quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Quem faria fé nessa dupla?

                      

         Vladimir Putin recebe Nicolás Maduro. Ambos se cumprimentam e sorriem. Percebe-se o esforço de Putin, eis que,em geral,  não é pessoa dada a muitos sorrisos. Já com Maduro, pela situação em que se acha o respectivo regime, a velha regra funciona.
          Em momento no qual Caracas se vê cada vez mais afetada pelas  sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos ao país e à estatal petrolíferaa PDVSA, qualquer ajuda é bem-vinda. Depois de toda a assistência que gospodin Putin dera ao protegido Mr Donald Trump não se vá procurar coerência ao russo cuja assistência ao candidato Trump, para que superasse o desafio de sua desafeto Hillary Clinton, lhe mostra a atual posição na relação com o atual senhor de todas as Rússias.
            O que concedeu o amigão Putin ao encalacrado Maduro? Renegociou dívida venezuelana de US$ 2,8 bilhões, para tirar Caracas do sufoco das sanções financeiras americanas, em acordo que também se estende  à estatal petrolífera PDVSA.
            Outro aspecto cabeludo  - além da reestruturação da dívida está incluída a cooperação militar - está por trás do amplo sorriso de Maduro.
            "Eu agradeço por todo o apoio, político e diplomático, em momentos difíceis pelos quais nós estamos passando", disse Maduro a Putin, em conversa no Kremlin. "Estou muito grato pelo acordo sobre grãos, que ajudou  a manter estável  o consumo na Venezuela."
            O tirano Maduro atravessou uma onda de protestos do povo venezuelano, com 125 mortos causados pela repressão.  A insatisfação popular, notadamente dos jovens, tem causas políticas e também econômicas, com a crise nos estoques de alimentos e remédios.
             Para dourar um tanto a pílula,  Putin disse o seguinte: "Vemos que a Venezuela atravessa momentos difíceis. Existe a impressão, porém, de que você conseguiu estabelecer algum tipo de contato com as forças políticas da oposição", afirmou Putin. A referência é para um começo de diálogo entre o chavismo e os líderes da oposição, mediado pela República Dominicana, que não progrediu.
                Agora, as motivações econômicas da Rússia. O ministro do petróleo da Venezuela, Eulogio del Pino, revelou que há tratativas com as estatais russas Gazprom e Rosneft sobre projeto de exploração de reservas de petróleo e gás na costa venezuelana.
                 Assinale que no começo de 2017 , por meio da Rosneft,  a Venezuela conseguiu fluxo de caixa para quitar títulos de sua dívida externa. Em troca, os russos ficaram com participação na Citgo, uma refinaria venezuelana nos Estados Unidos.
                  Como se sabe, no entanto, a situação financeira da Venezuela é muito ruim. Com novos títulos vencendo em outubro corrente e em novembro, e cerrado o acesso ao crédito pelas sanções americanas,  Maduro corre contra o tempo para conseguir dinheiro e evitar o default.
                 A declaração a respeito da reestruturação da dívida como um dos objetivos das negociações é reconhecido pelo porta-voz de Putin, Dmitri Peskov. Será de verificar-se se, dado o montante da dívida e o encalacramento de Caracas, Moscou teria condições de bancar a situação.
               Assinala-se, a propósito, que o governo Putin teria encontrado maneira indireta de sustentar a Venezuela, ao prorrogar o empréstimo concedido pela Rosneft.  Na semana passada, o ditador Maduro propôs utilizar o yuan chinês e o rublo russo como referência de moeda estrangeira, no momento em que as reservas internacionais venezuelanas se encontram perigosamente baixas, o que no caso da situação do governo Maduro já é um eufemismo, eis que o valor do bolívar, dentro da hiper-inflação da economia venezuelana, tende para zero.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Nenhum comentário: