Os
três filhos de Jair Bolsonaro estão inseridos no governo do pai. Esse primeiro escândalo
desse novo poder tem mais do que ressaibos de crise monárquica - nos tempos em
que a família e, sobretudo, os filhos do rei exerciam a influência e até mesmo
o mando que é próprio dos próximos do soberano em um universo necessariamente mais estreito do que as administrações modernas,
em que os familiares estão por força
circunscritos aos respectivos ambientes,
em que só tendem a cruzar com os representantes políticos em ocasiões sociais.
Para um
governo republicano, ele começa mal, visto que o filho mais moço, Carlos, já
participava ativamente da política, eis que disporia da senha do pai para o twitter, ficando supostamente à sua
conta a elaboração das mensagens .
Depois da crise das candidatas laranja -
que não é exatamente um bom começo para uma administração, que supostamente
desejaria pôr a ordem na casa - o alijamento
de Gustavo Bebiano representa um acontecimento que, além de afastar alguém com
experiência político-administrativa, manda a mensagem errada para os inúmeros
atores desse novíssimo poder.
Confiar aos filhos jovens um poder
político que decorre do sangue - pois nada tem a ver com experiência política -
insere na química governamental enorme influência a familiares, que só pode
pressagiar mal acerca de seus efeitos políticos e administrativos, sinalizando
que nesse governo há uma força que fala mais alto do que a experiência e o
aporte políticos, pois condiciona, através do ouvido do soberano, as suas eventuais
decisões.
Para que se tenha noção de o que o
presidente Jair Bolsonaro de saída perde, é a indispensável isenção em bater o
martelo - que não deve, em princípio, ser acionado por motivações de sangue familiar,
pois não estamos em proto-monarquias e devemos
ser guiados pelo interesse político
da Nação.
E, premonitoriamente, a intenção de
prevenir que de saída se enveredasse por um caminho que rescende aos núcleos
familiares e à proximidade, não com o Presidente, mas com o pater-familias, foi
que grande parte do círculo de poder - que é político, mas também militar, dada
a origem presidencial - pertence à hierarquia das Forças Armadas, e aos
componentes políticos desse novo governo que deve ser republicano. E a mor
parte desses elementos com voz em capítulo se manifestou em favor de uma administração que seja governada pelo
interesse público-partidário, e não como se subsistisse na Administração
Bolsonaro uma espécie de corte em que os filhos detenham a última palavra sobre
a permanência dos ministros e dos demais altos personagens, que porventura
julguem lhes cruze o caminho.
(
Fontes: Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo)
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