Liderada por Mark Hodgkinson,
sob a desfraldada bandeira da União avança pelas estradas da ilha britânica,
por 450 km, a patética caminhada de um punhado de velhos e de gente de meia
idade, no caminho de Londres.
O líder, em bermudas, empunha pequeno cartaz de papelão em que está escrito em letras brancas "Junte-se
a marcha para sair".
Ao ver esse punhado de gente velha que
atravessa a pequena Inglaterra, a reação de quem contempla tal espetáculo mistura
perplexidade e um certo embaraço.
São aquelas cenas que provocam a
expressão inglesa - uma dor no pescoço - , em que a incredulidade está presente
na companhia de sensação esquisita, de quem assiste a uma cena que lhe provoque
desconforto e até incredulidade.
É de recordar-se então da velha
maldição: não deseje muito essa coisa, porque ela pode virar realidade.
Cameron não foi decerto o
primeiro a pôr em risco a presença da Inglaterra nesse grande cometimento do
Velho Continente. O próprio De Gaulle,
por outros motivos, barrara o caminho de um punhado de políticos ingleses que não
tinham dúvidas sobre a necessidade, tanto política, quanto econômica, da união europeia. Com o desaparecimento do velho
general, essa união se faria, mas as ilusões do poder britânico e de sua
arrogante insularidade permaneceram. Por isso viriam mais de um plebiscito,
convocados por líderes ingleses, sob pretexto de acomodar segmentos ainda
ligados ao passado, em que moradores de Downing Street 10 seguiam brincando com fogo, como o próprio
Tony Blair, até que a ficha cairia nas mãos de alguém com voo mais curto, como
David Cameron.
Eis-me a repetir palavras,
frases e pensamentos que já expressei nessas etéreas páginas. Será talvez o karma desses erros colossais, que
destróem carreiras, dividem países, e o que é ainda mais cruel, por serem tão
burocraticamente mesquinhos, trazem muito sofrimento aos moços e às novas
gerações, como a própria juventude dessa orgulhosa ilha que contempla os
próprios sonhos desmanchados, pela displicência de uns e o stiff neck de outros, além das ilusões de muitos, que imaginam o
passado como se fora um corpo guardado em perfeito refrigerador, de que se
possa retirar na louçania e viço da
juventude com todas as pretéritas grandezas que os livros de história
armazenam.
(Fonte:
Folha de S. Paulo )
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