Com a alta hospitalar, Bolsonaro terá ainda cuidados no Palácio
presidencial. Tal se deve à circunstância de que ainda existem riscos
associados tanto à cirurgia, quanto ao tempo que passou no Einstein.
"Por mais que se tenha cuidado em
lavar as mãos e usar máscara, ele teve contato com bactérias hospitalares que
passam a fazer parte da flora da pele e
do intestino dele", explica Diego Adão Fanti Silva, cirurgião do
aparelho digestivo da Unifesp.
Segundo ele, tais bactérias ficam
colonizando o organismo por um período e, eventualmente, podem causar uma nova
infecção, mesmo após a alta, uma vez que a recuperação do sistema imune e a
melhora da inflamação do corpo ocorrem de forma gradual.
O risco estimado na literatura
médica é baixo, menor que 5% , e vai
diminuindo com o tempo. Por isso, nas
primeiras semanas após a alta é preciso atenção aos sina-is infecciosos, como
indisposição, febre, tosse e dor abdominal.
Apesar da "boa evolução clínica"
assinalada pelo boletim, os médicos não in-formaram, porém, previsão de alta.
Sem embargo, assessores cogitam a possibilidade de que ele possa sair já nesta
quarta-feira, dia treze de fevereiro.
O infectologista Artur
Timerman, do hospital Edmundo Vasconcelos, afirma que o período mais
crítico será nos próximos dois meses,
tempo consumido para que a flora intestinal nativa se recomponha.
"O fato de tido uma
alteração no trânsito normal do intestino faz com que o microbioma já mude
bastante e há risco de novas infecções." Nesse sentido, será fundamental
uma dieta equilibrada, com fibra e bastante hidratação, para que o intestino
funcione todos os dias."Um trânsito mais lento pode expô-lo a risco de
infecções".
Também é importante que a
dieta seja antifermentativa (sem frituras, alimentos gordurosos, refrigerantes
e bebidas alcoólicas) e fracionada para não distender muito o abdome e retardar
o esvaziamento gástrico, segundo Carlos Sobrado, professor de
coloproctologia da Faculdade de Medicina da USP.
A cirurgia, as infecções e
o fato de ter ficado acamado tanto tempo causam atrofia da musculatura e
acúmulo de líquidos, principalmente na região das pernas.
"Por isso, é
provável que o presidente continue com sessões de fisioterapia motora e
respiratória em casa, associada a orientação nutricional, para garantir a
recuperação da massa magra perdida. Isso também auxilia na melhora do
sistema imune e da inflamação", explica Fanti Silva.
Outro cuidado
adicional são com os cortes abdominais da cirurgia em si e do local onde estava
instalada a bolsa de colostomia, retirada na cirurgia. "No local da bolsa,
pode sobrar uma colonização (de bactérias) da pele e voltar a infectar",
diz Sobrado.
Também há riscos
(menos de 5%) de novas aderências (de
uma alça ou tecido grudar no outro) que são inerentes à cirurgia do intestino.
Segundo Fanti
Júnior, elas podem acontecer a qualquer momento e não existe medida preventiva.
"Quando acontecem, mais de 80% podem ser resolvidas sem necessidade de
cirurgia. O paciente precisa ficar atento se apresentar náuseas, vômitos,
distensão abdominal e parada de eliminação de gases e fezes."
Por fim, outro
risco é o aparecimento de uma hérnia no local opera-do. Bolsonaro fez ao todo
três cirurgias, com abertura e fechamento do tecido fibroso da parede
abdominal. A cicatrização tende a ser mais lenta e inicialmente frágil.
Com isto,
existe o risco de abertura deste tecido e desenvolvimento de uma hérnia incisional. As chances estimadas são de 15% - maiores nos
primeiros seis meses e com redução gradativa depois desse período.
"Por
isso, deve-se evitar grandes esforços, como carregar peso ou fazer musculação.
O repouso também é ruim. O paciente deve
fazer exercícios leves para fortalecer a
musculatura sem aumentar muito a pressão do abdome", afirma o cirurgião Fanti Silva.
O período
de internação de Bolsonaro tem sido
marcado por uma série de imprevistos que retardaram a sua alta, inicialmente
prevista para acontecer dez dias depois da cirurgia. Entre eles, houve mudança
da técnica cirúrgica, infecção que levou à paralisação do intestino delgado e
uma pneumonia.
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário