quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O que fazer de Julian Assange?

               
        O asilado de Londres, Julian Assange, que há cerca de cinco anos vive na embaixada do Equador - e cujo site WikiLeaks teve participação não de todo esclarecida na eleição americana, em que favoreceu, sabe-se bem a mando de quem, a candidatura de Donald Trump, com divulgações do respectivo site tendentes a prejudicar a sua adversária, Hillary Clinton - agora entra no espaço da Catalunha.
         O seu escopo é o de favorecer a causa catalã. Nesse sentido, Assange falou nesta última terça-feira, por video-conferência, a centenas de catalãos  reunidos na Universidade de Barcelona, assegurando que os outros países estão olhando para a região para ver se ela tem sucesso na sua tentativa de organizar um plebiscito sobre a indepedência.
         Como se sabe, Julian Assange, acolhido pelo então Presidente Rafael Correa, do Equador, refugiou-se na sua embaixada em Londres, ameaçado que estava de ou ser entregue aos Estados Unidos (por causa da difusão do site WikiLeaks), ou a Suécia, por conta de uma acusação de estupro. Por motivos diversos aos que levaram Edward Snowden a lograr - de uma forma rocambolesca - asilar-se no aeroporto de Moscou, eis que no caso deste último a motivação era política, enquanto no de Assange era penal - o hoje asilado na chancelaria equatoriana está sem tratamento médico-dentário por todos esses anos, eis que não parece funcionar para a polícia inglesa a motivação humanitária, e tampouco lhe é agradável a perspectiva ou de ser expedido para os States ou para a Suécia, esta por motivos penais, aqueles políticos.
            O WikiLeaks teve também dúbia participação no recente processo eleitoral americano. Sobre esse assunto penso aprofundá-lo mais em um blog ulterior. De qualquer forma, Assange parece afinado com gospodin Putin, pois a sua intervenção no pleito americano não foi decerto para ajudar a causa de Hillary Clinton.
             Também ajuda a compor o quadro do entorno da sua atuação, em que surge o analista de programas da NSA, Edward Snowden, e o canal de tv russo RT já nos dá para ter uma forte suspicácia de quem esteja por trás dessa composição.
              Como a Espanha não é uma grande potência, e consoante a velha interrogação  cui prodest (a quem aproveita), semelha importante saber qual o objetivo da Federação Russa de Putin de unir-se ao libertário movimento catalão.  Porque a composição acima assinalada já tira qualquer dúvida quanto ao interesse do Presidente Putin na criação de mais um mini-estado na União Européia. Como formam a Federação Russa um bom número de nacionalidades, a motivação de gospodin Putin carece de ser aprofundada para um melhor entendimento. Que não é decerto pelos belos olhos da Catalunha que a Rússia está participando desse movimento, que se bem sucedido, enfraquecerá a Espanha e criará talvez problemas para a União Europeia.
               Juntando-se aos líderes separatistas catalãos, que insistem em realizar a consulta popular, apesar da proibição do governo de Madri e da Justiça - que consideram o plebiscito inconstitucional, disse Assange, da sua torre não-exatamente de marfim, em Londres: "A pergunta é como se observa na era moderna uma tentativa de reprimir as pessoas? É possível para os serviços de segurança do Estado reprimir um movimento democrático sério? "
                 E complementou da sua torre de exilado, refugiado e condottieri à distância: "Isto está sendo observado por outros países e pelo Ocidente", aduziu Julian Assange, pedindo aos catalães que mantenham a calma.  
               Entrementes de seu refúgio dito diplomatico, nos meios espartanos das saletas  da chancelaria  que o acolheu, mal se diria que esse asilado - condição que é para muitos a epítome da precariedade - possa marcar tanta presença, ainda que confinada no angusto espaço deste fugitivo moderno, em que reaparece o revolucionário seja ele quem for, e  os seus eventuais senhores, sejam eles apenas esgazeados, distantes vultos, por mais antinômica que surja para os eventuais visitantes o vulto marcado por estranha solidão, que convive com a névoa das conjuras e a respiração opressa das grandes, mas longínquas multidões.             


(Fontes: The New Yorker, O Estado de S. Paulo)

Nenhum comentário: