Estamos no mundo das
siglas e das tradições. Algumas são para valer, e outras, menos. Tome-se, por
exemplo, a praxe (ou diríamos, tradição) de o Brasil - através de seu chefe de
delegação, seja ele presidente, ministro, ou até quem encabece a delegação para
esta nova assembleia das Nações Unidas) de abrir o debate dos chefes de
delegação nesta nova e ritual reunião.
No passado, vinham em geral os Ministros
de Relações Exteriores que, por primeiro, discursavam perante os delegados do
mundo reunidos. Quando Oswaldo Aranha, em uma das primeiras assembleias gerais,
no grande anfiteatro em que o lápis genial do arquiteto Oscar Niemeyer
participara - e lá estava também o mural Guerra e Paz de Portinari
-, mais falavam os Ministros de Relações Exteriores, com a representação
do Brasil abrindo o debate.
Se todos esses grandes já foram - e pela tribuna passou uma coorte de monoglotas -
os trabalhos seriam sempre abertos pelo chanceler do Brasil. Com o avançar dos
anos, o nível linguístico da chefia da delegação foi baixando, e a pretexto de
não desmerecer da última flor do Lácio[1],
os monoglotas como Tancredo Neves e Lula da Silva se apegaram ao português.
Tudo aparecia com destaque nos jornais do Rio e de S. Paulo, não importa se as
manchetes fossem em geral reservadas na imprensa nova-iorquina ao presidente
americano (que falava em seguida). Tudo isso, muito de acordo com o dramaturgo
italiano, Luigi Pirandello (Cosi è si lui
pare - assim é se te parece), eles se
vestiam com o auriverde pendão, para suprir a própria ignorância e alto manter
o pendão nos então inúmeros jornais da imprensa de Rio e São Paulo.
Se correm os tempos, e por sua
condição de Superpotência está preservado o direito ao próprio idioma, o que
lhes vem a calhar, aí se assistirá ao monoglota Trump despejar falação na
própria língua.
O que fará? Uma advertência a Kim
Jong-un? O que ouvirão acaso os chefes
de delegação que não lhes haja já chegado por artes dessa estranha corneta que
é o twitter, o meio preferido de
comunicação do novo e surpreendente locatário da Casa Branca, Mr Donald J
Trump?
Depois do longo inverno petista, voltam
os paulistas com o Senador Aloysio Nunes Ferreira Filho a encabeçar a delegação
do velho Itamaraty. Em geral, então as comitivas brasileiras levavam
instruções, que são espécie de carta de scaramanzia[2]
para que o chefe tenha na ponta da língua a resposta apropriada. Vale dizer que
naqueles tempos as comunicações soíam ser difíceis e hoje tudo pareceria
demasiado fácil.
No entanto, para manter a imagem
teatral, nem tudo o que parece corresponde à realidade. Vejam, por exemplo, o
falastrão Trump. Se o levarmos em demasiada conta, se corre o risco - como
antes se dizia - de cair em maus lençóis.
De qualquer forma, o carrossel está
montado. Ele gira e gira, mas saberiam os basbaques que se, na verdade o mundo
gira, só a Lusitana roda...
Nenhum comentário:
Postar um comentário