O asilado de Londres, Julian Assange,
que há cerca de cinco anos vive na embaixada do Equador - e cujo site WikiLeaks
teve participação não de todo esclarecida na eleição americana, em que
favoreceu, sabe-se bem a mando de quem, a candidatura de Donald Trump, com
divulgações do respectivo site
tendentes a prejudicar a sua adversária, Hillary Clinton - agora entra no espaço
da Catalunha.
O seu escopo é o de favorecer a causa
catalã. Nesse sentido, Assange falou nesta última terça-feira, por
video-conferência, a centenas de catalãos
reunidos na Universidade de Barcelona, assegurando que os outros países
estão olhando para a região para ver se ela tem sucesso na sua tentativa de
organizar um plebiscito sobre a indepedência.
Como se sabe, Julian Assange, acolhido
pelo então Presidente Rafael Correa, do Equador, refugiou-se na sua embaixada
em Londres, ameaçado que estava de ou ser entregue aos Estados Unidos (por
causa da difusão do site WikiLeaks),
ou a Suécia, por conta de uma acusação de estupro. Por motivos diversos aos que
levaram Edward Snowden a lograr - de uma forma rocambolesca - asilar-se no
aeroporto de Moscou, eis que no caso deste último a motivação era política,
enquanto no de Assange era penal - o hoje asilado na chancelaria equatoriana
está sem tratamento médico-dentário por todos esses anos, eis que não parece
funcionar para a polícia inglesa a motivação humanitária, e tampouco lhe é
agradável a perspectiva ou de ser expedido para os States ou para a Suécia, esta por motivos penais, aqueles
políticos.
O WikiLeaks teve também dúbia participação no recente processo
eleitoral americano. Sobre esse assunto penso aprofundá-lo mais em um blog ulterior. De qualquer forma,
Assange parece afinado com gospodin Putin,
pois a sua intervenção no pleito americano não foi decerto para ajudar a causa
de Hillary Clinton.
Também ajuda a compor o quadro do
entorno da sua atuação, em que surge o analista de programas da NSA, Edward
Snowden, e o canal de tv russo RT já nos dá para ter uma forte suspicácia de
quem esteja por trás dessa composição.
Como a Espanha não é uma grande
potência, e consoante a velha interrogação cui
prodest (a quem aproveita), semelha importante saber qual o objetivo da
Federação Russa de Putin de unir-se ao libertário movimento catalão. Porque a composição acima assinalada já tira
qualquer dúvida quanto ao interesse do Presidente Putin na criação de mais um
mini-estado na União Européia. Como formam a Federação Russa um bom número de
nacionalidades, a motivação de gospodin
Putin carece de ser aprofundada para um melhor entendimento. Que não é decerto
pelos belos olhos da Catalunha que a Rússia está participando desse movimento,
que se bem sucedido, enfraquecerá a Espanha e criará talvez problemas para a
União Europeia.
Juntando-se aos líderes separatistas
catalãos, que insistem em realizar a consulta popular, apesar da proibição do
governo de Madri e da Justiça - que consideram o plebiscito inconstitucional,
disse Assange, da sua torre não-exatamente de marfim, em Londres: "A
pergunta é como se observa na era moderna uma tentativa de reprimir as pessoas?
É possível para os serviços de segurança do Estado reprimir um movimento
democrático sério? "
E complementou da sua torre de
exilado, refugiado e condottieri à
distância: "Isto está sendo observado por outros países e pelo
Ocidente", aduziu Julian Assange, pedindo aos catalães que mantenham a
calma.
Entrementes de seu refúgio dito diplomatico,
nos meios espartanos das saletas da chancelaria
que o acolheu, mal se diria que esse
asilado - condição que é para muitos a epítome da precariedade - possa marcar
tanta presença, ainda que confinada no angusto espaço deste fugitivo moderno,
em que reaparece o revolucionário seja ele quem for, e os seus eventuais senhores, sejam eles apenas
esgazeados, distantes vultos, por mais antinômica que surja para os eventuais
visitantes o vulto marcado por estranha solidão, que convive com a névoa das
conjuras e a respiração opressa das grandes, mas longínquas multidões.
(Fontes: The New
Yorker, O Estado de S. Paulo)
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