Em
carta aberta, publicada pelo jornal Le Monde, o vice-primeiro ministro
italiano, Luigi di Maio, do partido dito antissistema
Movimento Cinco Estrelas, tentou justificar o seu inesperado encontro com
grupo de integrantes dos "coletes amarelos", como se fosse uma reação
às "políticas ultraliberais adotadas por políticos de direita e de
esquerda na França, que "empobreceram a vida dos cidadãos e reduziram
drasticamente o seu poder aquisitivo".
Na
aludida correspondência, di Maio reitera que o governo italiano "considera
a França um país amigo e o seu povo, com a sua milenar tradição democrática,um
ponto de referência em nível mundial para a conquista de direitos sociais e
civis."
Di
Maio acrescenta que sempre considerou a "França e seu sistema de Estado
provedor como a mais brilhante estrela
dos direitos sociais europeus. Não me surpreendeu que o povo francês tenha
demonstrado sinais consideráveis de mal-estar em vista do desmantelamento de
alguns destes direitos".
"Foi por este motivo que quis me reunir com representantes dos
coletes amarelos", declara Di Maio. "Porque não acredito que o
futuro da política europeia está nos partidos de direita ou de esquerda, ou
nestes partidos que se dizem 'novos', mas no fim de contas, não são nada mais
que a continuação da tradição."
O encontro do italiano com um dos porta-vozes dos coletes amarelos,
Christophe Chalençon, e com manifestantes que concorrerão nas eleições para o
Parlamento Europeu em maio provocou uma grave crise diplomática entre os dois
países.Então, Di Maio disse que "o vento da mudança cruzou os Alpes".
A França convocou o seu embaixador em Roma para consultas, após chamar a
atitude do italiano de "provocação inadmissível", alegando que
interferia em sua política interna. Os
dois países vizinhos não registram desentendimento desse tipo desde o fim da
Segunda Guerra.
- Esta foi uma ingerência indesejada, um gesto inamistoso de pessoas que
se acredita serem aliadas - declarou a ministra francesa de Relações Europeias,
Nathalie Loiseau.
Em junho, o Movimento Cinco Estrelas e a ultradireitista Liga, do também
Vice-premier Matteo Salvini, formaram um governo de coalizão. As duas siglas,
porém, ainda divergem entre si."
Não é a primeira vez que o líder do populista "Movimento Cinco
Estrelas" faz uma aberta provocação do governo francês, desrespeitando uma
regra básica da democracia nas relações estatais. A sua intromissão agora em
apoio ao movimento dos coletes amarelos rompe todas as regras de relações
inter-estatais, máxime com um país que como a Itália, igualmente participa da
Comunidade Europeia. Soa como provocação cujos objetivos são por certo muito
difíceis de determinar, pois desrespeitam regras mínimas de coexistência entre
estados irmanados por uma super-organização com sede em Bruxelas. Ao invés, por
ignorância ou falta de consciência política específica, pare-cem defender o princípio da
cissiparidade ultra-fronteiras, vale dizer, o germen da desunião e do
desrespeito dos governos vizinhos, que seriam sujeitos à respectiva
intromissão, quando tal aproveitar à outra parte, qualquer que ela seja. Não há
princípio por certo mais objetivamente energúmeno do que este.
(
Fonte: O Globo )
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