quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Battisti Aguarda
Não é uma decisão corriqueira para o Presidente Michel Temer. Como o Estadão hoje noticia, no início desta semana, a Delegacia da Polícia Civil de Cananeia, no litoral paulista, recebeu pedido da Polícia Federal para fotografar a casa onde Cesare Battisti vive e confirmar que o italiano estabeleceu residência na cidade.
Segundo assinala O Estado de S. Paulo, o Presidente Michel Temer poderá decidir nos próximos dias se revoga o decreto assinado pelo Presidente Lula no último dia de seu governo - 31 de dezembro de 2010.
Consoante consta, Michel Temer estaria propenso a revogar o citado decreto acima mencionado. É uma alternativa clara: ou ele segue o exemplo de François Mitterrand - que enquanto foi Presidente da França as demandas de extradição pela Itália de Cesare Battisti sequer foram feitas - e também do Presidente Lula, que lhe concedera a condição de refugiado desde o último dia de 2010, contrariando a disposição do Supremo Tribunal Federal de extraditá-lo.
Será que o Presidente Michel Temer vai abaixar a cabeça e contrariar o que dois grandes presidentes - Mitterrand e Lula - haviam concedido a Cesare Battisti ?
Dizem que fantasma sabe para quem aparece. Eu gostaria de crer que Temer não vá se curvar à insistência italiana, que crê antever uma possível mudança de posição do Brasil - que, como no exemplo da França de Mitterrand - analisara a situação de Battisti, toda a sua conduta pregressa enquanto aqui asilado - e também na França - mostrando que algo existe de muito errado nessa maquinal demanda da polícia italiana.
Por outro lado, o processo de Cesare Battisti está por ora com o Ministro Luiz Fux. Diante do comportamento pregresso de Battisti - e olhe que já lá vão cerca de cinquenta anos para assinalar o seu bom comportamento, a par da debilidade da fundamentação das acusações que lhe são feitas, e que por tal motivo jamais ousaram os comissários Javert de turno bater à porta do Presidente François Mitterrand, que lhe concedera asilo.
É o caso de afirmar: não de apequene, presidente Michel Temer, diante da gana dos perseguidores ex-officio de Battisti, que aqui esteve por muito, sem nunca arranhar o seu status de refugiado.
A minha intervenção é feita espontaneamente, pois não conheço pessoalmente o senhor Battisti. Respeito, no entanto, aqueles que o defendem, entre os quais o atual ilustre vereador Eduardo Suplicy (PT).
Diplomata de carreira que fui - e por cinquenta anos - havendo entrado pela porta da frente e em primeiro lugar, e, por outro lado, bem conhecendo a terra italiana, seja como Primeiro Secretário na Embaixada junto ao Governo italiano, e mais tarde, como Ministro, junto à Santa Sé, inclusive como Encarregado de Negócios, coloco a minha fé de serviço na carreira e na Itália, para ponderar respeitosamente a Vossa Excelência que, como o seu antecessor no Palácio do Planalto, o senhor ganharia em equanimidade e Justiça se permitir que o refugiado Cesare Battisti aqui permaneça.
(Fontes: Les Misérables (Victor Hugo), O Estado de S. Paulo )
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Um comentário:
Esse debate é surreal, mas revela uma das principais mazelas que mina a política brasileira. Basta ver como questões ideológicas desavergonhadamente se travestem de justiça e usam argumentos mirabolantes para justificar o que quer que seja, principalmente o indefensável. O peso moral do Brasil chegou aos píncaros com a decisão do "grande “presidente Lula, certamente convencido de que fazer o que Miterrand fez tornaria o Brasil mais "serieux". Vamos lá, então, continuar a macaquear nossa heroica contribuição à tarefa de proteger um pobre assassino de inocentes das leis de um perverso país opressor, que cavilosamente se passa por democrata. Ninguém segura o Brasil!
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