sábado, 9 de fevereiro de 2019

Justificar o injustificável ?


                                            
         Em carta aberta, publicada pelo jornal Le Monde, o vice-primeiro ministro italiano, Luigi di Maio, do partido dito antissistema Movimento Cinco Estrelas, tentou justificar o seu inesperado encontro com grupo de integrantes dos "coletes amarelos", como se fosse uma reação às "políticas ultraliberais adotadas por políticos de direita e de esquerda na França, que "empobreceram a vida dos cidadãos e reduziram drasticamente o seu poder aquisitivo".
           Na aludida correspondência, di Maio reitera que o governo italiano "considera a França um país amigo e o seu povo, com a sua milenar tradição democrática,um ponto de referência em nível mundial para a conquista de direitos sociais e civis."
            Di Maio acrescenta que sempre considerou a "França e seu sistema de Estado provedor  como a mais brilhante estrela dos direitos sociais europeus. Não me surpreendeu que o povo francês tenha demonstrado sinais consideráveis de mal-estar em vista do desmantelamento de alguns destes direitos".
             "Foi por este motivo que quis me reunir com representantes dos coletes amarelos", declara Di Maio. "Porque não acredito que o futuro da política europeia está nos partidos de direita ou de esquerda, ou nestes partidos que se dizem 'novos', mas no fim de contas, não são nada mais que a continuação da tradição."
              O encontro do italiano com um dos porta-vozes dos coletes amarelos, Christophe Chalençon, e com manifestantes que concorrerão nas eleições para o Parlamento Europeu em maio provocou uma grave crise diplomática entre os dois países.Então, Di Maio disse que "o vento da mudança cruzou os Alpes". A França convocou o seu embaixador em Roma para consultas, após chamar a atitude do italiano de "provocação inadmissível", alegando que interferia em sua política interna.  Os dois países vizinhos não registram desentendimento desse tipo desde o fim da Segunda Guerra.
                 - Esta foi uma ingerência indesejada, um gesto inamistoso de pessoas que se acredita serem aliadas - declarou a ministra francesa de Relações Europeias, Nathalie Loiseau.
                  Em junho, o Movimento Cinco Estrelas e a ultradireitista Liga, do também Vice-premier Matteo Salvini, formaram um governo de coalizão. As duas siglas, porém, ainda divergem entre si."
                  Não é a primeira vez que o líder do populista "Movimento Cinco Estrelas" faz uma aberta provocação do governo francês, desrespeitando uma regra básica da democracia nas relações estatais. A sua intromissão agora em apoio ao movimento dos coletes amarelos rompe todas as regras de relações inter-estatais, máxime com um país que como a Itália, igualmente participa da Comunidade Europeia. Soa como provocação cujos objetivos são por certo muito difíceis de determinar, pois desrespeitam regras mínimas de coexistência entre estados irmanados por uma super-organização com sede em Bruxelas. Ao invés, por ignorância ou falta de consciência política específica,  pare-cem defender o princípio da cissiparidade ultra-fronteiras, vale dizer, o germen da desunião e do desrespeito dos governos vizinhos, que seriam sujeitos à respectiva intromissão, quando tal aproveitar à outra parte, qualquer que ela seja. Não há princípio por certo mais objetivamente energúmeno do que este.

( Fonte: O Globo )

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