Em discurso perante a Assembléia
Geral das Nações Unidas, Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina,
declarou que não mais respeitará os Acordos de Oslo entre Israel e a Palestina.
Abbas explicou
o seu gesto, pela circunstância de que Israel não respeita tais acordos, que
foram assinados em 13 de setembro de 1993, nos jardins da Casa Branca, na
presidência de Bill Clinton, por Yasser Arafat, do lado palestino, e Yitzhak
Rabin, Primeiro Ministro, e Shimon Peres, Ministro do Exterior, por Israel.
Passados 22
anos, desde a sua festiva firma em atmosfera de muitas esperanças quanto a abertura
de novo capítulo nas relações árabe-israelenses, que superasse a crise permanente que caracterizava
tais relações, os Acordos se evidenciariam um fracasso, sobretudo por não terem
colocado um termo aos assentamentos dos colonos hebreus. Ignorando na prática e
adrede o propósito de construir relacionamento igualitário entre as duas
nações, os Acordos de Oslo, ao não atenderem o princípio básico da Justiça nas
relações árabe-israelenses, iriam na
verdade, por amarga ironia, representar um festivo pavilhão sobre o nada. Os
Acordos de Oslo foram derrogados acertadamente pelo Presidente Mahmoud Abbas,
eis que constituíram o véu enganoso da continuação
do escândalo da injustiça que presidiu a tais relações por todos esses anos, e
que é sobretudo a privação sistemática dos palestinos de suas terras ancestrais.
Faltou da parte palestina na implementação
desses famosos Acordos - que foram negociados em segredo e semelharam, a
princípio, representar uma nova era nas contenciosas relações entre os dois
países - atenção maior à redação quanto
a que se chegasse a acordo sobre a posse dos respectivos territórios. A falta
de redação clara e inquestionável, em que se afirmasse de parte a parte a
existência de limites definidos e não-suscetíveis ao incremento vegetativo que
se verificou nos anos a seguir, com a sistemática invasão e posse de parte dos
chamados colonos judeus em território palestino foi o golpe fatal para os
Acordos de Oslo, eis que não garantiu os territórios palestinos do contínuo
avanço dos novos assentamentos hebreus. E foi essa má-fé, que nenhum dirigente
israelense teve a força de neutralizar, que constituiria o câncer que matou a
esperança da paz autêntica entre as duas nações, eis que um elemento fundamental
da paz é a justiça e o respeito recíproco.
Há uma não tão
lenta e inexorável deterioração nas relações árabe-israelenses. Se a falta
então de experiência árabe em negociação diplomática terá sido instrumental nessa
lenta e inexorável descida no nível dessas relações, a liderança de Israel, que
nos últimos anos caíu nas mãos da direita, sob o comando de Benjamin Netanyahu,
trabalha não em prol do entendimento e de boas relações com a Autoridade
Palestina. A fraqueza do Ocidente, e notadamente dos Estados Unidos, não tem
sido um fator produtivo que leve as duas Partes para um acordo que partindo do presente
nível, só poderá ser significativo se inverter a atual direção que favorece
Israel. Isso se manifesta tanto nas relações com a Autoridade Palestina, que é
tratada como se fora um bantustam,
quanto na situação interna de Israel, em que o segmento palestino é
sistematicamente defraudado de suas terras.
A Paz entre
árabes e judeus só surgirá sob a chancela de uma justiça em que os direitos das
duas comunidades, a árabe e a israelense, sejam autenticamente respeitados, e
não com as deformações atuais. Que o seja de conformidade com os Acordos Internacionais
e as disposições do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por demasiados
anos não implementados. Aí está a contribuição que se espera das duas
comunidades e notadamente da israelense. Não há paz verdadeira sem justiça e
sem respeito pelos direitos tanto dos palestinos, quanto dos israelenses.
Não será
através do 'sistema' de Bibi Netanyahu que tende a diabolizar a componente
árabe da população, e que pela sua obtusidade só tende a acirrar as relações
entre Tel-Aviv e Ramallah, que se construirá a paz nos territórios da antiga
Palestina.
Ultimamente a Autoridade Palestina vim
firmando acordos com outros países para ativar a sua condição de país independente
(posto que, infelizmente, ainda na teoria) e - o que faz parte da mesma direção
- revogando os Acordos de Oslo, uma grande esperança diplomática, que se tornou
um logro na prática, e muito à conta da política israelense de dominação.
( Fonte subsidiária: The New York Times )