Dez anos passados após
a conquista no Supremo, os cerca de 25 mil moradores indígenas se preparam para
enfrentar o presidente Jair Bolsonaro que quer a volta dos fazendeiros não-indígenas e a abertura da área para exploração
mineral. Em Roraima, passados dez anos,
depois de o STF ter confirmado a demarcação do território, cerca de 25 mil
moradores se preparam para enfrentar o presidente.
Os argumentos de Bolsonaro e de assessores,
como o general (e ministro) Augusto
Heleno (GSI), são de que a Raposa e outras terras indígenas são "zoológicos humanos" aonde os
indígenas vivem na "idade da pedra"
e impedem o desenvolvimento, além de representar uma ameaça à soberania nacional.
Nos três dias em que a reportagem da
Folha (Fabiano Maisonnave) visitou a
Surumu, uma das quatro regiões da Raposa, as comunidades, da etnia macuxi,
faziam questão de mostrar o rebanho de gado, a principal atividade econômica, e
suas plantações mecanizadas, além de oferecer produtos locais, como peixe,
farinha de mandioca, manga, melancia, banana, pimenta,laranja, caju - e muita
carne vermelha.
"Estamos vivendo bem, não
estou morrendo de fome nem meus filhos estão morrendo de fome", disse a
vaqueira macuxi Elisa da Silva, 42. "Se esse presidente vier aqui com
soldado, tenho a minha flecha."
A vaqueira não está sozinha no
recado a Bolsonaro. Apesar de haver obtido 72% dos votos em Roraima, ele perdeu
para Fernando Haddad (PT), nos três municípios da Raposa: Paracaima, Normandia
e Uiramutã.
Localizada no nordeste de
Roraima e com acesso relativamente fácil por estradas, a Raposa Serra do Sol é
quase toda coberta pela vegetação de lavrado (savanas) um pasto natural para o
gado. Ou seja, ao contrário de outras regiões da Amazônia, a pecuária ali não
toma o lugar da floresta.
Depois da desintrusão (saída) mediante indenização dos pecuaristas e
arrozeiros brancos, em 2010, os indígenas retiraram a maior parte das cercas
deixadas pelos fazendeiros, voltando a ter acesso a todo o seu território
ancestral, como lagos para pesca e campos de caça.
Atualmente a Raposa e a
vizinha terra indígena São Marcos somam mais de cinquenta mil cabeças de gado,
segundo contagem de outubro do Governo de Roraima, o equivalente de 6,2% do
rebanho estadual.
"Hoje, os indígenas participam da economia do estado produzindo bezerro,
engordados nas regiões de fazenda de
Roraima", diz o veterinário Sylvio Botelho Neto, que há 8 anos acompanha a
pecuária na Raposa Serra do Sol, como funcionário do Estado.
Ele elogiou manejo sanitário do rebanho, principalmente por se
tratar de uma área de fronteira com dois
países, a Venezuela e a Guiana. Hoje
Roraima é reconhecida como área livre de febre aftosa, com vacinação.
(extraído da reportagem da Folha de S. Paulo, de autoria de Fabiano Maisonnave)
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