domingo, 21 de julho de 2019

A Terceirização da Morte


                                    
          Veja ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado,
               No entanto, acredite, quase morreu de bronquite,
               Salvou-o  Rhum Creosotado !

                   Não, meu caro leitor, não é por saudosismo que relembro esse anúncio que teve sua fama, e que na sua aparente ingenuidade nos relembra um mundo que já se foi,  em que no Rio, capital da República, crianças e escolares podiam ir de bonde para os colégios, muitos deles em Botafogo. Os verdes bondes da Light podiam ser lentos, mas eram seguros, tanto no tráfego, quanto na proteção de seus passageiros, que ora vinham nos bancos, ora se penduravam como pingentes nos estribos, e ainda tinham de pagar duas seções como passagem - de resto módica- desse transporte carioca, em que não havia surpresas naquela condução tão lenta, quanto segura em um Rio que não mais existe.
                     Por artes do JK, mais tarde o Rio perderia o galardão de capital da República.  Desde muito, que as Constituições nacionais empurravam o brasileiro para o interior. Tanto fizeram, que acabou surgindo um Presidente que resolveu transformar tal desejo em realidade. Com isso, na década de sessenta, soou a hora de a secular aspiração virar situação.
                       Conheci Juscelino e tive muita honra em desconhecer disposições mesquinhas, em horas escuras da nacionalidade. Decerto,  o Brasil precisava deixar de arranhar o litoral como se fora caranguejo, no dito célebre.
                         No entanto, cada um faz a sua hora - e JK, com sua alegria e bom caráter também carecia ser apoiado naquele escuro instante do exílio por que passava. Já contei essa história por mais de vez. Havido como ladrão pelos "revolucionários", Juscelino não tinha só a simpatia a seu favor. Teria também a história, e as condições do próprio exílio, que desmentiam as atoardas a seu respeito. Não faltavam ordens para que lhe ignorasse a presença. Ao invés, tive prazer em ciceroneá-lo por Paris, e conduzir com o meu carro o seu modesto Simca pelo Bois de Boulogne e o chamado Jardin de l'Acclimatation.
                           Nunca dei menos importância às mofinas determinações que rondavam àquela grande figura humana e política que foi o nosso Juscelino Kubitscheck. Levo ele no coração, que é o lugar que reservamos com brasileiro orgulho ao nosso maior Presidente. Ele nos mostrou sempre que a grandeza é a oportunidade que nos anima a continuar trabalhando pelo Brasil, por mais que o respectivo destino tenha sido marcado pela fatalidade e a descrença dos poderosos da hora. Momentos de JK, eu os levarei comigo, inclusive o de sua apoteótica missa na Catedral de Brasilia, em que vi os lírios do campo, lançados pelo Povo que ali estava não por mandado,  mas por que nele acreditava, a desenhar belas e caprichosas elipses diante de toda gente que lá se reunia, e não por convites oficiais, mas por genuína admiração a nosso maior brasileiro. 
                          Mas voltemos à realidade hodierna, que é a do Brasil atual,  e a do Rio de Janeiro, com seu governador Wilson Witzel e o prefeito escapado do impeachment, Marcelo Crivella. Fala-se muito em milícias (e a tragédia das edificações na Muzema), e agora também - e à parte da insepulta Marielle e de seu motorista Anderson Gomes - no estado do Rio, em que cresce também a milícia, em uma área de 9,7 mil hectares,em seis municípios da Região dos Lagos (de Saquarema a Búzios), está o Parque Estadual da Costa do Sol, unidade de conservação criada em 2011, que ora enfrenta explosão de construções irregulares, muitas delas patrocinadas por milícias.
                        Segundo o Ministério Público, casas são vendidas por R$ 7 mil, com prestações de até R$ 200. Nesse sentido, o promotor Vinicius Lameira diz que a estratégia é ocupar as casas rapidamente, para que fique mais difícil demoli-las. Nesse mesmo sentido, o MP aponta a conivência de servidores do Estado e da prefeitura de Arraial do Cabo.    
                          É decerto enganoso o ar de tranquilidade no Parque Estadual Costa do Sol, com muitas belezas naturais que se estendem por seis municípios na Região dos Lagos, contrasta com um problema já por demais conhecido: a atuação da milícia e do tráfico de drogas. Assim, no parque ecológico com suas restingas, mangues, lagoas e brejos vê crescer dentro dele centenas de casas intrusas, levantadas irregularmente - na terra das afirmações generalizadas - unidade de conservação de proteção integral! - nenhuma construção privada poderia ser lá erguida. No entanto, o poder paralelo da milícia queima áreas com vegetação e multiplica, sobre as dunas, pequenas moradias.
                           Para o promotor Vinicius Lameira, integrante do M.P. (que investiga a ação da milícia na região, assim como o faz a Delegação de Repressão às Ações Criminosas e de Inquéritos Policiais (Draco).: "Essa situação se agravou de 2018 para cá. Casas são construídas da noite para o dia. Dessa forma (a milícia) torna mais difícil a atuação do poder público porque quando a construção já está habitada, o processo de demolição é mais demorado".

 Conclusões.  A polícia do Rio de Janeiro, segundo está consignado, em 30 de maio de 2018,  prendeu Thiago Bruno Mendonça, conhecido como Thiago Macaco, acusado de matar  Carlos Alexandre Pereira Maria (o Cabeça) , que era colaborador do Vereador Marcello Siciliano.
                       Em oito de maio de 2018 testemunha disse à Polícia que o Vereador Marcello Siciliano e o PM Orlando Oliveira de Araújo (Orlando Curicica)  tinham interesse em eliminar a Vereadora Marielle Franco. Motivações : ações da Vereadora de viés comunitário, em áreas de interesse da milícia na Zona Oeste. Nesse sentido, o Orlando Curicica teria dito que a vereadora o atrapalhava e que a situação precisava ser resolvida logo. A ordem para a morte teria partido de cela da penitenciária de Bangu 9, onde Siciliano está preso.
Reconstituição do Crime.  Ela tomou cinco horas (noite e madrugada).  A dita reconstituição foi feita com as armas presumidas da megacídio. Foi usada a submetralhadora MP5  (pode disparar 800 tiros por minuto). 
         Quatro testemunhas participaram da simulação do crime, inclusive assessora parlamentar de Marielle Franco e única sobrevivente, a qual se mudou para fora do Brasil, logo após o megacídio.
            De acordo com a fonte Thiago Bruno Mendonça (Thiago macaco), que é acusado de matar Carlos Alexandre Pereira Mano, o "Cabeça". colaborador do vereador  Marcelo Siciliano.  Thiago macaco seria ligado a Orlando de Curicica, também responsável pela clonagem do Cobalt preto (o carro do crime).
             Major da PM Ronald Paulo Alves Pereira - integrava a cúpula do Escritório do Crime.  Em 12 de março de 2019 - a Polícia prendeu dois PMs suspeitos de participarem do megacídio. As investigações levaram a Ronnie Lessa, de 48 anos, e Élcio Vieira de Queiroz (expulso da PM).  Ronnie Lessa teria sido o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle; por sua vez, Queiroz foi o motorista do veículo do assassínio (o crime foi meticulosamente planejado com três meses de antecedência às mortes).     
              Em 31 de maio de 2019. A Polícia prende Rafael Carvalho Guimarães  e Eduardo Almeida Nunes - responsáveis pela clonagem do carro do assassinato.  Foi também preso o Ferreirinha (Rodrigo Jorge Ferreira), que é acusado de obstruir as investigações do crime.  Fortaleceu-se, outrossim, a hipótese de que  tenha sido um dos mandantes do megacídio Orlando Curicica.
               À margem do histórico das investigações, Juliano Medeiros, presidente do PSOL (diretório nacional)  afirmou que exigirá a condenação da magistrada no Conselho Nacional de Justiça, Desembargadora Marília Castro Neves, por ter acusado Marielle Franco de conivência com o crime.


( Fontes: O Globo e o relato das investigações transcrito pela internet.)

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