segunda-feira, 29 de julho de 2019

Repressão em Hong Kong


                                  
        A democracia é o centro do problema em Hong Kong. Cedido Hong Kong, numa retirada da secular presença inglesa na cidade, em princípios do século XXI, os choques se foram acirrando entre a população local, habituada aos ares da liberdade que, incongruamente. a colônia aí estabelecida trouxera àquele núcleo populacional, e à administração da República Popular da China, que ora mal recebe os livres costumes que caracterizavam àquela antiga cidade chinesa.
              A crise em Hong Kong se deve a uma provocação da metrópole chinesa, trazida pela governadora Carrie Lam, instaurando a extradição para a RPC, que sob a orientação de Xi Jinping se tornara uma presença centralizante e autoritária, contradizendo a filosofia que presidira à cessão de Hong Kong de volta à China comunista, então sob o princípio de um povo e dois sistemas.
                Em termos de liberdade, a memória é curta em Beijing. Agindo mais como provocadora do que amante do bom entendimento - em geral tais reformadores têm a memória curta, e na própria sofreguidão de vassalo, curvam-se com demasiada rapidez aos caprichos da metrópole.

                 Acostumados aos ares da China Continental,  em que o autoritarismo de novo se acentua, sob a presença centralizante do novel líder Xi Jinping, grande admirador de Mao Zedong, os servidores de Beijing, tratam Hong Kong como a colônia que nunca foi, e por isso, habituados aos deletérios costumes da liberdade que a longa presença inglesa aí instituíra, os habitantes de Hong Kong não são servos, e se crêem cidadãos. agarrando-se às liberalidades que a metrópole ocidental lhes soprara.  O respeito à liberdade ora semelha, para os servos de Beijing, especialmente encarregados dessa tarefa que, na prática, é a sua própria negação, como uma aplicação rotineira, tendo presente a própria filosofia que é a da obediência cega à autoridade imperial. Por isso sequer discutem as ordens, por mais prepósteras que sejam, se acaso se dispusessem a pensar e a refletir nas consequências dos atos que lhe são impostos, pois esta é a sua natureza e, portanto, sequer hesitarão em aplicá-las a outrem.

                  Não se vá esperar, por conseguinte, de uma executora como Carrie Lam, que vá pensar se isto é ou não admissível. Ela sabe muito bem a quem deve a sua autoridade, Num sistema como o da atual RPC, os governadores locais não devem contrariar a  instâncias superiores. Nisso reside, de resto, o gérmen da fraqueza do autoritarismo, eis que esta ignorância pode constituir um grande auxílio às forças da liberdade. Não está decerto escrito que a liberdade - que a gente de Hong Kong personifica - vá vencer, mas  essa surpresa da resistência e o valor que ela presume, representa o único imponderável nessa súbita e inesperada vontade de afirmar os próprios valores. São os imprevisíveis ares da liberdade, que os servos da repressão sequer podem compreender, e muito menos combater na arena da política.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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