Acabo
de ler não o livro - que tratarei de comprar logo - mas o artigo do New York Times sobre Hillary, e a sua malograda candidatura.
Não é
segredo que Hillary Clinton, por
razões que só o povo america- no pode determiná-lo e tem condições de conhecer,
continue a ser uma das personalidades mais divisivas e polêmicas dos Estados Unidos.
Será,
por isso, talvez que a mídia a trate muita vez com pinças e uma posição pretensamente neutra, quando tal mais possa servir
para os convenientes ataques, ou melhor dizendo, postura aparentemente neutra, que parece ser o
melhor conduto para despejar-lhe a quota de negativismo que lhe parece devida,
mais por suas qualidades e o próprio gênero, do que por fatos negativos
objetivos. Nesse ponto, o slogan do
candidato adversário, no que lhe concerne, consegue envolver todos os
preconceitos, reconhecer-lhe a ameaça e trazer conforto para quem a detesta por
motivos pouco confessáveis - vamos
trancá-la na cadeia!
Na
linha machista de Trump pareceria a melhor solução para a difusa e confusa
massa que o apoiou. Se virmos tanta gente com tanta pressa para aí meter a
colher, mesmo alguém que tenha pouco trato com o barbudo Dr. Freud há de
principiar a por em dúvida a justeza de todo esse ódio sob encomenda, que
acompanha a ex-Primeira Dama e a
primeira mulher que concorreu à presidência com real possibilidade de vitória.
Posso presumir que James Comey tenha alguma posição no
livro de Hillary que terá feito por merecer, não só por fazer pouco das regras
esta-belecidas pela Secretaria de Justiça, mas também pela maneira afrontosa
com que esse chefe do FBI (lá, por estranha cortesia de Barack Obama, que,
diga-se de paso, não ajudou Hillary
em quase nada), além dos comen-tários de mestre-escola sobre a desordem nos
papéis do famoso servidor privado de computador, marcou-se em especial pela
estranhíssima interven- ção quando da votação antecipada, que a candidata já
julgara - e com plena razão - difícil de engulir e extremamente danosa como
reprovável imisção na eleição em pleno curso.
Como
toda a precursora - e ainda por cima com concretas chances de vitória - há de
ter sofrido da incompreensão do próprio gênero, que na grande passeata das
mulheres do dia posterior sequer
seria mencionada... Todas as pessoas que, pelo próprio comportamento e coragem,
mostram que a respectiva vitória constituía mais do que uma possibilidade,
represen- tam para os eleitores e eleitoras uma das estranhas dúvidas da
travessia - que Hillary iria mostrar, para quem se dispusesse a ver a questão
com a necessária equanimidade, que tal momento era tão possível quanto prová-vel
e a própria vitória na votação numérica
representa manifestação que é demasiado relevante para ser silenciada.
É mais do que tempo que o Povo americano
consigne aos museus a votação indireta preconizada pela Constituição do século
XVIII, do tempo das diligências. Ela já
serviu os respectivos fins e não mais pode o Povo Americano reger-se por esse
belo arcaísmo, que teve a sua hora e vez. Bas-ta com ornar-se a presidência dos
Estados Unidos com tal arcaísmo sete-centista. Só no século XXI dois americanos
deixaram de ser presidente pela relíquia
constitucional do Colegio Eleitoral: o
democrata Albert A. Gore, em 2000
(contra George W. Bush, eleito presidente malgrado a menor vo-tação popular), e
em 2016, Hillary R. Clinton, também democrata, contra o republicano Donald J. Trump, este igualmente
inferiorizado na votação popular.
Não se há de esquecer que Trump, preocupado com o fato de ha-ver sido o
candidato minoritário no cômputo numérico, chegou a invocar um incôngruo sufrágio clandestino de parte de
não-nacionais, que teriam votado pró-Hillary. Obviamente, esses votantes fantasmas
jamais existiram. Uma coisa, no entanto, é certa sobre a votação numérica:
alguém terá alguma dú- vida que Gore seria melhor presidente do que o
incompetente George Bush? Tampouco parece lícito - tendo presente já o desastroso
início de mandato, que Hillary, também 'eleita' pelo voto numérico, traria mais satisfações para o Povo Americano?
Se como reza o provérbio, sobre o leite derramado não há o que discutir,
tampouco se deveria prorrogar arcaísmos muito além de sua ser-ventia. A
presteza em fechar o loophole que
ensejou as quatro vitórias de Roosevelt se deveu mais a critérios políticos, do
que a necessidade real. Mas será que sobrexistem dúvidas quanto à conveniência
de arquivar esse setecentismo do Colégio Eleitoral diante da votação numérica ,
de todo o Povo americano, sem divisões artificiosas, que podem até conviver -
como no caso - com presidentes minoritários ?
(Fontes: The New York Times; Hillary Clinton vs. Donald
Trump)
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