Se o chamado 'inferno verde' no passado recente sofreu
desmates, o que está acontecendo agora é um desastre, sobretudo para aqueles
que, com fundadas razões, consideram a Amazônia o pulmão do mundo. Se em Administrações
passadas como a do presidente Michel Temer, os controles por vezes
deixavam a desejar, o que está acontecendo agora é o somatório de uma
Administração que não considera a floresta amazônica algo a preservar, mas que,
se diria, encara o desmatamento não como parte do problema, e sim como eventual
solução.
Estamos diante de situação que
tem de ser vista com dupla preocupação, diante da circunstância de que o
problema se agrava. Se no passado, o desmatamento já constituía um desafio,
agora, em face da posição de princípio do Governo Bolsonaro - que vê o
desmatamento da Amazônia como um benefício disfarçado - e que, por conseguinte,
nada ou pouco faz para pôr em funcionamento os sistemas pré-estabelecidos para
o controle do desmatamento, a par de quase nada fazer para tentar deter criminosa
e oportunística destruição.
É, por isso, um quadro mais do
que inquietante, na verdade angustiante. Além de não acionar o sistema ad-hoc empregado para acompanhar as queimadas
abusivas e ilegais, o novo Governo manda mensagem que não está sintonizada nem
com o Acordo de Paris, nem com o
sistema de acompanhamento de fenômeno que vai de encontro não só ao interesse
do Brasil, senão àquele do Planeta Terra, com a hiléia amazônica
reconhecida como o pulmão desse planeta, a par de constituir o patrimônio
natural que representa para a nossa Terra um senhor cometimento em termos de
responsabilidade, pois nós não estamos aqui para irresponsavelmente malbaratar tal
patrimônio, que por tantos sábios como von Humboldt foi explorado, percorrido
e admirado.
A Amazônia tem sofrido no passado ataques sistemáticos.
Tais investidas, que decorrem muita vez da cega, estúpida cobiça de
agricultores e pecuaristas que não têm noção de o que estão malbaratando, por
uma especial atenção que decorre do tamanho da superfície terráquea e
amazônica, a área que está mais associada com o estado do Pará se acha em condições ecológicas com marcada
diferença - e para pior - do que com a planície amazônica, que mais se associa ao Estado do Amazonas.
Para aqueles indivíduos e,
sobretudo, proprietários de terra situados no Pará, é de notar-se que estão
dando, sem ter disso conhecimento, uma amostra de o que será aquele espaço
verde que Humboldt tanto admirara. Enquanto, por isso, a Amazônia própria recua
batida pelo avanço maldito do desmatamento e consequente desfiguramento
ambiental, sem que os ávidos
destruidores disso se apercebam a princípio, enquanto a mata virgem se apequena,
surgem os areais originários da
destruição da floresta, e do consequente empobrecimento da terra e, sobretudo,
do solo.
Dadas as dimensões do fenômeno e
o ignaro comportamento desses infelizes
que malbaratam este tesouro natural, que fora admirado e invejado pela nata
europeia do conhecimento científico, eles terão doravante diante de si a
savanização de largos espaços da antiga impenetrável planície. Ocorre, dessarte,
um fenômeno que também se verificara no Continente Africano. As condições
propícias à umidade e aos cursos d'água vão desaparecendo, a vegetação densa do
verde da vida vegetal vai minguando, porque a concentração do chamado inferno
verde se vai rarificando, o solo se empobrecendo, surge a savana, que são os largos espaços com
pouca vegetação, em geral rasteira, e, dessarte, também se quebra a feliz
conjunção da prevalente umidade do chamado inferno
verde. É um processo até simples, só
que, pela falta do precioso líquido, ela recua para ceder lugar às savanas.
É o que se vê em
boa parte da Amazônia paraense. Tudo ali é mais pobre. Temos um outro tipo de
inferno, que vai deixando de ser verde, enquanto as matas minguam e os cursos
d'água vão aos poucos desaparecendo. Surgem as savanas, que, como nos mostra a
África, podem ser a porta de entrada
para o deserto.
(com
meus agradecimentos ao saudoso Professor
Hilgard O`Reilly Sternberg)
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