Oito
funcionários subalternos da Vale - responsáveis pela segurança em Brumadinho -
foram presos temporariamente.
Estão sendo investigados para determinar sua eventual participação em
"centenas de crimes" de homicídio qualificado.
Até
ontem, existiam 166 mortos e 144
desaparecidos (em especial aqueles que se achavam no refeitório na hora da
avalanche da lama)
Os
pedidos de prisão foram baseados em e-mails,
que indicariam que a minera-dora - e por conseguinte a sua direção - sabia de
problema na estrutura da barragem.
Para o Ministério Público de Minas, não houve acidente, mas crime doloso
(com intenção) e por isso é preciso investigar até a cúpula da Vale."Neste
momento, é necessária a tutela da investigação , para que se apurem todos os responsáveis pelo ato, se aqueles que ocupam os cargos mais
relevantes da Vale S.A. tinham
conhecimento da situação", escreveu
o juiz Rodrigo Heleno Chaves, de Brumadinho, na sentença que autorizou as
prisões temporárias por trinta dias. "É sim, possível, que os oito
funcionários, mesmo não querendo diretamente que o resultado ocorresse (a
tragédia) tenham assumido o risco de produzi-lo,pois já o haviam previsto e
aceitado as suas consequências."
Entre os presos estão quatro gerentes (dois deles, executivos), e
quatro integrantes das respectivas
equipes técnicas da barragem: Joaquim Pedro de Toledo; Renzo Albieri Guimarães
Carvalho: Cristina Heloiza da Silva
Malheiros; Artur Bastos Ribeiro;
Alexandre de Paula Campanha; Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo;
Hélio Márcio Lopes da Cerqueira; e Felipe Figueiredo Rocha.
A solicitação tomou por base trocas de e-mails entre funcionários da
Vale e da consultoria alemã Tüv Süd - que atestou a estabilidade da estrutura.
Anteriormente, quatro funcionários da empresa haviam sido detidos pela
investigação - ontem, o juiz negou as prisões de outros quatro técnicos da
empresa alemã, solicitadas pelo MP.
Na decisão, o juiz anotou que "diante de todas as anomalias
verificadas na barragem B1 (Mina Córrego do Feijão) desde meados de 2018,
aliadas à alteração drástica nos piezômetros (medidores de água) verificada em
janeiro de 2019, aparentemente não havia outra alternativa aos funcionários da
Vale senão a de acionar o Paebm (Plano
de Ação de Emergência para Barragens), com imediata evacuação da área".
Saliento, por isso, que as fundadas razões de autoria do crime de homicídio
qualificado dos oito funcionários da
Vale ora representados fundam-se na concreta possibilidade da assunção
do risco de produção do resultado por eles... Em um país que se pretende sério,
fatos com tal envergadura e seriedade, com consequências nefastas para a
sociedade, merecem total e profunda apuração" disse o juiz.
"Representantes da empresa afirmam ter sido um acidente, mas temos
a convicção de que houve um crime doloso", disse o promotor William Garcia Pinto Coelho, da
área criminal da força-tarefa que investiga a tragédia. Segundo o promotor
Leandro Wili, responsável por cumprir um
mandado de busca na sede da Vale, o objetivo foi recolher documentos do
Conselho Administrativo da Vale.
"Queremos saber como isso foi discutido na empresa. Se isso chegou
ao Conselho, aos órgãos da cúpula."
Pressão. Nos e-mails, que dão
base às prisões, o MP vê pressão por parte de representante da mineradora para
que o laudo de segurança da barragem fosse assinado. O promotor afirma que a
palavra "blackmail" - que significa chantagem - foi citada.
Todos os presos ontem tinham, segundo o promotor, algum conhecimento de
que havia problemas com a barragem. "Houve um conluio de forma que fosse
escondido do poder público a situação real da barragem. Funcionários
participaram ativamente para dissimular a situação",
disse. Oficialmente, Tüv Süd e Vale
dizem colaborar com as apurações."
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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