segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Las Vegas, a carnificina da vez

                                       
           Deveria ser um festival de country music.  O palco designado, o Mandalay Bay Resort and Casino, na meca (versão americana) da jogatina, Las Vegas.
           Acorreu muita gente jovem, que gosta dessa típica música americana.
           O único problema quanto ao caráter da diversão  é que da janela de um hotel, em andar alto, panorâmico mesmo, e por  isso  com visão privilegiada sobre a festança, estava presente também um sexagenário aposentado.
            Era Stephen Paddock, de 64 anos.
            Há alguma coisa que deve ser muito ofensiva para esses aposentados, que gostam de jogar, mas também de atirar.
            Lá estava ele com a arma automática, que lhe possibilitou matar 58 pessoas e ferir umas quinhentas.
            Em termos de massacres, é performance que impressiona.
           O velhote aposentado está morto. Não está esclarecido se ele se matou ou se foi abatido por um policial.
          Mas o que mais me impressiona é a repetição - e seria monótona se não fosse bárbara e estúpida - dessas ocorrências nos Estados Unidos. Dir-se-ía que há muita gente doente, mas sempre armada até os dentes, pela incrível facilidade com que adquirem tais máquinas da morte, capazes de desempenhos a assombrar especialistas no ramo, pelas facilidades que apresentam em abater indivíduos à distância, jovens alegres e desconhecidos, que pensavam estar ali para divertir-se.  O roteiro é decerto monótono, porque as vítimas assassinadas morrem sem qualquer motivo, a não ser, é lógico, o covarde temor do Congresso americano em regular - enquanto se sucedem os massacres - a aquisição dessas jóias do armamentismo moderno.
          Cinicamente fundados em uma das primeiras emendas da Constituição americana - no tempo das diligências e dos bárbaros indígenas que atacavam os americanos, suas carroças e rebanhos, só porque eles adentravam terras que os índios julgavam suas, lá estando há centenas de anos - consideram muitos americanos um sacrossanto direito o porte de armas.
         Como se há de intuir, esse 'direito' moderno de adquirir arma automática, com a possibilidade de abater - pois é esta a palavra - desconhecidos, embora seres humanos,  e às centenas, foi erigido na prática a um apanágio constitucional do bom patriota americano.
         É um golpe cruel o da N.R.A. (National Rifle Association) e o das indústrias produtoras de armas.
         É o direito de matar. Todas as reservas são afastadas como curriculum vitae,  problemas de comportamento, e até o ponto em que se vende no mercado, para qualquer um (em geral, sem perguntas), e se põe nas mãos delicadas dos assassinos verdadeiras máquinas da morte, capazes de tais hecatombes que são a macabra distinção do ethos americano. Se nem massacre em escola infantil e um presidente choroso foram capazes de amolecer os corações da N.R.A., das usinas de armas de todo gênero, e dos próprios parlamentares que, na defesa da pátria e de seus costumes, estão fechados e não abrem, senão para escancarar as portas dessas usinas da morte.                    


( Fonte: The New York Times ) 

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