Nos passados exercícios de simulação de
enfrentamentos nucleares, não creio se terá imaginado a versão ora apresentada
a uma opinião pública mundial tão perplexa, quanto assustada, que é a de confronto entre a maior superpotência mundial e um país atrasado e
subdesenvolvido, submetido à dinástica ditadura, que por uma série de
disfunções do sistema internacional de prevenção à nuclearização de estados
piratas, logrou acessar tecnologia a que
jamais teria oportunidade de utilizar se o sistema acima mencionado fosse
submetido a regras compatíveis com a ameaça que representa para a Humanidade o
seu eventual desrespeito.
É conhecido o lugar-comum que a realidade,
com os seus desvãos e minúcias, costuma sobrepujar as fabricações da mais
desenfreada imaginação criativa.
É o que estamos ora assistindo no
farsesco confronto entre a Superpotência estadunidense e a hiperditadura da
Coréia do Norte - este um país atrasadíssimo, que só subsiste porque a sua
existência apraz ao regime comunista chinês, a que interessa dispor de vassalo subdesenvolvido na própria cercania.
No entanto, Pyongyang dá muitas
indicações de que o seu atual soberano Kim Jong-un - em regime submetido a
uma ditadura híper-oriental, a qual, apesar de declarar-se comunista, é na
realidade uma monarquia, em que os soberanos se sucedem - sempre à sombra de
Beijing - com a população submetida aos próprios caprichos do líder máximo.
Se os soberanos anteriores tiveram o
bom-senso de não afrontar a ordem mundial, parece que tal não mais agrada ao
presente autocrata da Coréia do Norte. Sem dúvida, a sua escolha encontrou as
condições ideais para frutificar, eis que o último pleito americano - com as
suas idiossincrasias - criou o cenário necessário para que, com as respectivas
irresponsabilidades, surgisse a situação ideal para um estúpido confronto entre
dois chefes de estado que, normalmente, em um cenário tradicional, ou pelo
menos respondendo a condições mínimas de experiência e capacidade previsível de
atuação internacional, não estaria ora presente tanto em Washington, quanto em
Pyongyang. Nenhum dos antecessores desse jovem que ora é o soberano absoluto da
Coréia do Norte - com todos os defeitos inerentes à constituição do respectivo
poder - jamais adentrara um curso de ação que de longe se assemelhe às juvenis
provocações do Presidente Kim Jong-un.
Tampouco, é difícil imaginar que
fôssemos encontrar na Casa Branca um dirigente político nas condições de Donald
J. Trump. Nunca arrogância e ignorância formaram conjunto mais disruptor e
consternador do que as características principais desse ultra-demagogo que, por
um conjunto infeliz de circunstâncias, se acha hoje sentado na Casa Branca, ou,
como diriam os italianos, está aboletado en
la stanza dei bottoni (i.e., na
sala dos botões do governo).
Que esses senhores estejam na situação em que
se encontram, infelizmente não há nada
a fazer. Aquele, pelos direitos das monarquias, que funcionam por via
hereditária; este por um azíago conjunto de circunstâncias, em que participam a
raiva de gospodin Putin, a
displicência de Barack Obama e as
brincadeiras de uma eleição em que até o diretor
do F.B.I. resolve interferir, com
as suas seguidas e estranhas mensagens ao Congresso Americano.
( Fontes: The New York
Times; What Happened, de Hillary Clinton. )
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