domingo, 10 de setembro de 2017

O que aconteceu com Hillary?

                           
       Acabo de ler não o livro - que tratarei de comprar logo - mas o artigo do New York Times sobre Hillary,  e a sua malograda candidatura.
       Não é segredo que Hillary Clinton, por razões que só o povo america- no pode determiná-lo e tem condições de conhecer, continue a ser uma das personalidades mais divisivas e polêmicas  dos Estados Unidos.
        Será, por isso, talvez que a mídia a trate muita vez com pinças e uma posição pretensamente neutra, quando tal mais possa servir para os convenientes ataques, ou melhor dizendo, postura aparentemente neutra, que parece ser o melhor conduto para despejar-lhe a quota de negativismo que lhe parece devida, mais por suas qualidades e o próprio gênero, do que por fatos negativos objetivos. Nesse ponto, o slogan do candidato adversário, no que lhe concerne, consegue envolver todos os preconceitos, reconhecer-lhe a ameaça e trazer conforto para quem a detesta por motivos pouco confessáveis  - vamos trancá-la na cadeia!
         Na linha machista de Trump pareceria a melhor solução para a difusa e confusa massa que o apoiou. Se virmos tanta gente com tanta pressa para aí meter a colher, mesmo alguém que tenha pouco trato com o barbudo Dr. Freud há de principiar a por em dúvida a justeza de todo esse ódio sob encomenda, que acompanha a ex-Primeira Dama  e a primeira mulher que concorreu à presidência com real possibilidade de vitória.
          Posso presumir que James Comey tenha alguma posição no livro de Hillary que terá feito por merecer, não só por fazer pouco das regras esta-belecidas pela Secretaria de Justiça, mas também pela maneira afrontosa com que esse chefe do FBI (lá, por estranha cortesia de Barack Obama, que, diga-se de paso, não ajudou Hillary em quase nada), além dos comen-tários de mestre-escola sobre a desordem nos papéis do famoso servidor privado de computador, marcou-se em especial pela estranhíssima interven- ção quando da votação antecipada, que a candidata já julgara - e com plena razão - difícil de engulir e extremamente danosa como reprovável imisção na eleição em pleno curso.
          Como toda a precursora - e ainda por cima com concretas chances de vitória - há de ter sofrido da incompreensão do próprio gênero, que na grande passeata das mulheres do dia posterior sequer seria mencionada... Todas as pessoas que, pelo próprio comportamento e coragem, mostram que a respectiva vitória constituía mais do que uma possibilidade, represen- tam para os eleitores e eleitoras uma das estranhas dúvidas da travessia - que Hillary iria mostrar, para quem se dispusesse a ver a questão com a necessária equanimidade, que tal momento era tão possível quanto prová-vel e a própria vitória na votação numérica  representa manifestação que é demasiado relevante para ser silenciada.
             É mais do que tempo que o Povo americano consigne aos museus a votação indireta preconizada pela Constituição do século XVIII, do tempo das diligências.  Ela já serviu os respectivos fins e não mais pode o Povo Americano reger-se por esse belo arcaísmo, que teve a sua hora e vez. Bas-ta com ornar-se a presidência dos Estados Unidos com tal arcaísmo sete-centista. Só no século XXI dois americanos deixaram de ser presidente pela  relíquia constitucional  do Colegio Eleitoral: o democrata Albert A. Gore, em 2000 (contra George W. Bush, eleito presidente malgrado a menor vo-tação popular), e em 2016,  Hillary R. Clinton, também democrata, contra o republicano Donald J. Trump, este igualmente inferiorizado na votação popular.
               Não se há de esquecer que Trump, preocupado com o fato de ha-ver sido o candidato minoritário no cômputo numérico, chegou a invocar  um incôngruo sufrágio clandestino de parte de não-nacionais, que teriam votado pró-Hillary. Obviamente, esses votantes fantasmas jamais existiram. Uma coisa, no entanto, é certa sobre a votação numérica: alguém terá alguma dú- vida que Gore seria melhor presidente do que o incompetente George Bush? Tampouco parece lícito - tendo presente já o desastroso início de mandato, que Hillary, também 'eleita' pelo voto numérico,  traria mais satisfações  para o Povo Americano?
                 Se como reza o provérbio, sobre o leite derramado não há o que discutir, tampouco se deveria prorrogar arcaísmos muito além de sua ser-ventia. A presteza em fechar o loophole que ensejou as quatro vitórias de Roosevelt se deveu mais a critérios políticos, do que a necessidade real. Mas será que sobrexistem dúvidas quanto à conveniência de arquivar esse setecentismo do Colégio Eleitoral diante da votação numérica , de todo o Povo americano, sem divisões artificiosas, que podem até conviver - como no caso - com presidentes minoritários ?
(Fontes: The New York Times; Hillary Clinton vs. Donald Trump)


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