de compadre
Vladimir Putin, a empresa Rosneft (50%
propriedade do Estado russo) e dirigida por um dos cupinchas de gospodin Putin,
Igor I.Sechin. As sanções, no entanto, o impedem de fruir da ajuda de Estados
Unidos e da Europa. Dessarte, a Rosneft
tem que bater em outras freguesias, pois não pode valer-se da ajuda ocidental
para a explotação de campos de águas profundas, de xisto e de campos de
petróleo e gás no Ártico.
A estória da dinheirama (dez bilhões de
dólares) emprestados nos últimos três anos pela Rússia e a Rosneft à Venezuela
- e por duas vezes - para salvar a terra de Maduro da falência não se sabe se voltarão
aos cofres russos. Qualquer outro trepidaria em emprestar para um regime
claudicante como o de Nicolás Maduro, com uma dívida que já roça os cento e
cinquenta bilhões de dólares.
Em verdade, Vladimir Putin, com o
seu passado de vice-prefeito de Leningrado, tem pendor por negócios arriscados,
em que o condimento principal são os altos juros motivados por sombrias
perspectivas. Por falar em tais riscos, o artigo do Times nos fala dos 49.9
% do acervo da Citgo, a subsidiária da
Petróleos de Venezuela nos Estados Unidos, tomados pela Rosneft, o que vale
como colateral para outro empréstimo de l.5 bilhão de dólares. Como era de esperar, o negócio foi criticado
e muito pelo Congresso americano, pelos riscos envolvidos para a segurança
nacional americana, se a companhia russa se apoderasse da Citgo.
É de notar-se que a participação
russa na economia venezuelana à beira da falência só ocorre porque a China já
bateu em retirada. Como é notória, Beijing carece muito do ouro negro, que por
lá não abunda. Mas dada a sensata milenar prudência do chinês em questões
econômico-financeiras, a terra de Xi Jinping enjeita facilidades que carregam
consigo as desagradáveis surpresas da falimentares economias.
O acrescido ar desconfiado do
senhor de todas as Rússias, enquanto ouve o loquaz Maduro pontuar as profusas palavras com os
gestos nervosos de todos os encalacrados, pode talvez indicar que as segundas e
terceiras dúvidas do credor imprudente principiem a incomodar o Senhor de todas
as Rússias, Vladimir V. Putin.
Como todo mau gestor, cada nova
dívida muita vez é a carantonha de compromissos não pagos, e que ora se
amontoam às portas do mau-pagador.
Os problemas da Venezuela tendem
a amontoar-se, e a inadimplência ronda para os que se encalacram em empréstimos
fajutos, que não passam de suspensões temporárias de mais dívidas.
O petróleo venezuelano era
considerado de primeiríssima qualidade, mas desde os tempos de Chávez, com a sua
largueza, os problemas se foram
empilhando, com a má-gestão e os inúmeros e incômodos filhotes que se amontoam.
O mau pagador é um perseguido por calendários que estão nas portas de agiotas
de alto-bordo. Desde muito, o
incompetente Nicolás Maduro esconde o próprio desespero na dança dos credores -
que é o flagelo de todos os maus empreendedores.
Se o fim desta estória é
previsível, o mais triste dela são os seus sofredores. Os bandidos - e estes
sequer carece mencionar - saem em geral chamuscados por incêndios que pela
desídia e incompetência causaram.
O único lado bom seria o de
livrar a pobre Venezuela dessa camorra. Já gospodin
Putin e seus prepostos poderão até sair um tanto chamuscados.
Será desejar demasiado que
saia dessa confusão uma situação que leve à volta do bom governo e da
democracia na Terra de Bolívar?
(
Fontes: The New York Times; O Estado de S.Paulo; cobertura pelo blog dos
eventos na Ucrânia e na Venezuela )
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