Theresa
May, segundo propalam seus apoiadores, coleciona derrotas mas se mantém no
cargo. Ela amargou decerto a maior delas, mas continua a muddle through. Com efeito, ao assumir pensara possível dispor de
ainda maioria mais forte, mas o resultado foi humilhante. Desperdiçou a
existente maioria conservadora, e passou a depender de um pequeno partido
protestante norte-irlandês.
De
uma certa forma, ela se tem defendido com a própria mediocridade, e a atual
confusão na política inglesa. Seria como se fosse possível erigir a própria
ínsita fraqueza em força política.
Assim, ela defende o bréxit, essa débil maioria originária de um referendo
minoritário, que lhe outorga um mandado bastante duvidoso.
Celebrado em pleno verão, sob as cansadas vistas do medíocre David
Cameron - que terá feito se debater no túmulo os líderes ingleses que haviam
apostado (e ganho) com a partida do antes inamovível opositor Charles de Gaulle - e
preparado com o morno menosprezo desse fraco Primeiro Ministro, que pagaria com
a própria imprudência (conjugada com sua dispéptica arrogância, que pensara
repetir a inútil proeza do antecessor Tony Blair) e organizar - sabe-se lá pra quê - mais um enésimo
referendo.
A
dádiva dessa consulta, organizada sob a modorra estival seria a fraca mas
determinante (para o campo conservador) maioria, que forneceria à direita
implacável uma fraquíssima maioria para o bréxit,
julgada pela direita inglesa suficiente para de novo sonhar com a revanchista
volta de uma Inglaterra dos velhos tempos (aqueles que só tornam nas cantigas
de ninar).
Cantam loas à May, como se ela fosse da têmpera dos que tinham afinal prevalecido contra as
renitentes esperanças da reação. Ainda
em 2016, antes do referendo estival, a deputada trabalhista - e favorável à
permanência na U.E. - Jo Cox seria covardemente assassinada por um morador de
rua. As simpatias do Labour em favor
desse antigo propósito da esquerda inglesa - permanecer no que havia sido o desígnio
dos próceres de afastar-se do atraso conservador - têm sido estranhamente
contrariadas pelo líder trabalhista Jeremy Corbyn.
Talvez o apagado Cameron reflita melhor o
espírito tory de acalentar a
esperança de uma Inglaterra afinal livre do abraço comunitário - que ele tão
bem expressava ao atravessar, com passos lestos e o ar incomodado, os largos
salões de Bruxelas. Essa suposta esperança da atual Primeiro Ministro, que se
refugiaria na capacidade de transformar derrotas - como a tentativa de
afirmar-se líder, que daria na perda da maioria e a submissão a um pequeno
partido da direita irlandesa - em
questionáveis vitórias, continuaria em transformá-la na protagonista do
atraso, que de alguma forma - inda que estranhíssima - contorna humilhações,
que acabariam com outros rivais, enquanto ela avança, colecionando derrotas (como
aquele revés esmagador) e o sorriso magro, de pobre coitada, que espera sempre
na próxima volta do caminho.
Entrementes, ela cerra a porta de um novo
referendo, que o povo inglês e a juventude favorecem, na esperança de uma
Europa mais aberta e menos confinada, de o que promete a sua britânica versão
de mais um invencível bréxit, sem outros
grandes salões na U.E. e a aconchegante mediocridade do velho Reino Unido que
os líderes ingleses do pós-de Gaulle haviam pensado possível deixar para trás. Sem embargo, apesar da advertência
do ex-premier John Major - de que a
juventude inglesa não irá perdoar nem esquecer - would neither forgive nor forget - a volta desse passado - que o
sorriso magro, desenxabido da May reflete de modo tão sinuosamente assustador -
está aí a esperar os jovens com um futuro tão passadista quanto sem esperança.
(
Fontes: Estado de S. Paulo, The Independent )
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