segunda-feira, 22 de julho de 2019

Carrie Lam - símbolo da opressão ?


                         
        Há um estigma que há de caracterizar por muito tempo a Carrie Lam, que ao aprovar a chamada Lei da Extradição, que torna  os habitantes de Hong Cong  suscetíveis de serem mandados para a China Continental a fim de aí serem julgados por acusações que lhes sejam levantadas pelo poder imperial de Beijing. Desapareceria com isto uma das regras básicas da cessão pelo Reino Unido de Hong-Kong para a RPC . Vale dizer, o caráter sui-generis de Hong Kong, conforme determinam os acordos firmados no fim do século entre a China e o antigo poder imperial da Inglaterra.
              Ao abraçar essa regra, que Beijing quer implantar à antiga colônia de Sua Majestade, a atual governadora Carrie Lam se auto-condenou aos olhos dos moradores dessa antiga cidade, que abraçada às montanhas, e ligada por metrô submarino a algumas ilhas ao largo do mar próximo, conforma um círculo que é povoado tanto pelas naturais do lugar, quanto pelo apego à liberdade que lhes foi transmitida, por estranho paradoxo, pelo poder colonial britânico, quando este, na virada do século, dela se despediu com um amplexo que buscava resumir todas as conquistas, ainda que mofinas, que aquela tão lutadora, quão trabalhadora,  carecia de envolver.
                  Carrie Lam não trepidou em envolver a própria administração com essa radical mudança, que como um sangue maldito desfigura a antiga colônia, e torna seus moradores meros algarismos diante do poder imperial de Xi Jinping. Nas existências das pessoas, assim como das entidades territoriais, há estigmas  que pela sua gravidade não podem ser apagados, nem pelo convívio, nem por frascos do olvido, se a guardiã ignora a gravidade do passo, e que o seu consentimento pode acarretar, uma vez dita a consigna maldita.
                     Por isso, manifestantes críticos à influência chinesa em Hong Kong retornaram a 21 de julho às estreitas ruas dessa cidade, para uma vez mais, pedir a renúncia da chefe do Executivo local, à própria Carrie Lam, que é tida como dócil à influência de Beijing.  Dessarte, mais de 430 mil pessoas marcharam pelas ruas da cidade, no sétimo fim de semana seguido de protesto.  Houve confrontos nas ruas e até mesmo dentro do metrô.
                        O poder imperial de Beijing recorreu então à violência. À noite, a  polí-cia de choque investiu  contra manifestantes mascarados usando gás lacrimogêneo e balas de borracha.  Mas a força não se restringiu a essas habituais expressões: um grupo de simpatizantes do governo, também mascarados,  atacou opositores em uma estação de trem, espancando várias pessoas, inclusive jornalistas que trataram de transmitir ao vivo o incidente, pois esse tipo colateral de violência é uma rara expressão (ou desvirtuamento dela) de contrariedade do poder estabelecido.
                            É de notar-se que, como assinalei alhures, a gente de Hong Kong tem amor à liberdade.  Note-se, por oportuno, que o projeto de lei que autorizara extradições para a China continental está agora suspenso!  Mas tal não contenta aos renitentes amantes da liberdade, porque a contestação em Hong Kong está sendo alimentada pela insidiosa teimosia continental: os líderes dissidentes reaparecem depois na detenção na China Continental, assim como pela revolta quanto à sistemática desqualificação dos opositores, assim como pela onda de prisões contra os líderes do movimento pró-democracia.
                            Reforça o movimento de protesto o consenso de que não haverá reivindicações que sejam lançadas ao monturo do olvido,  assim como não é automática, nem desprovida de sentido, o permanente reclamo da renúncia da Chefe do Executivo, Carrie Lam, não obstante todo o apoio que lhe preste o poder de Beijing. Também exigem a anistia para os manifestantes presos.
                               Ainda neste fim de semana, a polícia de Hong Kong anunciou que descobriu uma fábrica improvisada de explosivos de alta potência, junto com panfletos pró-independência.  
                                 Analistas vêem distante ainda a solução para a crise. Steve Vickers, ex-chefe do Departamento de Investigações Criminais da polícia de Hong Kong, e que agora trabalha como consultor, afirmou que a situação vai piorar.
                                  Explicando as forças por trás do movimento disse: "A polarização dentro da sociedade de Hong Kong e a grande desconfiança entre os manifestantes e a polícia se estão aprofundando."     

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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