O Estado de São Paulo, no seu principal
editorial de hoje, afirma que "Janot deveria se demitir". Para o Estadão, o procurador-geral, Rodrigo Janot deveria
ter renunciado ontem (5 de setembro) ao cargo, sem esperar a data regulamentar
de 17 de setembro.
Qual seria a razão para tal gesto intempestivo? "Com esse gesto,
Janot demonstraria que afinal lhe restou alguma prudência, depois de ter-se
comportado de maneira tão descuidada -
para dizer o mínimo - em todo o lamentável episódio envolvendo a delação
premiada do empresário Joesley Batista.
"Janot veio a público anteontem para informar que Joesley deliberadamente omitira da Procuradoria-Geral informações cruciais em sua delação,
especialmente o fato de que o empresário contou com a orientação ilegal de um
auxiliar de Janot, o procurador Marcelo Miller, para produzir a bombástica
delação contra o presidente Michel Temer e conseguir o precioso acordo que lhe garantiu imunidade total. No
mesmo instante, o procurador-geral
tinha por obrigação reconhecer
que foi feito de bobo por um criminoso confesso e que não está à altura do
cargo que ocupa".
O editorialista assinala que, pela sua imprudência, Janot desconsiderou
as suspeitas que recaíam sobre o
procurador Marcelo Miller, que teria
ajudado Joesley a preparar delação contra Temer. Na época, ele achou que nada
havia contra o antigo auxiliar, a despeito de haver pedido exoneração do
cargo para trabalhar no escritório de advocacia
que negociava o acordo de leniência da empresa de Joesley, a JBS.
Assim, quando Janot apresentou a denúncia contra Temer, ficou claro que
ela nada tinha além de ilações. Malgrado
a fraqueza da denúncia, Janot chegou a reiterar que "faria tudo de novo",
i.e., daria imunidade total a Joesley em troca de que o empresário dissesse
contra Temer.
Não era à toa - segundo frisa o editorial - que Joesley se sentisse tão
à vontade. Cuidados básicos foram negligenciados pela Procuradoria-Geral, com o
aval do ministro Edson Fachin, antes que a denúncia contra Temer fosse
apresentada. Nem mesmo perícia foi feita nas declarações que supostamente incriminavam
o presidente. Quando se evidenciou que
as armações de Joesley não produziram as provas que Janot tanto alardeou, passados já dois meses do escândalo, o STF concedeu mais sessenta dias para que o
empresário entregasse os prometidos anexos.
Como assinala o Estadão, tudo
ficou ainda mais confuso quando se soube
que Joesley tinha mais 40 horas de gravações que havia apagado do aparelho que
entregara para perícia da Polícia Federal.
Quando tal informação veio a público, Joesley correu a entregar os
áudios que faltavam.
Diante disso, como refere o Estadão, qualquer observador de bom
senso questionaria as intenções de Joesley Batista. E a competência de Rodrigo
Janot. No entender do editorialista, faltou ao Procurador-geral tino
profissional e bom senso. E ainda de nada adianta vir agora a dizer que tudo
foi feito de "boa fé".
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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