terça-feira, 2 de julho de 2019

Desmatamento cresce na Amazônia



            Se o chamado 'inferno verde' no passado recente sofreu desmates, o que está acontecendo agora é um desastre, sobretudo para aqueles que, com fundadas razões, consideram a Amazônia o pulmão do mundo. Se em Administrações passadas como a do presidente Michel Temer, os controles por vezes deixavam a desejar, o que está acontecendo agora é o somatório de uma Administração que não considera a floresta amazônica algo a preservar, mas que, se diria, encara o desmatamento não como parte do problema, e sim como eventual solução.
                Estamos diante de situação que tem de ser vista com dupla preocupação, diante da circunstância de que o problema se agrava. Se no passado, o desmatamento já constituía um desafio, agora, em face da posição de princípio do Governo Bolsonaro - que vê o desmatamento da Amazônia como um benefício disfarçado - e que, por conseguinte, nada ou pouco faz para pôr em funcionamento os sistemas pré-estabelecidos para o controle do desmatamento, a par de quase nada fazer para tentar deter criminosa e oportunística destruição.
                 É, por isso, um quadro mais do que inquietante, na verdade angustiante. Além de não acionar o sistema ad-hoc empregado para acompanhar as queimadas abusivas e ilegais, o novo Governo manda mensagem que não está sintonizada nem com o Acordo de Paris, nem com o sistema de acompanhamento de fenômeno que vai de encontro não só ao interesse do Brasil, senão àquele do Planeta Terra, com a hiléia amazônica reconhecida como o pulmão desse planeta, a par de constituir o patrimônio natural que representa para a nossa Terra um senhor cometimento em termos de responsabilidade, pois nós não estamos aqui para irresponsavelmente malbaratar tal patrimônio, que por tantos sábios como von Humboldt foi explorado, percorrido e admirado.   
                    A Amazônia  tem sofrido no passado ataques sistemáticos. Tais investidas, que decorrem muita vez da cega, estúpida cobiça de agricultores e pecuaristas que não têm noção de o que estão malbaratando, por uma especial atenção que decorre do tamanho da superfície terráquea e amazônica, a área que está mais associada com o estado do Pará  se acha em condições ecológicas com marcada diferença - e para pior - do que com a planície amazônica,  que mais se associa ao Estado do Amazonas.
                     Para aqueles indivíduos e, sobretudo, proprietários de terra situados no Pará, é de notar-se que estão dando, sem ter disso conhecimento, uma amostra de o que será aquele espaço verde que Humboldt tanto admirara. Enquanto, por isso, a Amazônia própria recua batida pelo avanço maldito do desmatamento e consequente desfiguramento ambiental,  sem que os ávidos destruidores disso se apercebam a princípio, enquanto a mata virgem se apequena, surgem os areais originários  da destruição da floresta, e do consequente empobrecimento da terra e, sobretudo, do solo.
                        Dadas as dimensões do fenômeno e o ignaro  comportamento desses infelizes que malbaratam este tesouro natural, que fora admirado e invejado pela nata europeia do conhecimento científico, eles terão doravante diante de si a savanização de largos espaços da antiga impenetrável planície. Ocorre, dessarte, um fenômeno que também se verificara no Continente Africano. As condições propícias à umidade e aos cursos d'água vão desaparecendo, a vegetação densa do verde da vida vegetal vai minguando, porque a concentração do chamado inferno verde se vai rarificando, o solo se empobrecendo, surge a savana, que são os largos espaços com pouca vegetação, em geral rasteira, e, dessarte, também se quebra a feliz conjunção da prevalente umidade do chamado inferno verde.  É um processo até simples, só que, pela falta do precioso líquido, ela recua para ceder lugar às savanas.
                              É o que se vê em boa parte da Amazônia paraense. Tudo ali é mais pobre. Temos um outro tipo de inferno, que vai deixando de ser verde, enquanto as matas minguam e os cursos d'água vão aos poucos desaparecendo. Surgem as savanas, que, como nos mostra a África, podem ser  a porta de entrada para o deserto.


(com meus agradecimentos ao saudoso Professor Hilgard O`Reilly Sternberg)

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